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Bala na Cesta

Agora dirigente, polêmica Iziane afirma: 'Não terei dificuldade em lidar com atletas de personalidade'

Fábio Balassiano

21/11/2017 13h20

Iziane Castro Marques nunca teve medo de nada. Nascida em São Luís, Maranhão, há 35 anos, ela foi jogar em São Paulo quando tinha 15 anos. Comandada por Maria Helena Cardoso, se desenvolveu e se tornou uma das melhores jogadoras de sua geração.

Dona de personalidade forte, colecionou ao mesmo tempo conquistas individuais, marcas expressivas, sucessos internacionais e algumas polêmicas (a mais conhecida delas quando se negou a retornar à quadra no Pré-Olímpico de 2008 em Madrid). Aposentada depois em 2016, fechou a carreira com sentimentos distintos com o título inédito da Liga de Basquete Feminino pelo Sampaio Corrêa da sua São Luís natal e a vexatória eliminação sem nenhuma vitória nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Uma temporada depois, Iziane está de volta. Mas não como atleta. Atendendo a um convite do presidente do Sampaio, ela retorna como dirigente da equipe, que busca reconquistar o caneco da próxima edição da Liga de Basquete Feminino em 2018 (o torneio começa em janeiro). Abaixo a entrevista com ela

BALA NA CESTA: Não demorou muito pra você voltar ao basquete, né? Como foi esse convite para ser dirigente do Sampaio Corrêa?
IZIANE: Era o caminho natural pra quem brigava tanto como eu sempre briguei, né? Só que agora vou brigar direitinho pra fazer o negócio fluir de fora da quadra. O convite veio do presidente do Sampaio Basquete, o Murilo Dias. Desde que voltei pro Sampaio em 2015 sempre me disponibilizei pra ajudar em todos os assuntos. O engraçado é que o Murilo me disse que o convite era pra ter sido feito no campeonato passado, mas eles não achavam que eu ia me aposentar (risos). Darei o suporte na parte técnica, do dia a dia, mas também vou trabalhar a parte empresarial do projeto para conseguir patrocinadores. É algo que gosto bastante e acho que posso acrescentar com minha experiência internacional que tive ao longo da minha carreira.

BNC: A Iziane dirigente terá perfil parecido com a Iziane atleta?
IZIANE: O meu perfil continuará o mesmo. Morrerei com ele, não tenha dúvida nenhuma disso. Sempre fui muito dedicada, esforçada, busquei o melhor desde o primeiro dia da minha vida profissional e vencer acima de tudo. Eu trago esse perfil pra fora da quadra agora e espero que as atletas que jogarem pelo Sampaio abracem essa causa assim também. Nós estamos aqui para irmos muito além de ter uma equipe competitiva de basquete. Estaremos com uma equipe de basquete que terá também ações sociais, engajamento das meninas na comunidade e muito mais. Meu grande objetivo aqui é transformar essa marca do Sampaio Basquete em algo que as pessoas se identifiquem. Queremos ir além do esporte. Sempre foi isso no Sampaio e agora ainda mais.

BNC: Você já pensou que pode vir a lidar com atletas que têm a mesma personalidade forte que você tinha? Como será isso?
IZIANE: Seria a perfeição, Bala. Não vejo problema quanto a isso. Querendo vencer, a gente sempre vai encontrar a felicidade. Só que tem uma coisa. Apesar de ter a fama, eu nunca tive problema de relacionamento com os meus dirigentes. Nunca. Pode perguntar aí pra quem você quiser. Eu sempre argumentei, troquei ideia, dialoguei pelo que achava que era correto, mas nunca desrespeitei meus diretores, meus superiores. Isso também é uma regra clara e meio óbvia para quem está no basquete. Mas respondendo a sua pergunta, eu não teria dificuldade em ter no elenco uma atleta como eu fui. E te digo mais: a culpa do basquete é ter chegado onde chegou é nossa, das atletas, também. Não só por falta de dedicação extrema ao esporte, mas por personalidade, ou ausência dela. Te cito um exemplo. As pessoas às vezes perguntam se a gente joga basquete, e eu vejo meninas respondendo que sim com vergonha. Quase ninguém diz: "Jogo, e na quarta-feira tem jogo e quero te ver lá. Vamos te mostrar do que somos capazes". E aí fica difícil, né? A gente tem que criar mais isso nas nossas jogadoras. Eu aprendi isso nos EUA, e vamos fazer isso aqui também. Precisamos vender melhor o produto, ajudar o esporte. É muito mais que jogar a Liga de Basquete Feminino. A missão é maior.

BNC: Falando em basquete brasileiro. Como você vê este começo da nova Confederação e também a nova gestão da LBF?
IZIANE: Estou vendo uma luz no fim do túnel, de verdade mesmo. Essa nova gestão na CBB mostra que veio pra melhorar e para transformar algo que sabíamos que não estava indo bem. É uma visão mais profissional, mais moderna, mais coerente. Eles já estão mostrando isso. A LBF está indo pelo mesmo bom caminho. Padronizando a liga, trazendo ações interessantes pro campeonato e melhorando nos pontos que ainda não tínhamos. Existe uma possibilidade de avanço muito grande na Liga e estou muito feliz com isso. Creio que podemos pegar carona no NBB, que está indo muito bem. E você sabe, a WNBA foi apadrinhada pela NBA, carregada no começo. É preciso essa ajuda. Vejo que encaminhando as coisas que deveriam ser feitas, e isso é muito bem. Vai ser devagar, é lento, demora porque estávamos quase no fundo do poço, mas acho que agora acertamos a direção da nave pra crescer. Estou bastante esperançosa que as coisas vão melhorar.

BNC: Já dá pra dizer como vem o time pro campeonato?
IZIANE: Ainda não, mas posso antecipar algumas coisas. A Lisdeivi optou por não voltar como técnica para o nosso time nessa temporada. Então contratamos o Virgil Lopez, assistente da Lis quando fomos campeãs em 2015/2016, para ser o nosso treinador. Já estamos com as jogadoras apalavradas, encaminhadas, mas espero ter o acordo finalizado com os patrocinadores pra saber exatamente o meu orçamento pra montagem final do elenco. Time, teremos. Só preciso saber quanto poderei investir nas contratações. Uma coisa, porém, é certa: preciso trazer jogadoras de fora, já que o mercado interno não nos oferece tantas opções assim. Queríamos duas armadoras de fora, estou estudando o mercado. Quem sabe consigo uma craque pra ser o grande chamariz do projeto.

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