Como a grave lesão de Breanna Stewart mostra que a WNBA ainda está longe de ser um bom produto
No domingo, em Sopron, Hungria, jogava-se a final da Euroliga Feminina entre os russos Dynamo Kursk e o UMMC Ekaterinburg (vitória deste por 91-67) quando ainda no primeiro tempo aconteceu isso aqui com Breanna Stewart:
Sim, sim. No final do primeiro tempo a longilínea ala de 1,93m do Kursk subiu para o arremesso, desceu mal e rompeu o tendão de aquiles, deixando consternados suas companheiras, seus técnicos, o time e sobretudo a comunidade inteira do basquete. Não custa lembrar algumas coisas antes de seguir com uma análise um pouco mais profunda sobre o cenário:
1) Breanna Stewart ganhou 4 títulos Universitários por Connecticut antes de seguir para a WNBA em 2016;
2) Aos 24 anos, ela já é considerada uma das melhores jogadoras do planeta;
3) Em 2018, em seu terceiro ano na WNBA, ela levou o seu Seattle Storm ao título sendo a MVP de temporada regular, finais e uma das cestinhas do campeonato (médias de 21,8 e 8,4 rebotes por partida);
4) Ela já estava integrada à seleção americana, sendo ouro olímpica em 2016, no Rio de Janeiro, e também campeã mundial na Espanha (2014) e Turquia (2018);
Acho que já dá pra ter uma noção do que a lesão dela representa, né? A menina é um diamante colossal, alguém fora de série em termos de talento, potencial físico e entendimento do jogo. Breanna é hoje um dos rostos mais conhecidos do basquete feminino mundial, alguém que poderia colocar a modalidade em outro patamar com seu carisma e sua forma absurdamente incrível de jogar. Agora ela ficará de fora por quase um ano das quadras e isso fala muito sobre como a WNBA, a liga profissional dos Estados Unidos, está longe de ser um produto minimamente confiável / rentável / desejado pelas próprias jogadoras.
Se você não notou, Breanna estava atuando na Europa, algo que 99% de suas companheiras já fazem nas "férias" da WNBA, campeonato que dura, se tanto, quatro meses e que começa em pouco mais de um mês (24 de maio). Algumas optam por algo diferente, como se aventurar na NBA em funções de fora das quadras (Sue Bird, que joga com Stewart no Seattle Storm, está por exemplo trabalhando junto ao gerente-geral do Denver Nuggets). Tem de tudo um pouco – cada uma se vira como pode, como quer ou como o esporte feminino lhe permite.
E aí é que a porca literalmente torce o rabo: até quando a WNBA, que paga bem pouco pelas atletas (o salário médio na WNBA é de US$ 75 mil – o MÍNIMO na NBA, por exemplo, é de mais de US$ 1,2mi), continuará a tratar seu produto de forma tão conservadora? A lesão de Breanna poderia, sim, ter acontecido nos EUA, na Rússia, no Brasil ou em qualquer lugar. A grande questão que espanta é que, agora, Stewart, melhor jogadora do último campeonato, não poderá defender o Seattle Storm justamente porque se lesionou em… outro campeonato.
Como fica o Seattle Storm em relação a isso? Como fica a própria WNBA em relação a isso? Como ficam os torcedores em relação a isso? E o principal: a liga norte-americana mudará algo de agora em diante como forma de proteger o seu principal ativo, ou seja, suas atletas? Pelo visto a resposta ainda é "não" e isso é triste pra caramba.
Enquanto a WNBA não oferecer condições mínimas de trabalho (salário condizente, calendário anual tal qual acontece no mundo todo, exposição etc.) suas jogadoras rumarão para a Europa e Ásia em busca de oportunidades profissionais que não há nos Estados Unidos.
Será que os Estados Unidos, onde há o melhor basquete do mundo e também a melhor gestão esportiva do planeta, não é mesmo capaz de organizar uma liga profissional do esporte da bola laranja que dure o ano todo, oferecendo às atletas uma condição profissional aceitável? A resposta, até agora, é "não" e isso é lamentável demais.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.