Os méritos de Gustavo de Conti, técnico que mudou o Paulistano de patamar com título do NBB
Guilherme Hubner foi o MVP. Lucas Dias e Yago jogaram demais a quarta partida. Deryk e Elinho reencontraram o melhor basquete deles. O marketing, capitaneado pela agência Old Coach, funciona bem. O ginásio está quase sempre cheio. Nada disso seria suficiente pro Paulistano ser campeão do NBB ao bater Mogi ontem à tarde se não fosse a presença do técnico Gustavo de Conti, brilhante há oito temporadas no comando da equipe e que ontem atingiu o seu degrau mais alto.
Sei bem que o basquete é coletivo, que a soma das partes vale mais do que a força de um único indivíduo, mas vivemos em um país cuja cultura esportiva é diminuta e que em 99% dos casos a identidade da equipe é resultado daquilo que pensa, age, influencia e transmite o treinador. É assim em Bauru com Demétrius. É assim com Guerrinha em Mogi. É MUITO assim com Gustavo no Paulistano que termina a temporada como campeão Paulista e do NBB.
No clube há 8 temporadas como comandante principal (e há 15 no total nas funções de assistente), falar de Gustavo não é simplesmente olhar a estatística e ver que de 2010/2011 pra cá ele transformou uma equipe que perdia mais que ganhava (8-20) em uma que vence muito (24-4 nesta temporada). Estamos falando de um cara de (agora) 38 anos que colocou um clube social (e não um time de massa ou de uma cidade inteira) no mapa do basquete brasileiro com muito trabalho, inconformismo, um tanto quanto de nariz empinado (positivamente falando!) pra não dar ouvido às críticas que sempre chegaram a ele, muito método pra seguir em frente e de uma inteligência para se reinventar que impressiona.
Gustavo treinou o Paulistano em dois vice-campeonatos (2014 e 2017) antes de enfim se sagrar campeão do NBB neste domingo. Sempre com orçamentos menores que os das famosas grandes equipes, não era raro vê-lo contratando jogadores pouco "queridos" do mercado, desenvolvendo-os em um ano e logo em seguida perdendo os caras que ele elevou o patamar para novas e altas propostas financeiras. No Paulistano o técnico monta quase um time por ano. Todo ano. E todo ano melhorando o resultado, sabe-se lá como porque o dinheiro não jorra assim da torneira e na teoria pra se chegar ao conceito de equipe no basquete leva muito tempo.
Por isso desenvolvimento é a palavra de ordem pro Paulistano. A toda hora. Desde sempre. Quem joga no Paulistano tem essa certeza: que vai melhorar nas mãos de Gustavo. Ele é exigente, chato, turrão, meio garoto enxaqueca mas o jogador entra um e sai outro muito melhor depois de trabalhar com ele. O exemplo de Lucas Dias talvez seja o mais claro de todos. Foi bem formado no Pinheiros, mas alcançou outro nível no agora campeão do NBB. Mais preparado na defesa, mais ciente do que é o basquete na acepção da palavra, mais preparado pro grande jogo. Só não foi o MVP das finais por um detalhe, mas mostrou-se pronto para fazer coisas que 2/3 anos atrás jamais conseguiria. Daria pra citar Deryk, Jhonathan, Elinho, Eddy e tantos outros campeões que estão na mesmíssima situação.
Só que além do conceito da evolução contínua essa temporada o técnico foi além. Mais do que mexer nas peças de um time que foi vice em 2017 depois de estar vencendo a série por 2-0, Gustavo alterou o conceito tático de sua equipe de uma maneira que quase ninguém imaginava. Quase sempre adepto do estilo "europeu", mais conservador, mais travado no ritmo ofensivo, De Conti abriu a guarda, se entregou ao jogo veloz, contratou jogadores com ótimo arremesso (Fuller principalmente) e pivôs com extrema mobilidade (Du Sommer e Nesbitt) e aderiu ao famoso run-and-gun que dá certo na NBA com o Golden State Warriors (escrevi disso no meio da temporada, vejam só). No lugar do ritmo controlado, rapidez. Ao contrário do ataque quase sempre armadinho, contra-ataques em ritmo feroz. Ao invés de procurar estrelas de 15/20 pontos por jogo, mais corpos foram contratados para que a intensidade não se perdesse. O Paulistano joga com 10/12, e por isso o ritmo não cai nunca.
Por isso o título de ontem chama atenção. Não foi apenas uma vitória do dinheiro, daquele time ué mais contrata, que mais investe, que tem os melhores jogadores do mercado. Foi, sim, a coroação de uma aula de montagem de elenco, de visualização de cenário do basquete mundial (quase todo mundo está tentando jogar de maneira mais rápida, fluida), de contratação das peças certas pras FUNÇÕES (e não POSIÇÕES – notem isso) certas, de desenvolvimento de atletas de forma contínua e eficiente e de como transformar uma equipe média em uma força difícil de parar no Brasil. É um mérito estrondoso, gigante, quase impossível mas que foi atingido.
Por fim disso tudo vale ressaltar mais uma vez que o feito do Paulistano vem com uma folha salarial que está longe de ser Top-5 do Brasil e jogadores que estão longe de serem os mais cortejados pelo mercado do país (até ontem, claro, porque a situação deve mudar a partir de hoje). Foi a coragem de Gustavo de Conti que levou um grupo de 12 atletas a mais uma decisão e depois ao título inédito. Me arrisco a dizer que ninguém no país conseguiria fazer o que ele fez, sinceramente falando.
O Paulistano hoje está no hall dos vencedores do NBB e isso ninguém mais tira da história do clube. O Paulistano tem, hoje, um dos melhores programas de basquete do país. O Paulistano, hoje, é um ótimo destino para atletas que querem (e vão) se desenvolver tecnicamente, fisicamente e taticamente.
Os itens acima podem ser resumidos em uma única pessoa – o técnico Gustavo de Conti. E falo isso, claro, de forma resumida, porque o trabalho é de uma comissão e não de uma pessoa. Mas na real da real é por causa de Gustavo que o Paulistano mudou de patamar no basquete brasileiro.
Aos 38 anos, ele já tem currículo de sobra pra ser considerado um dos melhores treinadores do país. E é maravilhoso saber que temos um técnico com essa capacidade sendo formado e melhorando a cada dia por aqui para desafios em seu clube e, quem sabe mais pra frente, para a seleção brasileira.
Capacidade, inventividade, criatividade e inconformismo não lhe faltam.
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