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Bala na Cesta

No reencontro de Flamengo e Vasco, a vergonha que o basquete não poderia mais passar

Fábio Balassiano

04/10/2016 12h50

vasco1Era pra ter sido uma noite de festa ontem no Tijuca, afinal Flamengo e Vasco voltariam a se encontrar de forma oficial depois de mais de uma década em partida válida pelo Campeonato Estadual. O ginásio com torcida única (pedido da Polícia do Rio de Janeiro), a do Fla, estaria lotado, já que os 1.500 ingressos foram vendidos de forma antecipada. Seria, também, a volta às quadras de Ricardo Fischer, armador rubro-negro contratado como maior reforço para a temporada, e a primeira vez de muitos deles disputando um clássico desse vulto. No final do dia, vitória vascaína por 82-77 em uma virada incrível no segundo tempo, provocações (sadias) nas redes sociais e paradoxalmente ABSOLUTAMENTE NADA para se comemorar.

nezo1Deveria, hoje, estar falando das ótimas atuações de Nezinho (19 pontos), David Jackson (14) e Fiorotto (19), atletas de um Vasco guerreiro e cerebral que teve paciência e brilhantismo para tirar 18 pontos de vantagem de um timaço como o Flamengo, mas seria tapar o sol com a peneira, algo que este blog nunca fez e nunca fará. E é impossível falar do jogo simplesmente porque houve uma confusão BIZARRA nas arquibancadas por parte da torcida rubro-negra, a única que pôde entrar no Tijuca, reitero este trágico ponto. Confusão, não. Confusões. Coloquei um dos vídeos no Facebook Bala na Cesta e você pode ver clicando aqui.

bruno1Não sei exatamente o motivo da confusão, e pra ser sincero nem interessa, mas o fato é que duas bagunças na arquibancada do ginásio do Tijuca paralisaram o jogo. A primeira, inclusive, prejudicou o Flamengo, que estava melhor e perdeu ritmo/concentração com o ocorrido. A terceira, depois do duelo terminar e com invasão de quadra de alguns "torcedores", poderia ter ocasionado algo BEM grave (ainda bem que não aconteceu). Isso, insisto, com uma torcida única. E houve gente que reclamou da determinação da Polícia do Rio de Janeiro, alegando ser, sim, possível colocar em um espaço esportivo rubro-negros e vascaínos. Infelizmente, e digo isso com uma dor danada, isso hoje não é viável.

pre1Alguns tentarão minimizar, outros farão o que sempre fazem (fingir que não aconteceu), mas a verdade nua e crua é que estamos na pré-história da convivência social no esporte (só no esporte?). PRÉ-HISTÓRIA! Qual o próximo passo no Brasil? Jogos sem torcida? Pode ser, hein. Acho que vamos chegar lá. Insisto em outro ponto: o problema não é ter torcida única. O problema é ter qualquer torcida organizada no ginásio/campo. Qualquer uma delas. Hoje foi a do Flamengo. Amanhã será outra. São animais selvagens que não conseguem concatenar uma ideia mas que são brutos o suficiente para acabar com qualquer ambiente pacífico. Aqui, aliás, um detalhe: cubro o NBB há 8 anos e NUNCA havia visto um problema com a torcida rubro-negra em ginásio. Sempre houve festa, gritos de apoio e, óbvio, pressão no adversário (pressão aceitável). O que aconteceu ontem? Por quê voltaram ao ginásio os marginais de sempre? Onde eles estavam escondidos? Só reapareceram porque havia um adversário do futebol do outro lado?

pre2Por mais inacreditável que possa parecer, ainda há uma espécie de glamourização das Organizadas por parte inclusive de órgãos de imprensa por aqui. Como se elas fossem de alguma maneira benéfica para o espetáculo esportivo. Não, não são. Bem ao contrário. "Torcedores" dito organizados AFUGENTAM as pessoas de bem do esporte, seja ele qual for. A culpa, nisso tudo, não é só dos clubes, quase sempre cúmplices, mas também de Polícia, Ministérios, jogadores que fazem uniões espúrias e organizadores dos campeonatos que podem até tentar, mas não chegam a solução alguma para acabar com um problema crônico como este. Pergunta básica depois de ontem para quem tem filho/filha: alguma chance de você levar seu/sua pequeno/pequena a um ginásio de basquete depois das imagens desta segunda-feira?

fim1No momento atual do basquete, com CBB destroçada, seleções eliminadas na primeira fase de uma Olimpíada em casa e divisões de base sucateadas, esperava-se que os campeonatos dos clubes dessem uma levantada nos ânimos, e nos apelos, da modalidade. Infelizmente no primeiro clássico entre Flamengo e Vasco fomos trazidos à realidade novamente. O esporte que a gente tanto ama tem uma capacidade de se matar, de se afogar, de se destruir, de enforcar, invejável e como nenhum outro aqui no país. Não sei o que irá acontecer no próximo duelo entre os dois times (no returno e provavelmente nas finais do Estadual, e também na fase regular do NBB), mas estamos diante de um cenário preocupante, sem solução e pouco animador. Outra pergunta importante: o que a Liga Nacional de Basquete (LNB) está pensando a respeito para os dois duelos já marcados? Continuará com sua ideia (pouco recomendável) de jogo com duas torcidas? Como será a segurança? Igual a de ontem? É importante que a diretoria da entidade sente desde já em uma mesa para planejar dois eventos complexos – eventos de risco, diga-se.

O basquete não pode mais passar por tantos problemas se quiser realmente crescer organicamente no Brasil. Do jeito que está, e de novo fazendo a analogia com o jogo de tabuleiro, nem os passos pra frente serão vistos caso as confusões continuem. Que pena.

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