Depois do vexame na Olimpíada, a hora da reflexão pro basquete brasileiro - tem solução?
Passaram algumas horas, e obviamente o gosto amargo de ver uma seleção brasileira sendo eliminada na primeira fase das duas Olimpíadas (masculina e feminina) não passa assim tão rápido. O fato é que a modalidade perdeu uma oportunidade monstruosa de se desenvolver, de se popularizar, de se mostrar ao público de uma maneira mais simpática – e mais vitoriosa. O vexame, colocado no texto, não é por causa da derrota, de perder jogos, mas sim COMO foram perdidas as partidas. E como foi desperdiçada uma chance de ouro (alguém já parou pra pensar que os Jogos Olímpicos de Tóquio terão quase todos os jogos na madrugada, diminuindo ainda mais o alcance dos esportes olímpicos sem resultado por aqui?). Se por um lado as Ligas Nacionais (NBB e LBF) tentam, mesmo com seus erros, crescer, a gente sabe que em modalidades olímpicas resultados em Mundiais e Olimpíadas contam muito, muito mais. Em uma analogia com um jogo de tabuleiro, uma parceria com a NBA para a Liga Nacional de Basquete (LNB) vale andar cinco casinhas. Uma medalha olímpica, umas 30. No mínimo.
Mas "só" lamentar ou apontar culpados neste (específico) fracasso de dimensões planetárias adianta muito pouco. Farei análises dos dois lados técnicos (de Magnano e Barbosa, sobretudo) até o final da semana. O que o basquete brasileiro deve fazer, em todas as suas esferas, no entanto, é olhar pra dentro de si pra tentar entender o que está acontecendo – e não é de agora, mas sim de 20, 30 anos pra cá. O problema é MUITO maior do que os seus dois técnicos que não foram bem no Rio-2016. E olhar pra dentro de si não é discutir se jogador da NBA deveria vir ou não, se jogadores de fora são menos confiáveis para equipes nacionais ou não, mas sim algo muito, muito, muito maior. Reduzir o estado terrível em que se encontra o basquete atualmente a "este cara é patriota" ou "o cidadão ali é merecenário" é simplista, míope e não ajuda em nada a entender exatamente os motivos que levaram a modalidade a se atolar tanto em uma lama suja, profunda e difícil de limpar.
Um dos problemas do basquete brasileiro (entre tantos) é a sua falta de senso crítico, o seu conservadorismo, o seu estado retrógrado (bastante retrógrado!) e a falta de cabeças, dentro da Confederação Brasileira de Basketball, inovadoras, inventivas, planejadas, organizadas e sobretudo que tenham um mínimo de noção do que é uma gestão profissional. O que vimos neste período pré-olímpico? Treinos fechados, um mal conduzido corte de um atleta como Varejão, jogos para convidados (estamos em 2016, hein…), nenhuma ação social para envolvimento com a comunidade, atletas já cortados treinando sem serem avisados, problemas com seguros (de novo!), um técnico que manda em tudo porque não é contestado nem por seus chefes (o Senhor Vanderlei e o Senhor Carlos Nunes), jogadores passivos para tudo e a tal "comunidade do basquete" anestesiada aplaudindo toda e qualquer tacada do seu treinador até começarem os Jogos Olímpicos pelo simples e singelo objetivo de ser "amiguinha", "parceira", "querida" por atletas e treinadores. Falta, para quem já acompanha a modalidade, um pouco mais de maturidade também – sobretudo para a imprensa, que deveria cobrar, e não mimar.
Se métodos ditatoriais ganhassem jogos, a seleção norte-americana perderia sempre. É o time mais aberto do mundo, com contato com imprensa, público, horários livres e tudo mais. O que vale, no esporte e na vida, é ter alta performance, rendimento, qualidade, organização e comprometimento. Palavras de ordem como "foco", "disciplina", "ordem" e que tais valem para meninos de cinco, seis anos de idade. Estamos falando de atletas profissionais, todos maiores de idade e vacinados. Tratá-los como bebês é um erro que a entidade máxima (e a tal comunidade do basquete) insiste(m) em cometer. Para quem prega a liberdade, o lado empresarial do esporte e a aproximação do povo acima de tudo, como eu, é um verdadeiro escárnio.
