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Bala na Cesta

Kevin Durant, Warriors, Thunder, atalhos e o século XXI

Fábio Balassiano

05/07/2016 01h00

durant2Faltavam, naquele sábado, 28 de maio de 2016, cinco minutos para o Oklahoma retornar à final da NBA. Kevin Durant acertara um arremesso, o placar apontava 96-89 para o Thunder, a torcida delirava com a possibilidade de eliminar o time de melhor campanha da história e o champanhe da comemoração do título do Oeste já estava no gelo. Cinco voltas no ponteiro e a celebração começaria.

O relógio andou, o Thunder parou e o Warriors voou. Klay Thompson acertou bolas improváveis e seu time terminou a partida com uma sequência de 19-5, fechando a peleja em 108-101. O Golden State Warriors levou a decisão do Oeste para o sétimo jogo em Oakland e aí vocês já sabem do restante da história.

durant1Faço esse preâmbulo todo para tentar entender o que se passou na cabeça de Kevin Durant para ter escolhido (e anunciado) o Golden State como o seu novo time. O ala informou ao mundo todo ontem no Players Tribune que depois de nove temporadas sairia do Oklahoma City Thunder justamente para jogar no time que acabara de eliminá-lo na final do Oeste. Seu contrato será de dois anos e US$ 54 milhões, com a possibilidade de renegociação após o primeiro ano, quando o teto salarial da NBA deverá aumentar ainda mais.

durantula1Antes de falar do Golden State Warriors e de Durant, vamos entender as coisas pelo lado do Thunder. Não há outra palavra para este momento que não reconstrução. Havia dito aqui na semana passada que a troca que levou Serge Ibaka ao Orlando Magic só poderia ser avaliada depois da decisão do (agora ex-)camisa 35. KD se foi, Ibaka também, é impossível pensar que Russell Westbrook ficará após o final do seu contrato em 2016/2017 (muita gente aposta que Russ será trocado o quanto antes e pelo que vier pela franquia de OKC) e temos o famoso rebuild em curso.

west1As coisas na NBA mudam rápido, né? Há quatro anos o Oklahoma chegara a uma final da NBA com Durant, Westbrook, James Harden e Ibaka. Trocou o barba para ficar com o congolês porque na época o teto salarial não permitia três salários máximos (algo que Harden desejava). O tempo passou, e na semana passada Ibaka foi trocado por um calouro (Domantas Sabonis) e por um jogador promissor só que não mais do que mediano até o momento (Victor Oladipo). Ontem Durant se foi e em menos de 12 meses sairá Westbrook. Ou seja: após construir muito bem o elenco em quase uma década, o Thunder terá que reconstruir sem as suas principais estrelas.

gsw1Para o Golden State Warriors, foi o melhor dos mundos. Em que pese a engenharia que deve ser feita agora (perder Harrison Barnes, Andrew Bogut e Festus Ezeli a preço de banana), a franquia literalmente conseguiu o prêmio máximo do mercado da NBA. Vai formar um quarteto fantástico com Steph Curry, Klay Thompson, Kevin Durant e Draymond Green, tornando-se assim o maior favorito ao título na próxima temporada (estão aí seguramente quatro dos 30 melhores atletas de basquete do planeta no mesmo latifúndio, caras que tiveram a média de 94 pontos/jogo em 2015/2016). Isso, claro, sem falar em Andre Iguodala e no elenco de apoio que estará por aí a cercá-los. A não ser que aconteça uma grande catástrofe (tipo os caras não se darem bem no vestiário) eu acho muito impossível não vermos de novo o GSW na decisão em junho de 2017.

paul1Muita gente está fazendo beiço e relembrando o veto que a liga fez à troca que levaria Chris Paul, na época no New Orleans, ao Lakers em 2011. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Cinco anos atrás a NBA era a DONA do Hornets. Foi, sim, pressionada pelos demais 29 times porque estávamos em uma época de discussão sobre tetos salariais, mas a sua decisão foi tomada porque ela, enquanto proprietária do New Orleans, acreditou que não seria a melhor negociação. Tão simples quanto isso. Em 2016, além de não ter sido uma troca, Kevin Durant simplesmente escolheu o melhor lugar pra jogar basquete – e quanto a isso a NBA não tem o menor dos poderes.

gsw2Bem, vocês já leram demais e agora querem saber a minha opinião sobre a ida de Kevin Durant para o Golden State, certo? Então vamos lá. Respeito totalmente a decisão do ala, um dos melhores atletas do mundo. Está claro, também, que o fato de ele ir para o Golden State não teve nenhum peso financeiro. Se fosse pela quantidade de dólares que receberia ele aceitaria uma bolada do Thunder que chegaria certamente perto dos US$ 40 milhões anuais por cinco anos (algo em torno dos US$ 200 milhões – sim, é isso mesmo!!!).

