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Bala na Cesta

Em alta, Lucas Mariano relembra momentos difíceis e comemora boa fase em Brasília

Fábio Balassiano

01/02/2017 06h00

Lucas21O Brasília que entra em quadra hoje para enfrentar o Vitória-BA em casa (20h no ginásio da ASCEB) como líder do NBB (12 vitórias em 16 jogos) tem uma surpresa para quem acompanha o time há muito tempo: nunca nas nove edições da principal competição do basquete nacional um pivô liderou a equipe em pontos. A escrita está sendo quebrada na temporada 2016/2017 graças a Lucas Mariano, que está a apenas duas partidas de chegar a 200 no campeonato.

Ele se destaca em uma equipe recheada de veteranos como Fúlvio, Giovannoni e Pilar. Tem 19,3 pontos de média, mais que o dobro dos 8,8 registrados quando atuou por Mogi sem tanto brilho em 2015/2016 e a sexta maior marca do NBB, 7 rebotes (o oitavo) e 17,5 de eficiência (o décimo), tornando-se uma ótima arma do time do técnico Bruno Savignani.

Nem todo mundo lembra, mas aos 23 anos o jovem de Planaltina (Goiás) passou por um drama três anos atrás quando perdeu seu irmão (Leonardo), vítima de um afogamento em uma piscina em Limeira, interior de São Paulo. "Ele era meu melhor amigo, meu maior incentivador, e à época foi bem difícil manter o foco", relembra Lucas, que jogava em Franca. O tempo passou e hoje

O blog conversou com ele sobre a temporada e os próximos passos de sua carreira.

14-01-2017 - UniCEUB/BRBCARD x Flamengo - Foto: BritoBALA NA CESTA: Não é fácil ser, tão jovem assim, cestinha em uma equipe com tantos nomes consagrados do basquete nacional, né? Como está sendo este começo de vida em Brasília? O que mudou do Lucas que não foi bem em Mogi para o que está sendo um dos destaques deste NBB?
LUCAS MARIANO: Está sendo maravilhoso mesmo. O time está entrosado, o núcleo de fato é experiente e todos me dão muita confiança para arriscar, tentar coisas novas. Quase todos eles possuem bagagem internacional e isso dá bastante tranquilidade. Posso citar o Fulvio e o Guilherme Giovannoni, dois caras muito experientes e que ajudam muito. Sobre o que mudou, credito isso ao técnico Bruno Savignani. Estou jogando mais próximo da cesta e este é um artifício que por incrível que pareça para alguém do meu tamanho (2,07m) não usava muito. O Bruno fala bastante comigo sobre isso e em todos os demais aspectos do jogo que eu tenho que melhorar. É uma pessoa que acreditou muito em mim, disse que eu era capaz de evoluir. Devo a ele a volta da minha confiança.

14-01-2017 - UniCEUB/BRBCARD x Flamengo - Foto: BritoDentro de quadra é justo que eu cite quão fácil é jogar tendo um armador como o Fúlvio. Não te digo que eu daria 50% do meu salário pra ele, mas uma churrascaria por semana eu acho que ele merece (risos). O cara é fera e eu lembro de uma vez ter comentado com ele como eu gostaria de jogar ao seu lado. Ele fez uma dupla muito boa com o Murilo em São José e agora a mesma coisa se repete comigo. Está sendo um prazer jogar e aprender bastante com ele.

BNC: Pra Brasília não tem meio termo, né? O título é o foco total do time aí, certo?
LUCAS: A expectativa é o título mesmo, negar isso seria mentira. Mas sabemos que o NBB é muito equilibrado. Agora é manter o foco, conquistar o triunfo logo mais contra o Vitória, que tem a melhor defesa do campeonato, e manter a liderança que conquistamos recentemente. Queremos o mando de quadra pra termos a torcida no mata-mata e vamos lutar muito para conseguir isso. Depois, lá na pós-temporada, teremos que manter o foco para alcançarmos o nosso objetivo.