Desculpe dizer isso a vocês, mas Carlos Nunes e seus colegas que ocupam um andar na Avenida Rio Branco, Centro do Rio de Janeiro, não têm a menor ideia do que são, atualmente, as melhores práticas de administração esportiva do mercado. Fazem, e tratam, do esporte, da mesma maneira que 30, 40, 50 anos atrás. E neste tempo todo não só o esporte, mas o mundo mudou muito. E esses caras seguem fazendo as coisas da mesma maneira que a década de 60, 70 e 80 via. Quem acompanha este espaço sabe que gasto boas doses de teclado com críticas fortes ao tenebroso comando da CBB, certamente a principal (mas não a única) responsável pelo estado de putrefação, pelo cheiro de lixo podre em que se encontra a modalidade atualmente (e faço isso praticamente sozinho, algo que me dói muito também, pois é uma guerra que travo na imprensa diária e solitariamente, infelizmente). Os defensores desta gestão pífia estão por aqui hoje pra defender, como fazem há 8 anos, o indefensável Nunes e sua trupe? Caso sim, sugiro aparecer.
É sempre bom lembrar: a entidade máxima do esporte que a gente tanto ama é um castelo de cartas (ou notas, muitas notas) erguido com dinheiro público (muito, pessoal, é muita grana – mais de R$ 70 milhões nos últimos cinco anos), que conta com a chancela do Ministério do Esporte (só pro Rio-2016 foram mais de R$ 10 milhões investidos na modalidade) e que mesmo assim há anos apresenta dívidas seríssimas (mais de R$ 17 milhões de acordo com os últimos balanços aqui neste blog analisados). A dita administração de Carlos Nunes, aprovada com louvor por quase todos os presidentes de Federação há anos, é uma farsa, uma mentira, uma história que nem boi consegue dormir mais (embora boa parte da imprensa ainda caia nas palavras do gaúcho).
Com o lado financeiro sangrando, esperava-se que alguma coisa estivesse sendo feita pelo esporte em termos de investimento a longo prazo. No entanto, os famosos resultados esportivos, algo que tanto se gaba o presidente Nunes, também são uma farsa, uma mentira que alguns ainda aceitam (que alguns inacreditavelmente ainda aceitam). A verdade é uma só: o Brasil é um zero a esquerda no basquete masculino mundial há mais de 20 anos, e o feminino se sustentou até 2004 sabe-se lá como. Na verdade por Paula, Hortência e Janeth, além de milagre e pelo trabalho hercúleo dos que ainda tentavam acreditar que a Confederação investiria nas meninas. Aham, sei. No masculino, já são 52 anos sem um pódio olímpico e 38 longe do pódio em Mundiais.
A parte técnica, que sucateia o trabalho de base dia após dia (vejam os trabalhos de formação pelo Brasil e terão noção de quão atrasado o país está), é tão ridiculamente administrada que nem mesmo um campeão olímpico consegue ser bem aproveitado no decrépito basquete brasileiro. Não adianta contratar Rubén Magnano, se quem deveria comandá-lo, ou direcioná-lo, não tem a menor habilidade ou capacidade de dialogar, discordar, trocar ideia com o argentino. Só bater palma ou dizer "pô, o Rubén sabe tudo, meu" antes de soltar a gargalhada da hiena não adianta de nada, né? Todo mundo menos o pessoal da CBB sabe.
Deixo aqui um questionamento importante a Federações, que elegeram Carlos nunes e Grego há quase 20 anos, atletas, clubes, dirigentes e técnicos: estão satisfeitos com os rumos da modalidade, estão felizes em ver o Brasil apanhando em 8 dos 10 jogos da primeira fase da Olimpíada? Caso não, o que irão fazer pra mudar? Provavelmente nada. Sabem por quê não? Porque o sistema é errado, o sistema está invertido, o sistema "suga" as pessoas boas do basquete para o lado ruim da força – ou as que se mantêm boas saem da modalidade. As Federações, que elegem um presidente de Confederação, logo depois da eleição deveriam ser cobradas pelo tal presidente eleito. Vocês acham que isso acontece? A relação tácita de poder é: "Eu (Federação) te coloco lá, e quando você (presidente) estiver lá é só não me encher a paciência". Ou inverte-se a pirâmide, a forma de se pensar em poder no basquete brasileiro, ou não irá mudar absolutamente nada.
