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Bala na Cesta

Há 10 anos, o dia que salvou o basquete brasileiro

Fábio Balassiano

02/08/2018 00h34

Foi há 10 anos. No dia 1° de agosto de 2008 era fundada a Liga Nacional de Basquete. O blog nasceria pouco, pouquinho depois, mas na época eu trabalhava já como repórter e acompanhava aquele movimento que, no começo, parecia bem maluco simplesmente porque o basquete brasileiro – das seleções aos campeonatos de clubes – parecia fadado ao fracasso, a falência, ao, perdão do termo, fim da feira. Ninguém acreditava que aquela maré de insucessos pudesse ser revertida.

Nada dava certo. A seleção feminina começava a fazer água nos torneios internacionais. A masculina colecionava fiasco atrás de fiasco. Os campeonatos internos não é que eram desorganizados – é que eles não terminavam, corriam na Justiça e eram divididos (houve a Liga do Oscar Schmidt, houve a Liga dos Paulistas, houve de tudo). Caos na Terra em proporções tsunâmicas.

A dúvida que a gente que acompanhava bem de perto a situação, e eu me sinto muito tranquilo pra falar porque acho que sou um dos únicos que esteve de lá até aqui sem parar nenhum mísero segundo, era: quem eram esses "malucos" que queriam fazer nascer um novo produto tão enrascado assim como o campeonato nacional adulto de basquete do Brasil? Foi criado o nome de NBB, Novo Basquete Brasil, mas ali ninguém entendia muito o que seria o novo, e muito menos se ainda existiria basquete no Brasil.

Mas em pouco tempo isso mudou e as coisas foram ficando claras. Sobretudo com os "rostos" que passaram a tocar o dia a dia daquele novo corpo, daquela nova estrutura. De João Fernando Rossi a Kouros Monadjemi, dois dos principais nomes da fundação da Liga, passando pelo incansável Sérgio Domeneci, primeiro funcionário de uma Liga Nacional cuja mesa de escritório em seu início era a mesa da sala do próprio Sérgio, tudo começava a fazer sentido mesmo quando o Ano I, o mais difícil de tudo na vida, apresentava as dificuldades naturais de um começo.

Mas voltando: quem eram aqueles caras, pô? Quem eram aqueles caras que falavam palavrinhas-chave (integridade, diferenciação, união, trabalho, gestão, organização, planejamento, respeito, hierarquia etc.) e que faziam de tudo para colocá-las na prática no dia a dia desde o 1° de agosto de 2008? Quem eram, cara? Quem eram e por que cacetes eles não apareceram antes?

Eram os "malucos" do bem da Liga Nacional de Basquete. Caras que, sabe-se lá movidos exatamente pelo quê, contrariaram a lógica pra criar em 10 anos um modelo de gestão incrível, um campeonato bem organizado e uma plataforma de comunicação / produto que mesmo com o país (eternamente?) em crise faz com que os patrocinadores brotem de uma maneira maravilhosa. Hoje em dia fala-se muito em propósito, em valores, em legado, em deixar algo pras gerações futuras (papo de pai, talvez…), mas na real é tudo isso o que essa galera vem colocando em prática há uma década – há exatamente uma década.

O resumo da ópera é bem simples: aquela turma que em 01/08/2008 fundou a Liga Nacional de Basquete, a "mãe" do NBB, da Liga Ouro e da Liga de Desenvolvimento, salvou o basquete brasileiro. Colocou o produto em outro patamar, inclusive em relação ao público, que passou a acompanhar mais de perto e até a se fidelizar com ele de forma mais assídua. Se antes era a desunião extrema, hoje todos falam razoavelmente a mesma língua. Os famosos "stakeholders" se entendem bem (clubes, jogadores, imprensa mesmo, árbitros, técnicos, médicos etc.) porque a Liga conseguiu colocar todos na mesma página – a página que ensina que não havia, não há e não haverá nada mais importante que a união dos clubes em prol do bem comum, que era, e continua sendo porque o NBB ainda é uma obra em progresso, o renascimento do campeonato masculino adulto de basquete do país.

Quando todos pararam de brigar, se olharam e viram que, apesar das diferenças, e sempre haverá diferenças, contradições, fricções e desavenças, quanto mais pancadaria pública pior pra TODO mundo o basquete brasileiro de clubes voltou a andar. Voltou a caminhar. Voltou a crescer. Voltou a entrar no coração do brasileiro. Na cabeça do brasileiro. Na alma do brasileiro. Hoje é possível começar a acompanhar o campeonato e saber quando ele começa, quando são os playoffs, o All-Star Game, as finais e quando ele irá acabar – e no meio disso tudo ainda há quase que uma centena de transmissões em todos os canais possíveis (Facebook, Twitter, TV Aberta, TV Fechada e tudo mais…). Inimaginável há uma década, creiam. Muito inimaginável. Diria a vocês que se alguém falasse que em 2018 eu estaria falando sobre um produto assim no Brasil eu chamaria a pessoa de lunática pra baixo.

Dez anos passam muito rápido quando colocamos em perspectiva tudo o que o esporte brasileiro passou nesse tempo. Costumo dizer e repetir que a turma da Liga Nacional erra, e erra muito. Mas tudo que nasce perfeito nasce tarde. O mundo atual, cada vez mais, usa métodos de tentativa e erro, e por mais que nossas cabeças perfeccionistas (a minha no caso…) queira que tudo saia perfeito do papel não é assim que funciona nem na sua empresa e muito menos no esporte, onde sabemos que gestão e organização quase nunca caminharam juntos.

Parabéns a todos da Liga Nacional de Basquete. Acreditaram, sonharam, brigaram, planejaram, erraram, trabalharam, trabalharam mais e hoje têm o mais bem acabado modelo de gestão do esporte brasileiro.

Crível, independente, sério, com ótima governança, mentes arejadas e, vejam só vocês que maravilha, um manancial de coisas ainda por fazer.

Vida longa, NBB! Vida longa, LNB! Vocês salvaram a nossa maior paixão.

Sobre o blog

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