Topo

Bala na Cesta

Em alta, ala Jimmy comemora título Sul-Americano com Franca

Fábio Balassiano

19/12/2018 05h20

Aos 28 anos, Jimmy Dreher vive o auge de sua carreira. Campeão Sul-Americano com Mogi há dois anos, ele repetiu o feito há uma semana com Franca ao ajudar a equipe a bater o Instituto, em Córdoba, em uma decisão que teve de tudo – inclusive pó de maisena na quadra.

Conversei com o ala que teve passagens por São José, Basquete Cearense e Mogi sobre a conquista no jogo 3 em Córdoba, a sua evolução como jogador que era "apenas" um bom defensor para alguém que passou também a acertar muitas bolas de três pontos, o relacionamento com o técnico Helinho e o restante da temporada em Franca. Confiram.

BALA NA CESTA: Quão incrível foi ganhar uma Liga Sul-Americana em solo argentino? Não foi a sua primeira, mas imagino que ganhar por Franca, e em Córdoba, potencializem os sentimentos, né?
JIMMY: Não importa onde você esteja, ganhar é sempre bom (risos). É uma sensação maravilhosa, e quando é fora de casa é bem saboroso. Ganhei duas edições da Liga Sul-Americana fora de casa, ambas na Argentina. Ser campeão por Franca é bem especial, a cidade ama basquete. Levamos a Orelhuda, apelido que demos para o troféu da Sul-Americana, para o desfile de comemoração, e deu pra perceber a população muito empolgada. A torcida gostou muito. Tem sido uma temporada incrível por aqui.

BNC: Pode contar um pouco mais especificamente sobre o fatídico jogo 2? Como se encontrava a quadra antes de vocês jogarem e como foi jogar com pó de maisena no piso? Chegaram a pensar em não atuar?
JIMMY: Não foi fácil, realmente. Pensamos em não jogar, mas correríamos muitos riscos com uma possível punição além da reação do público que foi ao ginásio e de fato não tinha nada a ver com aquilo que estava acontecendo no piso. Havia maisena, estava escorregadio. Sabíamos que seria complicado, mas foi uma situação atípica. Optamos por jogar, mas o time não rendeu bem e isso ficou nítido pra todo mundo. Para o jogo 3, exigimos melhores condições da quadra tão logo a 2ª partida terminou. O motivo não era só o piso, mas sim a condição como o nosso time gosta de atuar. Nosso time joga em transição, são jogadores atléticos e com o piso escorregadio como estava atrapalhou muito. Tentamos adaptar, mas pensamos mais na quadra do que no jogo. Para a decisão do dia seguinte decidimos que a quadra poderia estar de qualquer jeito que se entrássemos em quadra nos mataríamos para sermos campeões.

BNC: Franca pode conquistar incríveis cinco títulos nesta temporada. O Super8 vem aí e vocês estão nesse ritmo forte, mas também bem cansados. Como manter foco e motivação para esta competição e o restante de NBB e Liga das Américas?
JIMMY: Nossa equipe tem trabalhado para conquistar títulos. Todos os que conseguirmos. Estamos vivendo um grande momento, e queremos aproveitá-lo ao máximo. Um ponto importante para isso e no qual estamos focados é em manter a liderança do NBB. O objetivo é termos sempre os mandos de quadra para viajarmos o menos possível. Além disso, estamos trabalhando muito a parte física para manter a intensidade da equipe em quadra.

Jogando mais em casa do que na estrada creio que vamos conseguir evitar desgastes na Copa Super 8 e nos playoffs do NBB. Já viajaremos para jogar a primeira fase da Liga das Américas, vamos para o México, então queremos evitar qualquer cansaço de viagem possível mantendo a liderança do NBB. A atmosfera do nosso grupo é incrível, e isso tem ajudado muito a superar a parte física. Somos solidários, isso ajuda bastante. Como muitos me chamam de Mad Dog, Cachorro Louco, eu estou sempre com 120% de disposição para as partidas (risos).

BNC: Você passou a ser mais valorizado no basquete brasileiro nos últimos 3 anos, o que parece incrível porque sendo um jogador excepcional defensivamente o momento atual do basquete é mais ataque do que nunca. Como foi pra você encontrar seu espaço fazendo algo que a modalidade hoje quase não valoriza tanto? Como você tem tentado evoluir na marcação? Treino, estudo, análises, essas coisas.
JIMMY: O basquete brasileiro está vivendo um momento muito ofensivo, de arremessos de longa distância, isso não há dúvida. Acho que aprendi isso com observação e no dia a dia mesmo. E foi assim que tentei me tornar mais completo, mais adaptado aos dias de hoje sem perder a minha essência que sempre foi de ser um bom marcador. Eu acredito que evoluí por acreditar em mim mesmo, no meu estilo de jogo, na minha disposição. Mas uma coisa é básica e bem clara: eu gosto de marcar, é o que eu gosto mesmo e continuarei fazendo até o final da minha carreira. É meu, é instintivo, não tem como mudar. Enquanto muitos pensam em matar bolas, eu me preocupo em fluir meu jogo marcando e contra-atacando. É a minha essência no basquete. Defesa, ataque. Eu gosto de anular quem marca muitos pontos. Se ele mata bola de 3, forço ele a tentar bolas de 2 pontos. Aprendi isso, especialmente em Mogi. O Shammell me ajudou muito nesse processo, me orientou. Os anos em Mogi me fizeram aprender isso, me fizeram a dar um passo adiante em minha carreira por me tornar um cara mais completo no ataque e mais sólido na defesa. O jogador que sou hoje é a soma desta evolução nos arremessos e do instinto defensivo que sempre tive.

BNC: Poderia falar um pouco do trabalho do Helinho em Franca? Como tem sido esse começo de relação com um jogador histórico de Franca e agora, também, um treinador que já tem história pra contar?
JIMMY: Tá sendo bem bacana trabalhar com o Helinho. Ele é um treinador da nova geração, é um ídolo em Franca, tem a família com DNA de basquete. Tá sendo ótimo! Conversamos muito sobretudo em como era no tempo dele de jogador. O Helinho já escreveu seu nome na história do basquete brasileiro como jogador, agora está fazendo isso como treinador. Ele sabe levar bem o grupo, então está sendo muito legal.

BNC: Você chegou a figurar em convocações de seleção brasileira e em 2019 há o Mundial da China. Dá pra trabalhar no clube sem pensar tanto na seleção brasileira? O Petrovic tem destacado a questão dos alas, de achar um grupo bom nas posições 2 e 3, e você se encaixa nisso.
JIMMY: Penso em seleção, mas sei que a convocação vem por tudo que a gente faz no clube. Se eu fizer uma grande temporada, sei que tenho chances de ser lembrado. Se eu não for bem, não tem jeito, não serei convocado. Então não adianta ficar pensando em Mundial, em seleção, se eu só vou participar disso se for bem no clube. Seria até pouco inteligente. Por isso estou focado em ser o melhor possível em Franca, batalhando todos os dias e deixando minha alma em quadra. Quero muito dar esse meu máximo para ativar o modo 'Mad Dog' também com a camisa da seleção no futuro próximo.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.