Voltando a Confederação Brasileira de Basketball. Enquanto for administrada por pessoas de capacidade minúscula, pessoas com capacidade gerencial minúscula, pessoas com ideias infantilóides (censura, esconder balanço financeiro, mídias sociais toscas, marketing inexistente, cultura de basquete ridícula e nenhum pensamento na formação de atletas), o basquete não sairá do fundo do poço. Citem os nomes diminutos que vocês quiserem aqui, falem o que faltou ser falado por este escriba, mas vamos parar na mesma central questão. O problema do basquete é um só: gestão, gestão e gestão. Se preferirem podem trocar por seriedade, seriedade e seriedade.
O basquete quer mesmo voltar a ser grande? O basquete quer mesmo voltar a ser encarado como um esporte popular? O basquete quer mesmo ser visto como um esporte sério? O basquete tem pessoas capazes de recolocá-lo nos trilhos? Caso sim, o debate entre todas as esferas (Confederação, Federações, Clubes, Técnicos e Jogadores) deve começar a partir de agora, a partir deste triste 16 de agosto de 2016, o dia post-mortem do basquete brasileiro. E podem ter certeza que nesta terça-feira todos que amam o basquete saem perdendo – de jogadores, passando por imprensa, culminando com treinadores e dirigentes, e isso não é bom, obviamente.
Meu único receio é que para cada uma das perguntas que fiz acima a resposta seja uma só: "Não, o basquete se acostumou com o estado de mediocridade em que se encontra e não quer sair dele". Como digo há alguns anos: o grande problema do basquete brasileiro é que o poço, com o passar dos acontecimentos, é sempre mais fundo do que a gente imagina (talvez nenhuma outra modalidade represente tanto atualmente o que é o país na mão destes políticos horríveis). Quando a gente acha que já viu tudo, a situação se deteriora, piora, se torna mais suja, ganha contornos de crueldade e de inversão de valores (vejam a relação com a imprensa independente, livre e crítica, como tenta ser este blog, e a entidade e terão noção do que estou falando). Repetindo a pergunta de sempre: se faz tudo igual, com as mesmas ideias retrógradas, se age igual, com o mesmo podre planejamento, e se é dirigido basicamente pelas mesmas mentes há quase duas décadas, como o basquete espera ter resultados práticos (financeiros, técnicos, de popularização e administrativos) diferentes?
Quando se faz tudo igual, estimados leitores, não se pode esperar nada de diferente. E com esta galerinha na CBB, a certeza que tenho é: desta draga o basquete não sai tão cedo. No mínimo até 2017, quando acaba o segundo mandato de Carlos Nunes nada irá mudar. E no lugar dele, quem irá? O ideal, o ideal mesmo, seria Nunes pegar o seu boné e sair, mas sinceramente é impensável, pois ele não liga absolutamente nada para o estado da modalidade. Não tem o menor comprometimento com os resultados (de quadra e fora dele), não pensa no presente e não planeja o futuro. O que, aliás, faz o presidente Carlos Nunes em seu cargo? Parece impossível, hoje, dizer isso, mas quem sabe daqui a seis meses, com a época da nova eleição presidencial da CBB, alguém diferente saia da toca e venha a renovar não só a política da casa, mas principalmente arejar as ideias. Quem será o Messias?
Agora, dia 16 de agosto, isso me parece impossível de ser pensado – ou repensado. Com nunes e seus coleguinhas minúsculos (minúsculos em termos de ideias, de capacidade administrativa, de sabedoria pra reverter a situação mesmo) no comando da não menos diminuta cbb a certeza é: o basquete NÃO vai mudar (pior: por eles, o basquete não precisa mudar porque está tudo bem, está tudo ótimo). E esta é a maneira triste como um texto post-mortem deve acabar.
Com estes caras, o basquete brasileiro NÃO vai mudar.
E sabem por que ele (o basquete brasileiro) não vai mudar? Porque 90% do que você leu agora foi escrito em 4 de setembro de 2013, dias depois de outro vexame da seleção – a eliminação para a Jamaica na Copa América. Elementar, não?
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