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Bala na Cesta

Como entender a troca que levou Blake Griffin do Clippers ao Detroit Pistons na NBA?

Fábio Balassiano

30/01/2018 13h15

O mundo do basquete tremeu ontem à noite quando o Woj (ESPN americana) anunciou no Twitter que o Detroit Pistons estaria finalizando uma troca para ter Blake Griffin, astro do Los Angeles Clippers. A franquia de Michigan enviou Tobias Harris, Avery Bradley, Boban Marjanovic, um pick de primeiro round e outro de segundo round pra Los Angeles. Os californianos também enviam Brice Johnson e Willie Reed.

Foi um fuzuê tão grande na internet que o nome de Blake Griffin entrou nos assuntos mais comentados do mundo. O ala do Clippers, inclusive, reagiu da maneira mais apropriada possível. Com um GIF em seu twitter:

Depois que a poeira baixou, deu pra analisar melhor a situação. Vamos lá:

O Los Angeles Clippers claramente está pensando no futuro. Após renovar por 5 anos e US$ 173 milhões para ficar com Blake Griffin, a franquia desistiu de pensar que com Griffin ganhará algo na NBA. E aí foi ao mercado. Conseguiu o contrato expirante de Avery Bradley, o baixo salário de Tobias Harris (US$ 14,8MM em 2018/2019, seu último ano) e o também baixo de Boban (9,4MM em 18/19, derradeiro ano de contrato). Se viu livre da bagatela que pagaria a Blake, ganhou jogadores razoáveis e ainda picks pros próximos Draft. A folha salarial tem apenas US$ 26 milhões comprometidos para 2019/2020, por exemplo.

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Ninguém sabe se vai dar certo, mas o time foi na direção da renovação e está bem óbvio isso. Minha única dúvida é se um cara como Doc Rivers, acostumado a sempre brigar por posições altas de campeonato, playoffs e a dirigir jogadores experientes e pensando sempre em chegar longe na temporada, é o mais apropriado para dirigir essa nova fase do Clippers. Clippers que, não nos surpreendamos, vai com tudo pra trocar DeAndre Jordan e Lou Williams, duas de suas figuras experientes com valor de mercado.

Pelo lado do Detroit, parece loucura, mas não é. E por duas razões. Uma é que o time não vence uma série de playoff desde 2008. A outra, mercadológica. Vamos a primeira parte. O Pistons está ali na nona posição do Leste (22-26), só tem um contrato longo e caro (Andre Drummond, que receberá US$ 80MM até 2020/2021) e sabe que colocar Griffin ao lado de Drummond pode fazer com que o garrafão seja um dos mais assustadores da NBA por um longo tempo. Com Reggie Jackson armando jogo, é bem possível que a galera de Michigan entre de vez na briga por playoff nesta e nas próximas temporadas.

Há um outro ponto importante. Na NBA o mais difícil é você conseguir / possuir uma estrela. É o raciocínio de 9 entre 10 general-managers. Cercá-los é o menos complicado, e foi com essa ideia que os Pistons decidiram arriscar em Blake Griffin, que, bola por bola, tem muito a acrescentar ao time. Quando esteve saudável nesta temporada, ele despejou simplesmente 22,6 pontos, 7,9 rebotes e 5,4 rebotes (33 jogos). Pode não parecer, mas ele tem apenas 28 anos (29 em março). É uma aposta bem válida ao meu ver. Perde-se, claro, muita coisa no perímetro, e é algo que Stan Van Gundy terá que buscar no mercado nos próximos anos com urgência. As posições de ala-armador e ala, realmente, ficam mais vazias do que nunca e isso será um problemão no momento.

O outro fator atende pelo lado mercadológico da coisa. Inaugurada em 2017, a Little Caesars Arena custou US$ 862 milhões e tem capacidade para mais de 20 mil pessoas. O investimento no espaço foi gigantesco e todos ali sabem que não enchê-la em dias de jogos é o caminho mais rápido para o fracasso financeiro do empreendimento. E o que o Pistons apresenta na primeira temporada do ginásio novo? Apenas 83% de ocupação, segundo pior índice de toda NBA, e média de 17 mil pessoas. São cerca de 3 mil lugares vazios, com um ticket médio de US$ 60, ou seja, uma receita que não entra de US$ 180 mil por jogo. Com 23 partidas disputadas em casa até agora, deixou-se de arrecadar, só com ingresso, mais de US$ 4 milhões. Não tenham dúvida: um jogador mais midiático, com milhões de jogadas explosivas todos os dias na TV e nas redes sociais, e com apelo pros fãs pode resultar em mais lucro pra franquia. Não foi por isso que o Detroit trocou meio mundo de gente pra ter Blake Griffin, mas podem ter certeza que isso influencia, sim.

No final das contas, acho que as duas partes se deram bem. O Detroit, por entrar em uma nova fase técnica e mercadológica. O Clippers, por abrir mão de seu maior salário para entrar tranquilo em reconstrução. E vocês, concordam comigo? Ou alguém saiu ganhando nessa primeira troca arrasa-quarteirão da NBA?

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