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Bala na Cesta

Análise Final - Seleção Brasileira Masculina no Rio-2016

Fábio Balassiano

26/08/2016 01h00

Eu sei que, agora, não adianta de muita coisa. Os Jogos Olímpicos acabaram há quase uma semana, o Brasil foi eliminado na primeira fase com a campanha de 2-3 (vitórias contra Espanha e Nigéria, derrotas para Lituânia, Croácia e Argentina) e, mais do que isso, Rubén Magnano já não é mais o técnico da seleção brasileira masculina ( aqui ). De todo modo, vamos lá a análise final dos acontecimentos na Olimpíada do Rio de Janeiro para o time masculino.

O QUE DEU CERTO:

nene11) Nenê – Que Olimpíada fez o ala-pivô (agora) do Houston Rockets. Intenso, bem fisicamente, atacando a cesta muitíssimo bem, passando ainda melhor e marcando com força. Fez três partidas muito boas (Lituânia, Argentina e Nigéria), e contra os hermanos simplesmente massacrou a Luis Scola com 24 pontos e 11 rebotes. Terminou os Jogos Olímpicos com 13 pontos, 6,4 rebotes e 3 assistências de média. Mais do que isso: conseguiu ser aplaudido pela torcida brasileira. Torcida brasileira que, anos atrás, em 2013, vaiou o cara em um amistoso da NBA. Se a Olimpíada foi um desastre para a seleção brasileira, eliminada na primeira fase, ao menos para o camisa 13 serviu para que ele voltasse a ficar bem com a galera. Em vários momentos teve seu nome gritado, vivendo momentos emocionantes.

benite2) Vitor Benite – Benite terminou as Olimpíadas com a melhor média de pontos por minuto da seleção brasileira. Teve 7,8 pontos por jogo nos Jogos do Rio de Janeiro. Por razões magnanianas que fogem da minha compreensão jogou apenas 13 minutos por jogo. Aos 26 anos, ele é o ala, para jogo FIBA, com a melhor combinação de defesa, arremesso, leitura de jogo e passe que o Brasil tem em seu elenco. Contra a Argentina, marcou bem a Manu Ginóbili e a Carlos Delfino, fez 13 pontos em um período (o segundo), incendiou a torcida, ajudou o Brasil a virar o jogo antes do intervalo e estava com uma confiança absurda. Magnano o sacou, Benite só jogou mais dois minutos na segunda etapa e o Brasil perdeu. Por inacreditável que possa parecer, seu único jogo com 20+ minutos foi o contra a Nigéria. Contra os africanos o camisa 8 respondeu com 15 pontos. Ali, porém, já era tarde. Benite merecia mais tempo de quadra, algo que ele verá apenas neste próximo ciclo olímpico, quando será uma das principais peças da seleção brasileira visando a Olimpíada de Tóquio em 2020.

torcida13) A sinergia torcida / time – Fui a dois jogos da seleção brasileira (Lituânia e Argentina) e não me lembro de ver uma sinergia tão bacana entre torcedores e equipe nacional de basquete. Nem no Mundial de 2006, quando a seleção feminina chegou às semifinais enchendo o ginásio do Ibirapuera contra a Austrália eu vi isso. Foi bonito, realmente bonito, de ver. No jogo contra a Espanha, na vitória agônica com o tapinha do Marquinhos, foi incrível ver a atmosfera do ginásio pulando, pulsando, se emocionando com o mais emocionante dos esportes. Talvez por isso é que tenha escrito da oportunidade que o basquete perdeu (com a eliminação precoce). O público queria se apaixonar pela seleção brasileira como também dissemos no Podcast. Queria voltar a se enamorar do basquete depois de anos de problemas. Queria saber quem são os novos ídolos. A tentativa de reconciliação, porém, durou apenas cinco jogos, três brigas e um não definitivo. A seleção marcou o encontro com a amada e se esqueceu do horário da festa. O que era pra ser amor virou irritação.

O QUE NÃO DEU CERTO:

Bra51) Rubén Magnano – Se não foi o único responsável, porque os jogadores erraram absurdamente em quadra também (nas faltas não cometidas em Ginóbili e Nocioni sobretudo), foi um dos principais (provavelmente o principal). Durante toda a competição tomou decisões equivocadas (e o técnico é o tomador de decisões, não?), viu seu time ser eliminado na primeira fase e no final das contas ainda conseguiu ter a pachorra de cair na dos tais protagonistas. Como se Bogdanovic, Campazzo, Nocioni, Mills, Dellavedova e até Scola fossem os principais jogadores de seus times. Aham, sei. Sobre o jogo com a Argentina eu enumerei sete erros capitais de Magnano. É só pegar a mesma fórmula e multiplicar por cinco. O agora ex-técnico cometeu os mesmos erros em TODOS os jogos da primeira fase da seleção brasileira. Um primor.

magnano11.1) Nem vou voltar a falar sobre seus métodos antiquados e retrógrados, pois estes pontos já foram abordados em textos anteriores. Só deixo uma perguntinha: quem termina a Olimpíada mais conhecido do público brasileiro, Carmelo Anthony ou QUALQUER jogador da seleção nacional? Carmelo foi a Santa Tereza, ao Cristo Redentor, ao Morro do Dona Marta, a um Projeto Esportivo social na Comunidade, a NBA House, aos jogos dos times americanos no vôlei de praia e demais esportes. E jogou muita bola. Os atletas de Magnano? Ficaram trancafiados desde o começo de julho. Quantas atividades sociais, de aproximação ao público, deixaram de ser feitas porque o treinador acreditava que isso mexeria com a cabeça dos atletas? Na mentalidade ditatorial/generalesca de Magnano, ganha-se assim. No basquete, e na vida, ganha-se com treinamento, performance e comprometimento. O resto, como também venho dizendo, é acessório e conversa que só brasileiro muito conservador ainda cai. Adianta do quê? De nada, né. A seleção americana, a Austrália, a Sérvia e a Espanha vieram ao Brasil, aproveitaram, curtiram o momento e na quadra demonstraram suas qualidades.

