Ricardo Molina faz avaliação de seu primeiro ano como presidente da Liga de Basquete Feminino
Presidente da Liga de Basquete Feminino há um ano e com mandado renovado para mais quatro anos, Ricardo Molina é um dos dirigentes mais apaixonados pelo basquete das meninas no país.
Após realizar um campeonato com inúmeras boas notícias (exibição em TV Aberta, todos os jogos transmitidos pela Web, redes sociais das equipes sendo bem atuantes, ginásios cheios e um Jogo das Estrelas com um inédito Campeonato de Enterradas), Molina conversou com o blog sobre a edição de 2018 que teve o Campinas como campeão na decisão contra o Sampaio Correa (3-2) e sobre o que está por vir daqui pra frente sob sua gestão.
BALA NA CESTA: Qual a sua avaliação da temporada 2018 da LBF? O que deu certo? O que pode ser melhorado?
RICARDO MOLINA: Bala, eu quero voltar um pouco atrás antes de fazer qualquer avaliação. A temporada 2018 eu posso dizer que foi desafiadora do ponto de vista de gestão. Assumimos a gestão da LBF em abril de 2017 em um momento extremamente delicado. A LBF durante um ano e meio ficou trabalhando dentro da estrutura da Liga Nacional de Basquete e por decisão dos clubes foi decidido que precisávamos trabalhar o nosso caminho. Isso foi exatamente na hora em que eu assumi como presidente em meados de 2017. Então no momento que houve a decisão de partir, digamos, pra esse voo solo sabíamos que teríamos muita dificuldade. E não tivemos medo, nem problema algum com isso. Foi opção dos clubes e caminhamos com isso.
O que aconteceu nesse sentido? Praticamente tivemos um processo do zero. Montamos a nossa sede, e aí fiz questão de trazer pra Americana para eu poder estar perto. Uma outra coisa importante é que não tínhamos equipe de trabalho e nem processos bem definidos. Construir equipe não é tão fácil quanto parece. Não é simplesmente você juntar quatro ou cinco pessoas e começa a trabalhar. Não é isso. Não é assim no mundo corporativo e é essa filosofia de construção de time que quis implementar na gestão profissional da LBF. Foi desafiador e por isso pautamos a LBF em pilares para saber onde queríamos chegar – e como chegar. Pautamos demais na linha de planejamento. Para 2018, entregamos tudo no dia 22 de agosto de 2017, quase quatro meses antes de começar o campeonato.
Entregamos tudo, como seria a Liga de janeiro a junho. Tenho certeza que tudo aquilo que a gente ousou para entregar nós entregamos. Nos comprometemos a ter uma TV Aberta e uma TV Fechada exibindo. Conseguimos. Prometemos redes sociais atuantes. Atingimos. Prometemos TODOSO os jogos exibidos pela Web. Foi feito. Queríamos um Jogo das Estrelas impactante. Também aconteceu. Fomos agressivos naquilo que acreditávamos que seria o melhor mesmo sendo difícil de fazer, mas ousamos, perseveramos e atingimos. Felizmente a gente conseguiu entregar. Temos muitas oportunidades de melhoria, mas o avanço deste novo processo de gestão em um ano é gigantesco e me deixa extremamente feliz e assustado porque o potencial pra crescimento do basquete feminino é assustador. Eu digo que 2018 foi um marco importantíssimo pra LBF.
BNC: Um dos pontos que Mais chamam atenção no campeonato é o comprometimento dos times com a causa – de reativar o feminino.
MOLINA: Esse engajamento que conseguimos ter com as equipes participantes e com as jogadoras se resume a uma palavra: empatia. Durante 7 anos eu fui dirigente de equipe e eu senti na pele o que é fazer um campeonato sem planejamento, o que é fazer basquete sem que ele seja um produto, mas sim um torneio, sem transparência. Então tudo isso eu levei pra gestão. Me coloquei no lado dos clubes, no lado que eu era alguns meses antes, e ficava me perguntando sobre o que era importante para eles saberem para também transformarem o seu dia a dia em algo mais profissional, mais processual, mais, digamos, empresarial. O que é importante, independente de eles pedirem, é que começamos a dar aos clubes um norte, um planejamento, uma ideia muito antecipada de onde queríamos e para onde queremos ir.
Por a gente ter feito um Conselho de Administração atuante, foi feito um planejamento bem robusto e com esse time do Conselho bem atuante. Por isso conseguimos atingir a realidade e as necessidades dos clubes. Estávamos focados em ter um produto bom, mas que ele fosse entregue aos personagens principais, que são atletas, comissão técnica e clubes. Então tudo isso gera empatia. Bala, abrimos planilhas pra eles verem o que estávamos fazendo, soltamos um balanço financeiro no começo de 2018 divulgando absolutamente tudo, mostrando todas as contas. Isso é fundamental pra gerar uma aliança estável, de confiança. Por isso todos entenderam que o movimento é sério e que alavancaria o basquete feminino. Acredito que por isso esse comprometimento que você cita aconteceu.
BNC: Perfeito, mas veja. Como fazer com que os clubes também entrem nessa espiral de profissionalismo? Como fazer com que eles também estejam na mesma esteira que a LBF quer seguir?