durant3Se a questão não é grana, vamos só falar de basquete então. Em primeiro lugar, vamos ao óbvio. É muito difícil você dizer não para um time que tem os caras aí da foto ao lado, que chegou a duas finais seguidas (no Oeste) e que bateu o recorde de vitórias em uma temporada (73). É muito duro você ouvir de Jerry West, hoje consultor do Warriors, como Durant ouviu, quão complicado foi digerir derrotas seguidas para o Boston na década de 60. É impactante você ouvir de Bob Myers, Gerente-Geral do GSW, a frase: "Sem você podemos ganhar mais um ou dois títulos. Sem a gente você pode levar um ou dois anéis de campeão. Nós juntos podemos ganhar aos montes".

okc1E aí (e isso NÃO é errado) Kevin Durant pegou o atalho para tentar ser campeão rapidamente. Ele não quer mais esperar por um título que, a bem da verdade, poderia nunca chegar se ele ficasse em Oklahoma ou se mudasse para Boston ou Nova Iorque. Mas este é um atalho BEM maior (ou pior) do que aquele que LeBron James pegou lá atrás quando decidiu sair de Cleveland para montar um time em Miami. Bem pior porque querendo ou não LeBron chegou ao Heat com um elenco que NUNCA tinha jogado junto. Lá, ao lado de Dwyane Wade e Chris Bosh, eles criaram uma identidade nova para a franquia. Durant, agora, ENTRA não para ser o piloto principal de um navio que já está em percurso, mas sim para co-dirigir (notem o "co") uma embarcação que há menos de dois meses o derrotou na final da Conferência Oeste.

durant20Poderia fazer uma série de tratados, lembrar que Michael Jordan, Isiah Thomas e David Robinson apanharam loucamente sem nunca virar as coisas para suas franquias para ganhar um título de campeão a qualquer preço, mas acho que a questão é um pouco maior que isso. Estamos falando de uma geração, esta do século XXI, de garotos muito mimados desde sempre. De garotos que, como diz o genial Larry Bird, não estão acostumados a ir ao supermercado e a falar com pessoas que discordam de suas atitudes (normalmente há um séquito de puxa-sacos a aplaudir por todas as coisas). De garotos que não gostam de sofrer, que não entendem que só há valor na glória quando há muita derrota por trás. De garotos que miram no objetivo final, mas que dificilmente compreendem que a beleza desse negócio todo chamado vida está justamente na jornada, no percurso, no meio para se chegar ao final. Entenderia, portanto, se ele tivesse não só optado por ficar em Oklahoma, mas também se fosse para Nova Iorque ou para Boston, onde seria o piloto chefe das franquias onde teria que CONSTRUIR algo praticamente do zero.

durantulaNão custa lembrar, como disse lá em cima, que Kevin Durant, os seus agora ex-companheiros de Thunder e a cidade de Oklahoma estavam a cinco minutos de voltar à final da NBA. Por causa de cinco minutos mal jogados em uma série em que o Thunder dominou amplamente o Warriors KD decidiu levar os seus imensos talentos justamente para o lado do time que o derrotou. Kevin Durant que, aos 27 anos, ainda está no auge técnico, físico, tático e mental. Ou seja: poderia, sim, tentar mais um, dois, três anos com o Thunder antes de, aí sim, partir de cabeça para o "projeto título de qualquer maneira". Seria, digamos, compreendido caso fizesse isso com 31, 33, 33 anos. Aos 27, não muito. Por isso é difícil não ficar desapontado com uma atitude assim, vocês vão me desculpar. Não porque ele acabou "se traindo", como a gente vê agora nos milhões de tuítes antigos do cara, mas porque a história de Durant se encaminhava para ser uma das mais bonitas do esporte (recheada de dificuldades, superações, sua mãe figuraça que passou um perrengue danado para criá-lo e, quem sabe lá na frente, uma épica conquista).

durant3535Agora tudo mudou. Kevin Durant provavelmente colocará um anel de campeão em sua mão em junho de 2017. A lógica diz isso agora e negá-la é uma loucura que eu não farei. Não estou criticando a sua decisão, mas sim analisando-a. De todo modo, dá pra dizer que no dia 4 de julho ele sai como um cara muito menor, em termos de perspectiva histórica, do que era no dia 3 de julho (como LeBron também saiu após aquele programa "The Decision" na ESPN aliás).

Sinceramente não esperava isso dele, e se este texto está um pouco mais pesado que a maioria poderia supor é justamente por carregar a decepção de ver alguém que estava construindo tão bem a sua carreira se deixar levar (na minha opinião) pela opção mais fácil.

Concorda comigo? Gostou da decisão de Kevin Durant? Comente aí!

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