14-01-2017 - UniCEUB/BRBCARD x Flamengo - Foto: BritoBNC: Fora de quadra mudou algo? Sua carreira começou com um barulho em Franca, onde todos depositavam esperança, mas não foi tão bem em Mogi. O que mudou do Lucas que não foi bem em Mogi para o que está sendo um dos destaques deste NBB?
LUCAS: Mudou de tudo um pouco. O ambiente mudou pra melhor. A forma dentro e fora de quadra de eu lidar com a profissão mudou pra melhor. Conheci pessoas que me apoiaram muito. Vou de novo citar dois caras muito importante pra isso. Já conhecia o Guilherme e o Fúlvio de jogar contra, mas nunca estando no dia a dia. São caras incríveis e que deixam a gente muito à vontade. Minha vida foi muito difícil em termos de sofrimento. Já passei por várias coisas em minha vida. Posso citar também a minha namorada, Danielle. Me ajuda muito no dia a dia me passando muita paz no coração. Agradeço a ela diariamente.

lucasBNC: Sinta-se à vontade para não responder a essa pergunta, mas quando você fala em sofrimento deve citar a morte do seu irmão em 2013, certo? Você e Leonardo, claro, tinham uma ligação muito forte e imagino que o choque ainda seja sentido até hoje.
LUCAS: O Leonardo foi o maior companheiro que eu tinha na minha vida inteira. Tudo tem um começo, meio e um fim, e o meu começo foi com ele. Bem novinho, quando não tínhamos nada, dinheiro pra transporte para ir ao treino, ele sempre ia comigo andando. Foi meu parceiro da vida, de tudo, cara. Meu companheiro maior, meu braço direito, amigo, irmão. Sabe o maior significado da palavra amigo e irmão? Então, eu considero o Leo. Em todos os momentos difíceis ele estava e posso te dizer que estou onde estou hoje devido a ele. Sempre me motivou muito e segue me motivando.

14-01-2017 - UniCEUB/BRBCARD x Flamengo - Foto: BritoBNC: Você chegou a pensar em parar de jogar quando aquele fato ocorreu?
LUCAS: Pensei em parar de jogar, mas não neste momento porque o Leo não me deixaria fazer isso e eu não poderia frustrá-lo neste sentido. Pensei em parar de jogar antes. Sou um cara de Planaltina, Goiânia, e você deve imaginar as dificuldades que eu tive para me tornar jogador profissional. Pensei várias vezes em parar, sofri muito preconceito. Mas persisti. Em Franca, por exemplo, foi outro problema. Muita gente lá tem o basquete vindo de casa. Eu não e isso dificultou muito. Para alguns era mais fácil. Para mim, menos. Quando se é mais novo, você enxerga as coisas diferentes. Meus pais e meu irmão nunca me deixaram desistir. Eles acreditavam muito em mim e eu continuei.

Lucas31BNC: Nesta sua fase espetacular você pensa obviamente em fazer parte do próximo ciclo olímpico da seleção brasileira, certo? E Europa, NBA, também pensa?
LUCAS: Quero fazer parte desse novo ciclo olímpico, claro. Vestir a camisa do Brasil é uma alegria e uma honra. Já são vários anos batendo na trave, fiquei ali, pertinho, pertinho, e agora acho que chegou a hora. Pretendo estar nas próximas convocações. Sobre NBA, Europa ou qualquer coisa, te digo a verdade: aprendi com o tempo a viver muito o presente. Penso demais em estar na Europa, NBA, sei lá, mas eu prefiro viver do hoje, da minha vida. Meu pensamento atualmente está em dar um título pra Brasília. Depois eu penso no que vai acontecer. Se eu pudesse eu fazer tudo de uma vez eu faria, mas preciso andar devagarzinho.

BNC: Há alguém que você tenha como referencia, como ídolo no esporte?
LUCAS: Meus ídolos vêm da minha família. Eles vivem tudo comigo e pra mim. Sempre foi difícil e graças a eles eu consegui me tornar atleta profissional. Dentro de quadra, gosto muito do DeMarcus Cousins, do Sacramento Kings. Quando estive nos EUA uma vez nós treinamos juntos por um mês. O cara é sinistro, um tanque mesmo de forte e de técnico. Apanhei muito nos treinos, não tenho vergonha alguma de dizer isso. A fama dele não é a toa. Ele é doidão, mas é muito bom. Lembro que nos treinos eu não podia falar uma palavra em português porque ele não entendia nada e começava a gritar, berrar. É uma referência técnica pra mim.

Sobre o blog

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