MOLINA: Você tocou em um ponto interessante. A Liga não pode se profissionalizar sem que os clubes fiquem pelo caminho diferente. Aconteceria um hiato natural. Então um dos pilares que trabalhamos foi o de contrapartida. Temos feito um trabalho de otimização de recurso. E te cito um exemplo. Quanto custaria para que eu contratasse uma empresa para fazer todas as transmissões dos jogos? Poxa, custaria X mil reais. Ao invés de eu gastar com um terceiro, por que não capacitar os clubes a fazer a transmissão? Com isso poderia usar a verba que seria a investida para pagar a arbitragem, transporte, por exemplo. À medida que a gente investe uma coisa nos clubes, cobramos que eles entreguem algo de estrutura. Por exemplo, o projeto social deve ser sempre entregue pelo clube de sua cidade. Na linha do que fizemos o LBF nas Escolas. Isso é desenvolvimento. Então os clubes agora precisam ter uma profissionalização em relação a quadra, estrutura, assessoria, tudo isso. É a forma mais racional de fazer o clube se profissionalizar. A contrapartida é algo que acredito muito e com isso teremos um crescimento sustentável. Já estamos infinitamente superiores neste ano em relação ao ano passado e quando chegarmos à décima edição daqui a dois anos certeza que estaremos ainda melhores.
BNC: Uma questão que é difícil abordar, mas real, é a qualidade técnica. Os jogos foram emocionantes mas não muito bons. Como melhorar isso? As divisões de base do basquete brasileiro ainda possuem pouquíssimos clubes…
MOLINA: Eu não vejo dificuldade em abordar a questão técnica. Temos total noção e maturidade para dizer que a qualidade técnica ainda não é a desejada. Seria mentiroso de minha parte de dizer o contrário e como tenho sido transparente desde sempre não poderia falar algo irreal. É um fato isso que você cita. Seria cômodo, pra mim, justificar que não temos base, projeto social, divisão inferior. Paciência. A medida que um gestor coloca nas mãos dos outros os problemas pra justificar as suas dificuldades as coisas não caminham. Nós sabíamos fortemente onde estávamos pisando. Sabíamos dessa questão da qualidade.
Já tomamos providências para as próximas edições. A primeira coisa foi mexer no calendário. E por quê? Nós tínhamos, durante a temporada 2018, mais de 12 jogadoras de bom nível jogando na Europa e que poderiam estar atuando na LBF. O calendário não ajudava em relação a isso. Pra 2019 e 2020 faremos o nosso campeonato "fora" do circuito europeu. Isso faz com que as nossas meninas possam disputar a LBF. A Liga começará em março e será fechada no dia 31 de agosto. Essa é uma primeira novidade que posso lhe citar. Em 2020 a mesma coisa.
O que isso representa? As jogadoras da Europa poderão atuar no Brasil e isso é excelente. Confronta com o calendário americano, mas nesse ano perdemos apenas a Damiris. Não é um problema ao meu ver. Agora temos um calendário completo. Ano que vem a atleta começa a treinar em janeiro, joga a LBF em março até agosto. Setembro haverá os torneios estaduais, Jogos Abertos e termina em dezembro. Todos os clubes podem analisar e fazer contratações a longo prazo, e isso facilita pra todas as partes.
BNC: Se esse foi o ano de recolocar as coisas nos trilhos, como você projeta a LBF em 2019? Já dá pra antecipar novos clubes?
MOLINA: Pra 2019 está pronto. Pra 2019 e 2020 está tudo pronto. No dia 7 de abril de 2018 todos os times interessados em disputar a LBF já receberam o planejamento para se organizar. Para 2019 e 2020 a prioridade será sempre para os times que já estão atuando. O limite de times que estamos atuando são 12. Isso pode ser revisto, mas acreditamos que com 12 mantém uma quantidade adequada, o equilíbrio e manter o equilíbrio do campeonato.
Todos os jogos foram muito iguais. Em Abril tivemos representantes de Santos, Sorocaba, Araraquara, Feira de Santana, então a consequência natural do bom trabalho é que mais e mais gente quer estar junto da LBF. Estamos caminhando pra ter um produto cada vez mais legal. Temos que crescer juntos e é nisso que estou muito focado.
BNC: Você sempre foi um cara muito criativo e muita gente criticou isso. Normal. Qual foi a sensação de ver nascer o campeonato de Enterradas, algo completamente disruptivo? Foi emocionante ver algo tão novo?
MOLINA: Essa questão da inovação é algo que sempre gostei muito. Gosto realmente de ousar e me colocar em posição de me desafiar. Gosto de pensar em fazer algo diferente, como foi o campeonato de enterrada, por exemplo. Nós temos um estudo acontecendo na Unicamp pra avaliar o basquete feminino em quadra, o que pode ser alterado, o que podemos levar adiante. Não estou olhando o basquete enquanto produto apenas, como marketing, mas também a parte científica. Há coisas que podem e devem ser melhoradas. Eu não gosto muito do verbo "achar". Precisamos ter base científica pra ter base de sustentação. Uma das coisas que quis provocar é a altura do aro. Só isso. Não quis nada além do que mostrar às pessoas que não temos limites. É isso. Não podemos nos limitar para nada.
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