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Bala na Cesta

Técnico mais jovem do NBB, Bruno Savignani se destaca e quer título em Brasília

Fábio Balassiano

28/03/2017 14h00

Bruno Savignani completou 35 anos nesta segunda-feira com muito a comemorar. Muito jovem, ele é técnico há um ano e meio do fortíssimo time de Brasília, que no sábado venceu Bauru por 92-89 para chegar a 18 vitórias em 26 jogos e se manter na terceira posição posição do NBB, e foi eleito para ser o treinador no Jogo das Estrelas do Ibirapuera de duas semanas atrás.

Natural de Goiânia, Bruno é casado há 10 anos e rodou o mundo com a bola de basquete debaixo do braço. Começou aos 9 anos no Joquei Clube goiano, aos 14 estava no Pinheiros, em São Paul e no começo de sua vida profissional jogou como armador no América, do Rio de Janeiro. Logo depois retornou para a sua cidade-natal, onde atuou por três temporadas no Ajax de Alberto Bial. Quando conseguiu a sua cidadania europeia decidiu voar mais alto. Passou quatro anos na Itália e outro na França em divisões menores vendo outro lado do jogo e sobretudo ganhando bagagem cultural e pessoal.

No retorno ao país Bruno foi jogar em Caxias do Sul para o técnico Rodrigo, que até hoje mantém o projeto que está no NBB. Após seis meses foi para Barueri, onde foi dirigido por Marcel de Souza. Logo depois foi para a capital federal, onde sua vida de mudanças encontrou um porto seguro. Comandado por José Carlos Vidal, foi campeão da Liga Sul-Americana e logo depois do NBB em 2010/2011. Logo depois da temporada o técnico lhe chamou para uma conversa: "Bruno, se você quiser continuar jogando eu renovo com você, mas acho que você tem muito mais a acrescentar ao time trabalhando comigo na comissão técnica. Topa?". Decidido a terminar os estudos em educação física e a se estabelecer no lugar onde a família de sua esposa mora, Bruno topou. Ficou quatro anos auxiliando e sendo preparado por ele, outro com o argentino Sergio Hernandez e na temporada passada assumiu o comando técnico de um projeto que tem investimento e pressão altos. Conversei com ele sobre tudo isso.

BALA NA CESTA: Hoje a gente vê muito técnico que para de jogar e logo depois vira técnico principal. Quão importante foi ter passado por todo o aprendizado de auxiliar durante quatro anos para você se tornar um treinador principal tão promissor quanto você está se tornando?
BRUNO SAVIGNANI: Sem dúvida alguma foi muito importante. Sem querer apontar pra dizer o que está certo ou errado, porque cada um tem o seu caminho, mas acho fundamental. O Vidal sempre me deu muita liberdade e confiança, e aí eu tive muita coisa pra fazer como auxiliar. Depois tive oportunidade de trabalhar com o argentino Sergio Hernandez. Em termos de bagagem técnica e tática, aprendi muito, vi o jogo de outra maneira e observei muito tanto do Vidal quanto do Hernandez essa questão de a gestão de pessoas. Hoje, na forma como eu lido com os meus jogadores, tem este aprendizado, da estrada que tive com todos os técnicos que passei. Agradeço muito ao Vidal por ele ter me preparado para assumir o lugar dele. Ele que abriu as portas para mim. Em algum momento ele viu alguma coisa que eu mesmo não sabia que tinha. Tive a sorte de ter trabalhado com ele. Basquete é minha vida. Desde os 9 anos eu sonho e vivo do basquete. Sou um apaixonado por basquete. De vez em quando, lá em casa, estou vendo Euroliga no computador, NBA na televisão, campeonato argentino no celular, estudos do NBB. Minha esposa fica doida e eu sempre digo: "Só mais esse jogo".

BNC: Por isso no Jogo das Estrelas a gente te viu o tempo todo com sorriso no rosto, né? É uma coroação de uma trajetória longa, não?
BRUNO: Olha, eu me sinto muito honrado de ter dirigido o NBB Brasil neste Jogo das Estrelas tão especial. Confesso a você que não esperava ter sido votado, já que temos muitos técnicos consagrados e renomados por aqui. Não trabalhei para isso, porque isso é uma consequência, e sou muito feliz porque eu estou aqui devido ao meu time. O técnico é reconhecido por causa do resultado final do time. É consequência. Não tem sucesso de técnico se não houver sucesso de técnico. Agradeço muito a eles e também a minha comissão técnica. O Brenno, assistente e que jogou comigo no Pinheiros, está comigo em Brasília e tem um temperamento muito diferente de mim. Vem para complementar aquilo que não tenho. Além deles, Paulão, Carlinhos e Carlos são fundamentais neste processo todo.

