Teodosic fala da próxima temporada, do mágico 2016 e avisa: 'Tenho certeza que jogarei na NBA'

Aos 29 anos, Milos Teodosic é uma das maiores estrelas do basquete mundial. Armador do CSKA que estreia hoje na Euroliga como o atual campeão contra o Galatasaray na Turquia, ele teve um ano mágico em 2016. Foi campeão continental e da liga VTB, que reúne de clubes da Ex-URSS, com o CSKA, clube que defende desde 2011, e no Rio de Janeiro conquistou a medalha de prata com a Sérvia na primeira participação do país nos Jogos.

O blog falou com o craque ao telefone na manhã de ontem e abordou a temporada que está por vir, a paixão da Sérvia pela modalidade e o seu 2016 incrível. Perguntei também, claro, se um dia o veremos na NBA, questionamento de dez entre dez fãs do basquete.

BALA NA CESTA: Dá pra descrever em palavras quão mágico é o seu ano de 2016? Campeão da Euroliga pelo CSKA, título da Liga Russa e medalha de prata com a Sérvia na Olimpíada do Rio de Janeiro. Não está ruim, né?
MILOS TEODOSIC: Difícil colocar em palavras um período tão especial como este. Mas é sem dúvida o melhor ano da minha vida. O melhor de todos. Deu tudo tão certo que tem horas que me pergunto se isso tudo que está acontecendo é real. Títulos com meu clube, medalha olímpica na primeira participação do meu país. É tudo muito incrível. Nessa lista de sucesso gosto de incluir também o meu Camp de Basquete, o TEO4, que abri recentemente na Sérvia e foi um sucesso. Neste site você pode encontrar mais informações se quiser. Dá pra ver quão orgulhoso estou sobre este feito, não?

BNC: O que você espera da temporada 2016/2017? Repetir o título da Euroliga é o objetivo número 1, correto?
TEODOSIC: Você está certo. Estamos cientes da dificuldade, mas vamos buscar de novo o título da Euroliga. O problema é que não somos apenas nós que buscamos isso, né? (Risos). Muitas equipes estão para isso. Este formato novo da temporada da Euroliga é muito mais difícil e ninguém pode prometer nada (Nota do Editor: Todos os 16 times jogam contra si em turno e returno na primeira fase, com os 8 primeiros se classificando para o mata-mata). Somos uma equipe boa, com um técnico excelente (Dimitrios Itoudis), mas isso não significa muito porque muitas equipes têm tantas qualidades como a gente. Mais do que nunca precisamos estar preparados para os desafios do campeonato e tenho certeza que estaremos.

BNC: Queria falar com você agora sobre a Olimpíada do Rio de Janeiro. Estava na Arena Carioca durante quartas-de-final contra a Croácia, na semifinal contra a Austrália e na final contra os EUA. Posso te dizer que a torcida brasileira, principalmente a galera que passou a ter mais contato com o basquete nos Jogos, ficou absolutamente encantada com o seu jogo, com seus passes e com seus arremessos. Foi bem comum ouvir na arquibancada assim: "Nossa, esse camisa 4 da Sérvia joga demais". Qual o seu momento favorito do Rio-2016? E qual o tamanho da emoção de ganhar uma medalha em sua primeira participação nas Olimpíadas?
TEODOSIC: Obrigado por isso palavras, Fábio. E devo dizer com toda sinceridade que para mim a torcida brasileira nos jogos da Sérvia foi incrível. Sempre nos apoiou, nos deu força e aplaudiu. Lembro de absolutamente tudo o que passou naquela Arena Carioca. Não consigo pronunciar esse termo "Carioca" de forma alguma. O que quer dizer isso?

