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Bala na Cesta

Com VAR, mas sem sucesso: como a arbitragem da NBA chegou nesse ponto?

Fábio Balassiano

29/04/2019 06h03

HENDERSON / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP

Foi um grande jogo de basquete ontem à tarde em Oakland. Na reedição da final do Oeste de 2018, Golden State Warriors e Houston Rockets se engalfinhavam em um jogo disputado, com defesa, intenso, com disputa lance e lance e… polêmica na arbitragem do começo ao fim (como tem sido frequente na NBA nos últimos anos aliás).

A vitória ficou com os Warriors nos 104-100 (35 pontos do genial cestinha Kevin Durant), mas ninguém está falando do jogo porque os juízes fizeram uma besteira atrás da outra do minuto 1 ao minuto 48. E dá pra começar pelo fim:

No lance fatal da partida, o Houston, três pontos atrás, conseguiu roubar a bola de Kevin Durant e partiu pro ataque. Era a chance do empate. Bola na mão de James Harden. Ele sobe pro arremesso, tem um choque com Draymond Green e arremessa. A arbitragem não marca falta. Eu também não marcaria, mas há algo interessante aí: em lances IDÊNTICOS durante o jogo inteiro os juízes também não deram falta. Qual o critério dessa rapaziada do apito? Reparem bem em quão bizarros os contatos de Klay Thompson no Barba são. Alguns, inclusive, com o teor de marcação bem duvidoso – algo que pode provocar lesão na queda do adversário:

A falta de critério e também pesos e medidas diferentes durante os playoffs gerou um tuíte bem divertido e crítico de Rudy Gobert, pivô francês do Utah Jazz, eliminado pelo Houston Rockets na primeira rodada: "Meus companheiros não tinham a permissão para marcar os arremessos assim (de James Harden) dessa maneira. Ou talvez esteja maluco e é apenas uma questão em relação aos ângulos das câmeras". E quem há de dizer que Gobert está errado?

O pior, ao meu ver, veio depois. Chris Paul pegou o rebote ofensivo após o erro no arremesso de Harden, se deslocou com a bola, tentou passar para novo arremesso do perímetro, mas teve seu braço entrelaçado por Klay Thompson. Pra mim, lance bem claro de falta. Juiz a 50cm do armador do Rockets. Marcou? Não. Paul ficou nervoso, deu uma peitada no apitador e foi expulso. Pergunta importante: CP3 será suspenso? Se não, é absurdo completo. Por isso James Harden não poupou críticas em sua entrevista coletiva no final da partida:

"Eu vou ser educado e bem calmo porque não quero ser multado por aqui pela NBA. Mas eu só queria uma chance real e justa de disputar contra o melhor time da liga. Na boa, não é pra me favorecer, nem a meu time. É apenas pra apitar aquilo que é pra ser apitado. Se fizerem isso, eu durmo tranquilo com o resultado da quadra", disparou o camisa 13.

HENDERSON / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP

Antes disso tudo houve faltas mal marcadas e não marcadas a favor das duas equipes. O Golden State não é beneficiado. O Houston não é roubado. E vice-versa. O problema da NBA é bem maior e não endereçado há séculos: a falta de qualidade dos juízes.

Em uma liga bilionária, com investimento constante em tecnologia e inovação, com uma central de vídeo em tempo real para TODOS os jogos (o famoso VAR) nas cercanias de Nova Iorque e um monitoramento de perto de todos os sopradores de apito a gente esperava ver um pouco mais de qualidade. Olhem que lance BIZARRO em cima do próprio Chris Paul minutos antes (falta claríssima em cima de Shaun Livingston no minuto 02:20):

Apenas como detalhe pra diferenciar o que acontece no futebol brasileiro, por exemplo. Na NBA, e isso também ocorre no NBB quando há a possibilidade de utilização do vídeo (nas semifinais a partir de agora): nos dois campeonatos não se analisam lances subjetivos (faltas, como no caso de Chris Paul), mas sim objetivos: estouro de cronômetro, pé na linha pra bola de três, desvio de bola, essas coisas.

Lances interpretativos não se pode ver, porque dependendo do ângulo ou do número de repetições a avaliação muda bastante (o de Chris Paul, no caso, não poderia ser revisto; o de James Harden, antes, tampouco). A questão está menos na tecnologia e mais na (falta de) qualidade dos juízes, obviamente. O técnico Mike D'Antoni, do Rockets, falou sobre isso depois da partida:

"Eu não posso ir pro vestiário e na volta do intervalo um dos juízes me dizer que foram alertados pela Central da NBA que houve 4 erros contra meu time. Isso pode significar até 12 pontos. É seríssimo. Como podemos confiar nisso? Qual a atitude que será tomada pela NBA para evitar que problemas como este deste domingo aconteçam? Creio que hoje (ontem) passaram bastante do limite não só com o nosso time, mas em relação ao espetáculo", afirmou o treinador.

E pra não deixar dúvida: este blogueiro é 300% a favor da tecnologia, do VAR, da Central de vídeo. De tudo que for pra facilitar a vida do árbitro. O problema da NBA é que a qualidade das imagens, dos replays, das centenas de câmeras não está sendo acompanhada pela qualificação dos árbitros. É um tema que a gestão de Adam Silver, o comissário de uma das melhores ligas esportivas do planeta, ainda não tratou com carinho.

Pra quem vê a temporada inteira, e não somente os playoffs, nenhuma surpresa. Dia sim, o outro também, há polêmicas grandes com as arbitragens, cada vez mais contestadas e, em um momento de instantaneidade e câmeras por todos os lados, também bastante vigiadas. Como a NBA deixou a situação chegar nesse ponto? O que ela está esperando pra agir com veemência? Não acho que os juízes influenciem diretamente nos resultados dos jogos porque eles erram muito e pra todos os lados, mas que deixa todo mundo com os nervos à flor da pele isso é bem óbvio.

HENDERSON / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP

É uma pena, porque ao invés de estarmos aqui falando sobre Kevin Durant, Steph Curry, Chris Paul ou James Harden na quadra só o que se vê em programas americano no pós-jogo ou nas redes sociais são análises de horas e horas sobre as falhas da arbitragem (e comentaristas de arbitragem ganhando mais espaço que analistas técnicos / táticos, o que dá bem o tom da quantas anda a capacidade dos juízes de fazer besteira – altíssima…). E olhem o que Durant aprontou neste domingo, que maravilha:

Que tal agir um pouco, Adam Silver? Já passou da hora…

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