BNC: Como é ser técnico de jogadores que você atuou junto? E como é ser técnico de jogadores tão experientes como Fúlvio?
BRUNO: Comecei como assistente, era difícil a transição com o mesmo elenco, ainda mais com jogadores consagrados como Alex, Nezinho e Giovannoni, de quem era companheiro. Nesse processo de transição foi importante ter passado por aquele grupo. Eu só tenho a oportunidade de trabalhar com estes caras. Eles me ajudam muito, mas sobretudo nos respeitamos. Não posso querer impor respeito a ninguém. Eu preciso conquistar respeito através das minhas condutas e principalmente de conhecimento. Quando você pega jogadores mais velhos eles já viveram muita coisa, já passaram muita coisa. É natural que eles vão te perguntar, questionar, trocar ideia. Se você não estiver preparado, vai ter dificuldade. Desde assistente o Vidal já me dava muita liberdade, eu já comandava algum treino, essas coisas. Então os jogadores sabiam que tinha alguma coisa, conhecimento, e passam a respeitar. Isso aprendi muito com o Hernandez também. Ele tinha resposta pra tudo, tudo. Os jogadores olham e pensam: "Caramba, o cara sabe". Através disso a nossa convivência, o nosso respeito, cresce. Estamos construindo uma relação bem linda. O processo de aprendizado no basquete é infinito.

BNC: A outra é: como começar de técnico em uma equipe que já briga por título? Não dá muito pra ter tempo, né…
BRUNO: Me sinto um privilegiado. De verdade. Por estar em uma equipe como Brasília, multicampeã e que segue brigando por título. Isso é uma benção, e tenho uma gratidão muito grande. Tem vezes que os técnicos são muitos bons mas nem sempre têm condição, ou sorte, de dirigir times que vão brigar por títulos. Eu sou muito competitivo. Isso é da minha formação. Quero ganhar sempre. A mentalidade da equipe essa, a minha também e isso tudo acaba confluindo para uma maneira bacana de atuarmos. Temos que jogar o NBB pra ganhar, esse é o ponto. Por isso vibro tanto com a minha equipe durante os jogos. Quero vencer tudo, Bala. Se fizermos um par ou ímpar aqui, quero ganhar. Uma disputa de arremessos, idem. Partidas oficias e campeonatos também. É assim que vejo o basquete e minha profissão. Tudo pela vitória, tudo pata ganhar.

BNC: Como está Brasília para essa reta final? O foco de vocês sempre está no título, né? Qualquer coisa menos isso não é bem recebido lá na capital…
BRUNO: Como em todo campeonato longo, com muitas viagens, desgaste e lesões, há uma oscilação natural. Houve muito perde e ganha, e nós acabamos perdendo algumas partidas que não poderíamos perder. Bauru teve o momento dele, o Flamengo, Mogi muito bem agora. Nós somos a única equipe que ainda não perdeu 3 vezes seguidas no campeonato. Dentro dos altos e baixos normais nós estamos dentro da naturalidade. Falta pouco para acabar a fase regular, e agora é o momento de criarmos uma mentalidade de playoff. Isso é o mais importante no momento. O grupo está consciente, estamos fechados entre nós e o ambiente está ótimo. Antes estávamos sem brigar lá em cima por muito tempo, e ano passado chegando a semifinal isso reacendeu na torcida.

BNC: Como é o Bruno fora do basquete e quais as suas aspirações na modalidade?
BRUNO: O tempo que sobra é da minha esposa, né? Casei com 24, estou há 10 anos. Amamos série, vejo muito Netflix. Vi Homeland inteira, a do OJ Simpson também. Recebo muitos amigos em casa. Música eu escuto de tudo, mas não tenho essa necessidade de estar com fone de ouvido para ouvir. Samba de raiz eu adoro. Sobre as aspirações, escutei uma vez do próprio Sergio Hernandez o seguinte: "Você precisa olhar para o seu futuro e invista sempre. Isso é o que vai te preparar e te fazer melhor". Ano passado acabou o campeonato e passei uma semana com o Julio Lamas, no San Lorenzo, da Argentina. Aprendi muito, ele é fera. Penso também passar uns 15 dias na Europa. Em termos de aspiração, preciso estudar e me preparar cada vez melhor. Quero ser cada vez melhor nisso que eu me propus a fazer.

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