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Bala na Cesta

Rafa Luz fala da expectativa para a temporada em retorno ao basquete espanhol

Fábio Balassiano

09/10/2016 01h00

Rafa16Rafa Luz é um dos três brasileiros que disputam a Liga ACB espanhol que chega hoje à terceira rodada (os outros são Vitor Benite e Vitor Faverani, do Murcia). Retornando ao basquete ibérico depois de uma temporada com o título do NBB com o Flamengo, o armador de 24 anos chega ao tradicionalíssimo Baskonia, que neste domingo enfrenta o Barcelona em confronto de invictos (o FoxSports exibe a partida ao meio-dia e este blogueiro comenta o duelo), para continuar uma trajetória de sucesso no país em que atua há quase uma década.

Rafa7Formado nas categorias de base do Málaga e com passagens pelo Alicante, Granada e Obraidoro, Rafa, autor de 11 pontos na sexta-feira em ótima vitória contra o Murcia, é dono de um estilo de jogo cadenciado e totalmente em linha com o praticado na Europa, motivo pelo qual é valorizado no Velho Mundo. Conversei com ele sobre sua expectativa para a temporada com o Baskonia, as diferenças de ser um armador efetivo, como ele foi no Flamengo, e ser reserva, como será agora do norte-americano Shane Larkin, da Olimpíada do Rio de Janeiro e também do atual momento do basquete brasileiro.

Rafa35BALA NA CESTA: Qual a sua expectativa neste retorno para o basquete espanhol? Jogar em um time tradicional como o Baskonia é um desafio imenso, não?
RAFA LUZ: Minha expectativa é a melhor possível. Eu sei exatamente onde eu estou jogando. O Baskonia é um time de muita tradição na Espanha. No momento que Barcelona e Real Madrid dominam o basquete espanhol o Baskonia foi o único capaz de tirar títulos deles. Recentemente, em 2010, aconteceu isso quando o Marcelinho Huertas e o Splitter jogavam aqui. O time veio de uma temporada 2015/2016 muito boa, tendo chegado às semifinais da Liga ACB e Final Four da Euroliga. Jogar aqui então será excelente e ainda mais para um técnico como o Sito Alonso, que se dá muito bem com os jogadores, principalmente com os jovens. O Raulzinho, treinado por ele aqui na Espanha também, pode falar melhor que eu sobre isso inclusive. Estou muito focado em melhorar como atleta em todos os aspectos do meu jogo. Sei que não vou jogar tanto quanto vinha jogando em outros clubes, se bem que a temporada é muito longa e não dá pra cravar isso antes, mas sei da minha responsabilidade aqui neste time. A minha meta aqui é dar minutos de descanso ao Shane Larkin, armador titular, de forma qualificada, continuar evoluindo como jogador e quando tiver a oportunidade ser cada vez mais importante pro time.

Rafa17BNC: Ano passado você foi titular e campeão pelo Flamengo no NBB. Nesta temporada vai para o basquete espanhol, mais forte, mas será reserva do Shane Larkin, bom armador que vem da NBA. Como é isso na sua cabeça? Como fazer para se manter positivo menos com, provavelmente, menos tempo de quadra?
LUZ: Na minha cabeça não muda nada. Estou muito tranquilo com isso de ser reserva. Eu sei que ser reserva do Shane Larkin, um jogador que atuou na NBA, não é pouca coisa, né? E ainda mais jogando em um clube como o Baskonia. Minha cabeça está muito tranquila quanto a isso e o Sito, o técnico, conversou bastante comigo a respeito em uma reunião que tivemos. Em alguns jogos pode ser que jogue menos, em outros mais e o mais importante é manter a cabeça boa e estar sempre preparado para, quando as oportunidades surgirem, desempenhar o melhor papel. Uma das coisas que venho trabalhando muito esse lado psicológico. Não posso me abater nunca. Tenho que estar sempre positivo e aprender com todas as situações que surgirem.

Rafa13BNC: Uma das coisas que me chamaram a atenção quando você jogou no Brasil foi a adaptação que você teve que fazer ao seu jogo. Você cresceu como atleta na Espanha e tem um estilo mais cadenciado, estudado, com ótima leitura de jogo. No Brasil o basquete é diferente, mais rápido, mais "chutador". O jogo europeu te beneficia mais que o praticado no Brasil?
LUZ: É verdade. Sem dúvida meu estilo é mais, digamos assim, europeu. Isso ficou muito claro quando fui para o Brasil, principalmente no começo. Acho que inclusive foi um dos problemas que enfrentei. Essa comparação aí. Há dois tipos de armador, Bala. O que precisa da bola, finalizador, e o que não, aquele que prefere organizar e que gosta mais de deixar a bola na mão dos seus companheiros para arremessar. Estou neste segundo grupo. Foi uma comparação que fizeram comigo e com o antigo dono da posição, o Nicolas Laprovittola, que eu achei um pouco desnecessária inclusive.