BNC: Carioca? É a naturalidade de quem nasce na cidade do Rio de Janeiro. Eu sou carioca, por exemplo.
TEODOSIC: Ah, sim, entendo. Que sorte a sua então, hein (Risos). Mas devo usar esta oportunidade de conversar com um Carioca (Nota do Editor: e ele melhora a pronúncia) para agradecer a todos os brasileiros que torceram pela Sérvia nos Jogos Olímpicos. Obrigado a todos de coração. O melhor momento foi quando a gente venceu a Austrália na semifinal. Fizemos disparadamente o nosso melhor jogo e provamos a todos que somos os melhores do mundo, após os EUA, é claro. Foi uma emoção muito grande ter ganho uma medalha olímpica. Você cresce jogando basquete pensando nisso. Representar o seu país já é o bastante para um atleta. Ganhar uma medalha por ele, então, nem se fala.

BNC: É impossível não lhe perguntar sobre isso. Na Olimpíada você jogou contra muitos atletas da NBA – e inúmeros armadores. Todos elogiaram você. O Coach K, da seleção norte-americana, falou que você é um dos melhores do mundo em sua posição. Veremos, algum dia, você jogando na NBA? Ou isso não é algo que esteja em seus pensamentos?
TEODOSIC: Tenho certeza que irei jogar na NBA, mas não sei quando, por quanto tempo e nem por qual time. Atualmente sou jogador do CSKA por um ano mais e depois dessa temporada podemos ver o que irá acontecer com minha carreira. Não penso muito na NBA porque sou extremamente feliz jogando por este time e vivendo na Rússia. Sendo bem sincero: não quero ir para a América apenas para estar lá. Quero ir para a NBA com minutos e funções importantes). Quando tiver estes dois itens aí (minutos e funções importantes) eu irei.

BNC: Eu entrevistei a sérvia Milica Dabović antes dos Jogos Olímpicos e perguntei o segredo por trás do sucesso da Sérvia no basquete. Não é uma coincidência que seu país tenha conquistado duas medalhas no Rio de Janeiro – uma com as mulheres e outra com vocês. Como, a um brasileiro que nunca foi à Sérvia, você pode descrever a forma como o basquetebol é desenvolvido em seu país? Qual é a importância deste esporte estar presente no dia a dia de crianças e adolescentes na escola, por exemplo?
TEODOSIC: O que a Milica te disse a respeito? Apenas para eu não repetir a resposta (Risos)…

BNC: Ela disse: "Acho que essa é uma pergunta fácil de te responder começando pelo aeroporto. Quem desembarca na Sérvia é recebido com a seguinte placa: "Bem-vindo à Terra de basquete". É o esporte número um do país e esta placa descreve bem o que as pessoas na Sérvia pensam sobre basquete".
TEODOSIC: É uma ótima definição mesmo, mas a minha melhor descrição para dar aos brasileiros é que o nosso povo ama basquete tanto quanto vocês amam futebol. Aqui as crianças dormem com a bola laranja e joga-se basquete por todo país. Temos muitos talentos para esse esporte justamente pelo que você cita sobre o ensinamento do esporte nas escolas.

Crianças são ensinadas desde muito cedo sobre os fundamentos do jogo e a amá-lo e praticá-lo para sempre. Quando você tem uma criança jogando o esporte desde muito cedo é praticamente impossível que ela não vá seguir a modalidade para sempre. Daí porque temos uma base importante de fãs e seguidores do basquete na Sérvia. É algo que vem de berço e que é estimulado em escolas e clubes por todo país. É por isso que também abri o Camp para crianças de 10 a 16 anos. Para que eles possam ter outro bom lugar para aprender basquete. A escola sérvia de basquete é uma das melhores do mundo com uma equação muito simples: paixão, esporte ensinado desde a base e professores muito bons. Nossos treinadores são os melhores da Europa.

BNC: Por fim, com 29 anos e com tantas realizações, em que aspectos do seu jogo que você acha que há um espaço para melhorar?
TEODOSIC: A defesa, sempre. Essa é a parte do jogo em que eu melhorei muito de uns tempos para cá, mas preciso desenvolver este aspecto ainda mais. Além disso, devo manter minha cabeça calma e clara durante os jogos. Às vezes dou muito espaço para o meu coração e isso não é a melhor coisa a se fazer. É importante não reagir a uma provocação ou a alguma má decisão dos árbitro. Acho que estes são os dois principais pontos. Defesa e controle mental.