Topo

Bala na Cesta

A superação de Tyronn Lue, técnico campeão pelo Cavs

Fábio Balassiano

23/06/2016 05h00

lue2"Não vou dizer nada sobre isso, me desculpe. Meus jogadores sabem o que precisamos fazer para ganhar essa série. Os dois últimos treinos foram apenas sobre isso".

Foi assim, seco porém com respeito ao repórter, que Tyronn Lue, técnico do Cavs, respondeu a uma questão da imprensa americana antes do jogo 5. Contra a parede com o famoso 1-3 da decisão contra o Warriors, Lue decidiu ir pro tudo ou nada colocando em prática um plano de jogo que exigia que seus atletas atacassem a Stephen Curry em todas as posses de bola do Cleveland. O resto da história vocês já sabem, né?

lue4Visto com desconfiança por 11 entre 10 analistas de basquete (eu me incluo aqui) quando da saída de David Blatt, Lue tinha muito mais a perder, no longo prazo e pensando em sua trajetória, do que a ganhar como treinador do Cleveland. Inexperiente, capacho de LeBron, sem voz no vestiário e cumpridor de ordem dos atletas. Foram alguns dos "adjetivos" que ouviu para receber a oferta de emprego após a saída de Blatt. Ademais, se ganhasse, muito bem. Se não levasse o Cleveland ao título, ouviria todos os elogios possíveis e imagináveis. Ele não só ouviu quieto como recusou a proposta de 3 anos e US$ 3 milhões/ano que a diretoria do Cavs lhe fez. Preferiu ficar como interino até o final da temporada. Foi uma aposta em si mesmo e também sincero de sua parte. Lue sabia que de fato era algo temporário (até o final do campeonato) que depois poderia se prolongar – e não algo que deveria ser duradouro de cara, pois a franquia não o conhecia como técnico principal.

lue1O fato cristalino e analisado agora é que Lue fez um playoff muito bom como técnico. Noves fora a fragilidade do Leste, não se desesperou quando o Toronto fez 2-2 e poderia ter empurrado o Cleveland para o precipício naquele jogo 5 em Ohio. Manteve o pulso firme e a mesma tática dos dois duelos iniciais da série e fechou no sexto jogo no Canadá sem tanto susto assim. Na decisão, abriu a sua caixa de ferramentas.

Fez com que seus atletas atacassem Steph Curry loucamente, trocou as marcações em Curry e Klay (eles não arremessariam livres em NENHUM momento) e no sétimo jogo fez questão de diminuir o ritmo (foram menos de 100 posses de bola para cada lado pela primeira vez na série). Lue foi tão maduro, que depois de perder Kevin Love por uma concussão no jogo 3 deixou o camisa 0 no banco para o confronto seguinte e trouxe Love de volta ao quinteto titular para a quinta partida mesmo com Richard Jefferson, seu substituto, indo muitíssimo bem. Também foi inteligente ao encurtar a rotação e deixar Channing Frye (péssimo nas finais) e Matthew Dellavedova fora da rotação nos jogos 5, 6 e 7 por necessidade tática e por queda de rendimento dos atletas.

lue5Se do outro lado Steve Kerr não estava muito inspirado nas pranchetas, o técnico calouro, o mais novo a ganhar um título da NBA (39 anos) e outro no seleto grupo a ganhar como atleta e treinador, não tinha o menor medo de ousar, de fazer diferente. Foi bacana de ver na verdade.

De todo modo, é cedo pra dizer quão bom Tyronn Lue será em sua carreira. Independente do que aconteça, ele já tem e sempre terá um título em seu currículo, o que não é pouco. Lue tem o respeito dos atletas, mostrou ótimo conhecimento e muita calma para administrar as situações difíceis que o Cleveland passou nessa pós-temporada. No teste de fogo, o técnico passou com louvor. Agora é sentar com o anel de campeão com Dan Gilbert, o dono da franquia Cavs, e David Griffin, o gerente-geral, e exigir um polpudo aumento em relação aos US$ 3 milhões anteriormente oferecidos.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.