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Bala na Cesta

Contratado pelo Andorra, Rafa Luz fala de nova chance na Espanha: "Meu foco é ficar por lá"

Fábio Balassiano

24/07/2018 05h20

Aos 26 anos, Rafa Luz tem se revezado nos últimos anos entre o basquete brasileiro e o espanhol. Entre 2012 e 2015 jogou no Obraidoro. Em 2015/2016, campeão do NBB pelo Flamengo. Em 2016/2017, atuou no Baskonia, por onde se lesionou com gravidade no joelho. Na temporada passada, ainda em recuperação da cirurgia, passou por Franca.

De forma até certo ponto surpreendente, Rafa recebeu proposta para voltar à Espanha, onde atuará em 2018/2019 pelo Andorra, time que foi muito bem na temporada passada (6o lugar) e que conta um jovem técnico (Ibon Navarro, de 42 anos, dirigiu o Murcia recentemente). Sempre antenado e muito sincero, o armador conversou com o blog sobre sua nova chance no país ibérico, de seu estilo de jogo e da tendência do basquete mundial que atualmente arremessa tresloucadamente de três pontos.

BALA NA CESTA: Te surpreendeu a proposta do Andorra, time que fez uma belíssima e surpreendente campanha em 2017/2018 na Liga ACB, tendo chegado às quartas-de-final? Como foi o contato e quais as expectativas pra se juntar ao time?
RAFA LUZ: Talvez. Um pouco, na realidade. O mercado estava um pouco frio, sim, mas eu soube esperar até chegar a hora certa. Meu primeiro contato com o técnico Ibon Navarro (no dia da proposta) foi muito bom e estou realmente animado com a próxima temporada. Jogaremos EuroCup, também, e esta era uma das minhas prioridades profissionais. Meu contrato será de 1 temporada. Ainda faltam peças interiores pra fechar o time mas por agora parece muito bom.

BNC: Como você avalia a temporada passada por Franca? Até que ponto as lesões, suas e do Leandrinho principalmente, impediram que a equipe fosse mais longe do que acabou acontecendo (eliminação nas quartas-de-final pra Bauru por 3-0)?
RAFA: Eu acho que terminei muito bem. Claro que o fato de termos visto muitos jogadores se machucaram durante a temporada dificulta por não termos tido, desta maneira, uma sequência bacana pra encaixar de vez o time. Jogar sem o Leandrinho óbvio que também. O Léo Meindl se machucou no jogo 2 do playoff e jogou o 3 no sacrifício, Alexey estava voltando há pouco tempo também. Não é desculpa, nunca coloquei desculpa porque Bauru, que nos eliminou, teve méritos incríveis e chegou com uma confiança absurda depois da serie contra o Vasco (tá aí porque eu odeio essa parada dos 4 primeiros colocados ficarem de folga na primeira rodada do playoff como era até a temporada passada). Nós não soubemos achar uma solução. Mas pessoalmente no final eu já conseguia jogar melhor e mais intenso durante mais tempo.

BNC: Nos últimos anos você tem "pingado" entre Brasil e Espanha (Flamengo, Baskonia, Franca e agora Andorra). Com essa nova ida pra Liga ACB, sua intenção é fincar pé de vez na Espanha / Europa? Dá pra entender assim o movimento?
RAFA: Meu foco agora é Espanha/Europa. Agradeço demais as duas passagens pelo Brasil mas realmente eu me sinto bem lá fora. Um ponto que me chama a atenção no basquete brasileiro é que por aqui só tem valor o cestinha, o que dá mais assistência e o reboteiro, além do fato da liga crescer mas os times não. A instabilidade dos times faz que seja uma incógnita quantos times vamos ter então ano seguinte. No momento vou dar preferência de 99% pra jogar fora.

BNC: Uma vez lhe perguntei isso, e acho que vale a pena tornar a questionar. Seu estilo de jogo, mais cadenciado, passe primeiro e chute demais, você acha que o basquete espanhol / europeu lhe compreende mais do que o brasileiro, que tem uma cultura de arremesso muito forte?
RAFA: Sem dúvida. Não existe time no mundo onde todo mundo chuta. Existem outras funções dentro de um time para que tudo funcione e aí é onde o técnico entra pra dar as funções. Todo mundo acha que o Golden State Warriors é um supertime e que todos chutam o tempo inteiro mas imagina se a cada bola que o Draymond Green ficasse livre ele chutasse, ou os pivôs, ou os outros reservas? Eu não acho que eles seriam campeões assim e é assim que eu me vejo, um jogador de função mas que também sabe fazer mais coisa do que marcar pontos quando necessário.

BNC: Uma questão de ordem tática / tendência do jogo atual. Te agrada a maneira como o basquete tem sido jogado / implementado no mundo todo atualmente? Não é correria e chute demais mesmo pra equipes que não possuem os elementos que o Golden State possuem? Não acha que o mundo está copiando as coisa rápido demais?
RAFA: Esse é um grande problema, sim. Ninguém chega nem perto do Warriors neste sentido, mas sobretudo porque ninguém treina como aqueles caras e são raros os que têm o talento deles. O que não entendo é que todos querem copiar. Eles jogam juntos há uns 5 anos e se conhecem muito bem mas o resto do mundo quer fazer igual. Sou fã deles enquanto meu Dallas anda amarrado, mas é muito difícil jogar daquela maneira. Tem que ter um equilíbrio dependendo dos jogadores que você tem e a maioria dos times não veem isso. Na Espanha já mudou muito também a maneira de atuar devido a isso. Não se joga mais tão cadenciado mas os times ainda buscam o equilíbrio melhor para arremessar.

BNC: Você esteve treinando recentemente com a seleção brasileira, e teve seus primeiros contatos com o Petrovic nestas janelas todas das eliminatórias. Como é o treinador, seu estilo, sua maneira de treinar? Consegue explicar um pouco mais dos métodos de trabalho dele?
RAFA: Petrovic é um cara engraçado, deixa os treinos, por mais pesados (físicos) que sejam, leve. Ele sempre solta algum comentário engraçado nos treinos e isso te faz querer continuar treinando forte, firme. Gosta de jogar de maneira simples e objetiva e isso facilita nas janelas que não tem muito tempo de treino.

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