Rafa18O meu estilo sempre foi assim, desde que eu comecei a ser alguém na Liga ACB. O pessoal demorou um pouco a entender o meu estilo de jogo e eu demorei um pouco a compreender um pouco melhor o estilo de jogo brasileiro. Eu não vou dizer que é um jogo que tanto faz no ataque ou defesa, mas sim que é um basquete que não se dá essa ênfase ao lado tático. Embora a gente tentasse fazer essa parte mais tática no Flamengo, jogando com mais cabeça, em alguns momentos das partidas o jogo ficava mais brasileiro mesmo. Mais ofensivo, de chutar quando a primeira chance aparecia. Eu fui criado no basquete na Espanha, né. Joguei oito anos seguidos aqui, me inspirei com os armadores aqui e acho que este é o meu estilo de jogo. Posso ser mais agressivo no ataque? Lógico. Quero sempre melhorar, mas não estou triste com a maneira que eu jogo, não. Alguns times buscam atletas com o meu estilo, como foi o Baskonia, e estou muito feliz com isso.

Rafa15BNC: De cabeça mais fria, agora com mais de um mês da Olimpíada terminada, como você analisa o desempenho da seleção masculina no Rio-2016?
LUZ: Friamente falando não acho que tenha sido uma campanha ruim. Todo mundo, lógico, esperava se classificar e brigar por medalha. A expectativa era muito grande em cima da gente e nós fracassamos. Fracassamos porque tínhamos essa cobrança de brigar por medalha. Mas se você assistir os jogos de novo nós perdemos de poucos pontos contra os times. Isso machuca porque isso nos custou a classificação. E principalmente no jogo contra a Argentina, que foi um baita confronto em que tivemos a oportunidade de ganhar duas vezes e não fomos capazes. Deixamos a nossa classificação ali. Sei lá, fracassado não seria a palavra. Foi um pouco inesperado, digamos. Prefiro não colocar tantos adjetivos ruins em coisas que aconteceram conosco, então gostaria de colocar assim. Acho que o trabalho feito antes da Olimpíada foi muito bem feito. Só que infelizmente cada jogo tem a sua história. Isso vai doer e vai ficar marcado com toda certeza. Era em casa, né, cara. Todos tinham muita esperança. Cada jogo, porém, é uma história e não fomos capazes de avançar diante de algumas potências europeias e a Argentina, que sempre é um machucado em nossos pés. Pensando por esse lado, dá pra falar em pequeno fracasso, sim.

Rafa12BNC: Por fim, tenho feito essa pergunta a todos os atletas que tenho entrevistado. Como você vê a modalidade no Brasil hoje? Consegue ver um caminho bom no esporte por aqui?
LUZ: O basquete brasileiro vem melhorando muito. Falei isso no ano que passei aí. A Liga Nacional de Basquete, o NBB, vem crescendo muito e todos estão vendo. Os caras estão fazendo um trabalho excelente, tanto de mídia como de deixar os jogos mais perto da população e de divulgação do basquete em sim. O problema é que os times não estão acompanhando esse crescimento. Acho que falta muito de parte social, e cito como exemplo ações de caridade como outro dia eu vi um pessoal do Caxias do Sul em hospital. Assim você divulga o esporte, e o basquete necessita muito.

Rafa1O basquete brasileiro tem matéria-prima, isso não é segredo pra ninguém. Acho que a Confederação Brasileira precisa fazer muito mais nesta parte de popularização e também na de categorias de base. Precisa criar novos jogadores para que o nosso esporte siga neste crescimento contínuo. Temos uma geração que deu muito para o país mas que nos próximos anos não estará mais em cena. E aí a nossa geração, a mais nova, a da geração 90, precisa ser incentivada. O Brasil precisa dar esse passo e faz tempo já. Começando a se organizar nas categorias de base e a Liga manter esse crescimento que vem fazendo. Trabalho espetacular da Liga, ressalto isso novamente. Em termos de divulgação eu vejo muitos jogos sendo exibidos em Rede TV, Sportv e Web, e isso é ótimo. Como continuar? Explorando mais e mais a imagem do jogador desde a base. Este trabalho vem sendo feito desde a base por aqui. Se você olhar o basquete espanhol, eles dominam todas as categorias desde a base tanto no masculino quanto no feminino. E aí a gente viu o que aconteceu na Olimpíada, né? Medalha com masculino e feminino. Isso não é causa, mas sim consequência de um grande trabalho feito pela Federação e Liga ACB. Este não é um processo rápido, sabemos disso, mas que tem que ser feito.

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