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Bala na Cesta

No coração de Leo Figueiró, Botafogo escreve outro capítulo da mais bela história deste NBB

Fábio Balassiano

11/05/2019 21h53

Estive no Tijuca neste sábado e vi um dos melhores jogos do NBB nesta temporada. Em um calor descomunal e diante de uma arquibancada cheia (de rubro-negros), o Botafogo teve sangue frio, calma, perseverança, um coração de leão e venceu o Flamengo por 81-77 para se manter vivo na semifinal. O Fla agora tem 2-1, e o jogo 4 será na terça-feira, 21h, em General Severiano.

Poderia, ou talvez deveria, falar da parte tática de um jogo que contou com surreais 14 lances-livres errados por parte do Flamengo, 21 pontos de Cauê, 17 de Jamaal e uma defesa pra lá de consistente do Botafogo durante todo jogo, mas acho que vale destacar uma pergunta que fiz ao técnico Leo Figueiró no final do duelo:

– Leo, o que você disse pro seu time um minuto antes de vocês virem pra quadra? As suas últimas palavras antes daquela que poderia ter sido a última partida da sua temporada?
Leo respirou, lacrimejou um pouco, embargou a voz e respondeu:
– Cara, eu disse a eles que ao contrário dos últimos jogos dessa vez não era pelo Botafogo, pela torcida, pelo basquete, pelo esporte, por nada. Nós merecíamos jogar por nós, pelo time, pela família que construímos. Pela união que tivemos, pela história que escrevemos juntos, por tudo o que somos. Era sair pra quadra, lutar, se divertir e jogar pela equipe. Por 20 caras, jogadores e comissão técnica, que se mataram do começo ao fim dessa temporada. E assim fomos.

Acho que não precisa falar mais nada, né? O Flamengo não perdia uma partida de NBB para uma equipe carioca desde 2014, quando por uma dessas coincidências foi derrotado por um Macaé que também tinha Jamaal inspirado. O Botafogo, com orçamento que deve ser 5, 10 vezes menor que o de seu maior rival, estava contra a parede e optou por não jogar a toalha. Em um país que dá sinais de desistência ao primeiro sinal fechado, dá gosto ver um time que optou por acreditar. E que isso deu certo. Não pelo resultado em si, mas pela entrega.

Muito provavelmente o Botafogo não será o campeão do NBB. Possivelmente o Botafogo não chegará à final do NBB. Talvez o Botafogo que venceu neste sábado não tenha força para vencer novamente na terça-feira e esteja fora do NBB na quarta-feira. E daí? O esporte e a vida não são binários. Não é vencer ou perder. É como se vence. É como se perde. É como se conquistam as coisas. É como se superam os limites. É a mensagem que você passa – e a mensagem que inspira. Entre o emissor e o receptor da mensagem existe o meio, a forma, o método. A do Botafogo neste NBB é a mais emotiva possível – a que sempre fez parte da história do clube.

O Botafogo de Leo Figueiró escreve a mais bela história deste NBB justamente por brigar contra o improvável. Por fazer MUITO mais do que dele se espera. Por subverter toda e qualquer lógica a cada partida. Por se negar a desistir. Por querer um dia a mais. Por jogar contra uma verdadeira seleção (o Flamengo) sem o menor medo, sem a menor cerimônia, com todo atrevimento possível. Por estar entre os quatro melhores do Brasil, uma baita conquista, e querer mais, desejar mais, sonhar com mais. Não é o troféu que vale, mas sim a forma como você passou pelo caminho.

Se ganha, sim, na tática, na técnica, na organização. Ninguém é maluco de dizer o contrário. Com o coração de Leo Figueiró o Botafogo não faz só isso. O time se nega a perder, a se entregar, a terminar uma temporada mágica e histórica pro clube sem pedir bis.

É de se emocionar, sim. Sendo botafoguense ou não.

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