A Liga de Desenvolvimento no meio da discussão entre Confederação e Liga Nacional

Nesta quarta-feira a Confederação Brasileira de Basketball divulgou um balanço sobre os primeiros 90 dias da gestão Guy Peixoto. O novo presidente assumiu com um abacaxi imenso pra descascar, todo mundo sabe disso, mas um ponto em especial me chamou a atenção no texto que está no site da CBB:

"NBB encaminha carta ao Ministério do Esporte abrindo mão de competições das categorias menores"

Sobre este ponto, me peguei pensando no que estava em cima da carta enviada pela Liga Nacional, que tem tentado de tudo para acalmar o ambiente com a nova gestão da CBB (até o momento a LNB não teve nenhum encontro oficial com Guy Peixoto inclusive…), para o Ministério do Esporte. Conversei com Sergio Domenici, Gerente-Executivo da LNB, que me garantiu que a decisão não afeta, em primeiro momento, a Liga de Desenvolvimento, brilhante campeonato Sub-22 organizado pela entidade. Para abrir o caminho para a Confederação realizar os campeonatos que deseja realizar, a Liga tirou seu time de campeão em relação aos torneios de clubes abaixo do Sub-22 (13, 16, 18 ou qualquer coisa parecida com isso), algo que estava na linha de tiro para ser organizado por ela rapidamente – e não vai mais acontecer.

Isso significa, então, que a CBB, que precisa muito rapidamente se encontrar com a Liga Nacional para aparar todas as arestas, mantém a alcunha de organizar todos os campeonatos de base até a categoria Sub-22. A própria entidade máxima me confirmou isso ontem à noite de forma oficial. Sendo assim, digo desde já aqui: se ela quis realmente fazer isso, e está no direito dela, ela (Confederação) será cobrada fortemente, diretamente e diariamente por mim e por todos que amam basquete para mudar um panorama sombrio dos torneios de base no país nos últimos anos – nenhum deles foi organizado nos 3 anos mais recentes e o modelo, o de times de Federações Estaduais, é ultrapassado em minha modesta opinião. Vamos ficar atentos.

Estas são as informações oficiais e são com elas que ficamos, mas o blog conversou com 4 pessoas envolvidas neste processo e não é de extrema leveza o clima entre Confederação e Liga Nacional, não.

Em reunião na sexta-feira passada no Rio de Janeiro que contou inclusive com a presença do espanhol José Luiz Saez, o interventor desejado pela FIBA para comandar o novo processo da CBB, estiveram presentes Kouros Monadjemi representando a Liga Nacional e membros da CBB. Ficou acertado o que está aqui em cima (LNB organiza NBB, Liga Ouro e Sub-22), mas a Confederação deixou seu recado que deseja, também, ser a chave-mestra para comandar as ações desta competição (LDB) também. A Liga, por sua vez, não abre mão de um de seus melhores e mais importantes produtos – Liga de Desenvolvimento.

Nenhuma das partes confirma as informações, mas a realidade é essa mesmo – e arestas precisarão ser aparadas rapidamente ao meu ver. A CBB quer tudo que não os campeonatos adultos. A LNB não abre mão do seu torneio Sub-22, reconhecido por todos do basquete como uma das melhores criações do esporte dos últimos anos.

Fico, neste final, com a frase dita pelo próprio Saez na reunião de sexta-feira passada no Rio de Janeiro: "Se vocês (CBB e LNB) começarem a brigar será o fim do basquete brasileiro". É bem por aí mesmo – ainda mais para um país suspenso de competições internacionais (vale sempre lembrar disso, não é mesmo?). Noves fora a autoridade moral de Saez para falar qualquer coisa (está longe de ser um cara "livre" para falar o que quer devido a seu passado não muito bacana na Federação Espanhola, onde foi presidente), o diagnóstico dele está corretíssimo. Nos últimos 20/30 anos o basquete brasileiro se afundou quando os, digamos, players do mercado começaram a brigar, se engalfinhar, tentar dividir ao invés de somar esforços.

Deste canto eu só espero que Confederação, através de Guy Peixoto, e Liga Nacional, que tem feito excepcional trabalho no país há 10 anos e também já demonstrou estar aberta ao diálogo com CBB e com quem mais deseje conversar sobre a modalidade, sentem juntos na mesma mesa e conversem para melhorar e não afundar de vez a modalidade no país.