masc22) Sistema ofensivo – Havia muito tempo que não via um ataque de seleção brasileira tão ruim. Estático, sem imaginação, quase sempre finalizando as jogadas no um-contra-um, algo que, sabemos, é uma das piores jogadas em termos de conversão do basquete mundial. Duas coisas me chamam a atenção nisso tudo: 1) Quando são contratados para jogar no exterior, invariavelmente os jogadores brasileiros são elogiados por seus técnicos devido a sua capacidade de improvisação, por sua inventividade. Por que quando vestem a camisa da seleção eles são sumariamente castrados? É óbvio que precisamos ter organização tática, sistema, treinamento, isso tudo. Mas Huertas é um mago dos passes na quadra aberta. Quantas chances ele teve de fazer o que realmente sabe correndo com a bola?

raul1A seleção masculina quis porque quis jogar no meia quadra europeu que faz sucesso com times que são muito bons nisso e que possuem ótimos arremessadores (Kuzminskas, Bogdanovic, Maciulis, Rudy Fernandez, Patty Mills). O Brasil não possui um arremessador muito confiável do perímetro, mas tem ótimos jogadores de velocidade (Leandrinho, Huertas, Raulzinho mesmo). A seleção terminou chutando 20% de fora. Marquinhos, o melhor arremessador do elenco, 21%. Qual o motivo de Magnano ter insistido em SUA fórmula de sucesso de 15 anos atrás com a Argentina? Não teria sido melhor adaptar os seus conceitos ao material humano existente por aqui?; 2) Que jogadas de final do jogo são aquelas que temos armadas para nossos atletas? No duelo contra a Argentina o Brasil tinha 3,8 segundos de posse no final do tempo normal. E Nenê recebeu a bola na EXTREMIDADE DO GARRAFÃO (perto da lateral) para fazer um drive COMPLETO em direção a cesta. Isso é sério? Em nenhum lugar do mundo daria certo.

magnano13) Começos ruins – Contra a Lituânia o Brasil foi para o intervalo perdendo de 58-29. Contra a Croácia, 41-31. Para a Argentina, primeiro período com vantagem hermana de 28-19. Diante dos nigerianos, vitória africana na primeira parcial por 16-15. Qual o motivo para uma seleção brasileira jogando em casa começar tão mal assim as partidas da uma Olimpíada? Vão me desculpar, mas o argumento de "nervosismo" não me parece o mais adequado. O fato é que das partidas com começos ruins o Brasil não conseguiu se recuperar em duas (Lituânia e Croácia), atuando atrás no placar o duelo inteiro e saindo derrotado no final. O time correu como um maluco para se recuperar, mas no minuto 40 terminou a partida com o revés. Isso pesou na classificação final. O confronto contra a Lituânia, sinceramente falando, eu não me conformo até agora. O Brasil estreava em uma Olimpíada diante de seu torcedor, o ginásio estava lotado e a apatia fez um timaço de bola ir para o vestiário anotando quase 60 pontos. Foi o pior recado possível.

masc64) Senso de urgência / "Visão de Mercado" – O ponto acima se relaciona com este, mas não totalmente. Meu ponto, mesmo, aqui tem a ver com o que a eliminação precoce representaria, como representou, para o basquete brasileiro. A Confederação não foi capaz de demonstrar aos atletas quão grandioso e quão impactante para a modalidade seria uma medalha olímpica. Os jogadores, por sua vez, não demonstraram (perdão pela palavra) o tesão que a gente viu em times como Argentina, Austrália e Sérvia para ir longe. Eu falo bastante em profissionalismo por aqui, mas para jogar em seleção é preciso paixão, muita paixão. O que vimos em quadra era um time jogando, aparentemente, um torneio qualquer, algo que sabemos que não era (era uma Olimpíada e em casa, algo que não se repetirá com essa geração).

masc1Se não é o que eles sentiam (e provavelmente não é mesmo!), é a percepção que foi passada (e neste caso a percepção é pior do que a realidade, pois é com ela, a percepção, que o público vai pra casa). Não me pareceu, no final das contas, haver a noção histórica do que uma campanha que culminasse com a medalha representaria. Não me pareceu, também, que atletas, comissão e CBB tivessem a noção de mercado que ela, a medalha, traria de benefícios a um esporte que patina através de sua endividada Confederação e que vê, ano a ano, clubes fechando as portas. A Olimpíada, com uma medalha ou uma campanha digna, poderiam representar o ponto de partida para a retomada daquilo que já foi a modalidade. Aí acabamos a Olimpíada e o que temos? Um novo ídolo na canoagem (Isaquias fenomenal!), o judô e a vela sempre medalhando, o futebol conquistando a sua inédita medalha dourada e o vôlei saindo do Rio-2016 com dois ouros – na quadra e na praia – e uma prata. O basquete? Eliminado na primeira fase do masculino e do feminino. Qual o impacto para as próximas gerações? Não é algo positivo, né?

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