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Bala na Cesta

O cúmulo do absurdo no esporte brasileiro - técnico Guerrinha é suspenso por doping de... seu atleta

Fábio Balassiano

23/02/2019 05h05

Confesso que quando li a notícia no Globoesporte.com ontem eu cocei o olho. Achei que estava sonhando – ou que estava maluco. Shamell, ala de Mogi, foi punido por dois meses (já cumpridos) por caso de doping na edição passada do NBB. Até aí, tudo bem (com direito a #ateaitudobem). O bizarro, o de cair o queixo, veio logo depois.

O Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJDAD), em Brasília, decidiu estender a punição para o técnico Guerrinha e seu assistente, Danilo Padovani. O período assusta: SEIS MESES. Sim, seis meses. O médico do Mogi, Marcus Vinicius Porcelli, responsável pela medicação, foi absolvido. De acordo com a publicação, "treinador e auxiliar foram punidos devido à presença de Shamell na súmula da partida contra o Joinville, pelo NBB 10, no dia 18 de fevereiro do ano passado, data em que foi feito o exame que detectou a presença da substância betametasona, proibida pelo atual código da Agência Mundial Antidopagem, a Wada". Na partida, aliás, Shamell nem entrou em quadra, mas seu nome constava da súmula – esta assinada por Guerrinha e Danilo.

Sem entrar no mérito jurídico, já que este não tenho capacidade de analisar, me parece bem absurdo que um técnico e seu auxiliar sejam suspensos por conta de uma medicação de atleta. Passa do absurdo, né? É BEM revoltante mesmo porque não dá pra entender a motivação da punição. O atleta fora liberado pelo médico. Atleta teve a punição menor (dois meses) que a de Guerrinha e Danilo Padovani. O que está acontecendo neste mundo que pune o técnico que tem apenas o dever de escalar seus atletas na partida? Guerrinha, aliás, teve 20 anos de carreira como jogador profissional, defendeu seleção brasileira por duas décadas, possui mais de 20 anos como treinador e nunca foi suspenso em sua vida. Foi, agora, vovô recente por conta de uma situação de seu atleta.

Desculpem, mas de verdade isso é um escárnio. Qual a responsabilidade, neste caso, de um treinador para ser culpado, por tabela, de algo assim? Não é que seu atleta tenha brigado em quadra e ele, sei lá, incitado a violência. Não é que seu jogador estivesse em quadra com seis faltas. Não é, como acontece na NBA, que seu atleta tenha pedido um tempo técnico sem que a equipe tivesse tempos para pedir. Nada disso.

Guerrinha está sendo absurdamente suspenso porque seu jogador teve no exame anti-doping a presença de uma substância chamada "betametasona" utilizada em um remédio para o tratamento de uma lesão no cotovelo (a agência mundial anti-dopagem, a WADA, veta essa beta aí…). Se um técnico deve saber quais substâncias devem ou não ser utilizadas pelos médicos da equipe eu sugiro que isso fique mais claro, pois tenho certeza que os treinadores brasileiros têm preferido estudar seus times e seus adversários a abrir os livrinhos da WADA pra saber que tipo de remédio os jogadores de seus elencos podem ou não tomar. Caso isso passe a fazer parte de suas atribuições a partir de agora é mais prudente que os comandantes brasileiros passem a investir mais tempo e dinheiro em congressos médicos ao invés de clínicas técnicas.

Se me tomo de ironia ou de sarcasmo, vocês me perdoem mesmo, mas é porque estou realmente embasbacado. Espero, sinceramente, que Mogi, Liga Nacional, técnico e assistente de Mogi reajam a isso de forma dura, rápida e áspera. O Brasil está de pernas pro ar, sabemos bem, em todos os seus segmentos. Mas esse caso, de forma específica e no nosso universo particular (o basquete), acho que este caso envolvendo Guerrinha e Danilo Padovani ultrapassa todos os limites do absurdo, do aceitável, do razoável.

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