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Bala na Cesta

Técnico da seleção masculina, Tiago Frank analisa 5º lugar na Paralimpíada

Fábio Balassiano

26/09/2016 12h50

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feminina1A medalha sonhada não veio, mas o desempenho das seleções brasileiras paraolímpicas no Rio-2016 não decepcionaram. Com a vitória por 57-39 contra a França, as meninas conseguiram o melhor resultado da história do país em Paralimpíadas. O mesmo feito foi alcançado pelos rapazes, que venceram a Austrália por 70-69 para chegar na quinta posição, também o melhor desempenho do time masculino na competição.

frank7O blog conversou com Tiago Frank, de 33 anos e técnico que assumiu a seleção masculina há pouco menos de um ano, sobre o Rio-2016 e os próximos passos da modalidade. Sem contrato após a Paralimpíada, o treinador de fala fácil que dirige equipes paraolímpicas de Caxias do Sul (RS) há cerca de sete anos usou durante todo evento histórias para motivar seus atletas, como a de Phil Jackson, multicampeão da NBA, e diz que não tira o livro "A Pirâmide do Sucesso", de John Wooden, maior vencedor do basquete universitário americano, da cabeceira.

Vamos à entrevista com o comandante responsável pela melhor campanha da história brasileira em Paralimpíadas.

frank4BALA NA CESTA: Fazendo hoje uma análise fria, dá pra dizer que a quinta posição, a melhor do basquete paralímpico brasileiro, foi um ótimo resultado, não?
TIAGO FRANK: Eu diria que a quinta colocação foi um bom resultado, sim. Nosso objetivo era passar para as quartas-de-final, o que seria, como acabou sendo, um feito inédito. Saímos satisfeitos dos Jogos Paralímpicos, mas fica, sim, um sentimento de que poderíamos ter ido mais além principalmente quando analisamos a partida contra a Turquia nas quartas-de-final. Não realizamos um bom primeiro tempo. O grupo lutou muito no segundo tempo mas não conseguiu reverter.

frank8Fizemos bons jogos na fase classificatória, outros não tanto, mas destaco o contra a Grã-Bretanha (derrota por 73-55) em que tivemos uma excelente atuação diante de uma equipe tradicional e que depois conseguiu a medalha de bronze na competição. O grande trunfo foi a disputa de quinto lugar. A Austrália é a atual campeã mundial e nós conseguimos um excelente resultado. Trabalhamos ​no decorrer da preparação e dos Jogos para que os atletas desempenhassem as suas habilidades ao máximo e creio que este resultado tenha sido uma consequência do nosso esforço conjunto.

cbcc2BNC: Qual foi a emoção que você e seu grupo sentiram quando entraram para jogar a primeira partida contra os EUA e verificaram a Arena Carioca lotada? Foi difícil controlar a emoção?
TIAGO: Atuar em um ginásio diante da torcida brasileira exigiu um elevado nível de concentração a fim de controlar as cargas emocionais. Acredito que todos os membros da equipe estavam muito envolvidos com o evento. É claro que no universo do alto rendimento a emoção em excesso atrapalha, pois dificulta uma tomada de decisão racionalizada, e por isso trabalhamos constantemente no fortalecimento mental . Mas confesso que principalmente na estreia contra os EUA em uma Arena lotada foi difícil. Isso pesou, fazendo com que não tivéssemos um bom jogo. Mas a torcida se manteve incentivando durante todos os jogos, independente do placar ou resultado. Ter a torcida tão próxima e tão intensa ao nosso lado era algo novo, diferente do que estamos acostumados. Como isso se repetiu da primeira para as demais partidas, passou a ser natural e aprendemos a lidar com a situação.

frank1BNC: Para quem acompanha pouco o basquete paralímpico, você consegue descrever as maiores dificuldades que vocês enfrentam? É apoio? É popularização do esporte? Como quem gostou de vê-los na Paralímpiada poderia acompanhar / apoiar mais o paralimpismo?
TIAGO: Olha, Fábio, o esporte paraolímpico em termos de movimentação e de mídia é algo bem recente. Podemos notar um crescimento em termos de divulgação, de apoio no Rio-2016 e esse é um dos legados das Paralimpíadas. Potencializou o interesse da sociedade em conhecer o movimento paraolímpico. No caso do Basquete em Cadeira de Rodas a gente tem a modalidade mais antiga difundida no Brasil. Pessoas com deficiência que procuram no paradesporto uma ferramenta de qualidade de vida e inserção social acabam cruzando com o basquete em cadeira de rodas.

cbccBuscamos nosso espaço para maior popularização, e acredito que isso aconteça de uma forma geral no esporte olímpico como um todo, não só no paraolímpico. Precisamos de investimentos maiores principalmente da iniciativa privada. Hoje, por exemplo, a Confederação Brasileira de Basquete em Cadeira de Rodas não conta com nenhum patrocinador privado. Espero, sinceramente, que as Paralimpíadas tenham dado essa grande alavancada no movimento paralímpico. No nosso caso, torço para que as pessoas possam prestigiar as iniciativas que já existem em suas cidades, acompanhando jogos, dando força aos atletas. Creio também que as prefeituras municipais possam ser mais atuantes em termos políticas públicas para pessoas com deficiência.

frank10BNC: Quais os próximos passos dessa seleção a partir de 2017?
TIAGO: Para 2017 está prevista a Copa América, classificatória para o Mundial de 2018. Em 2019, o Para-Pan de Lima, no Peru, que classifica para a Paralimpíada de Tóquio, em 2020. É bem parecido com o que acontece no basquete olímpico pela FIBA. Temos também a cada dois anos o Sul-Americano. O deste ano foi em Cali, na Colômbia, em que nos sagramos campeões diante da Argentina. Além disso, há o Sub-21 e o Sub-23, que é realizado em âmbito internacional.

frank6BNC: Você me disse que não sabe se continuará na seleção, mas imagino que a vontade seja grande. Há alguma meta que você acaba colocando para si mesmo neste ciclo olímpico que se inicia caso seja o técnico?
TIAGO: Penso que existe um desejo mútuo de continuidade do trabalho. Digo isso em relação a atual gestão da Confederação, aos atletas e também de minha parte. Desejo continuar no cargo e posso te adiantar uma meta para 2020: extrair o que há de melhor de uma equipe para colocá-la em condições de batalhar por uma medalha. Acredito que com a qualidade técnica que temos no Brasil associada a um bom planejamento podemos pensar em estar novamente entre as grandes potências do mundo.

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