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Bala na Cesta

Os méritos de Bauru, 1° a vencer o Flamengo no RJ em final do NBB em 7 anos

Fábio Balassiano

27/05/2016 00h01

arena1

bauru10Foi emocionante entrar no Parque Olímpico na tarde de ontem. Nenhum ser humano que gosta de esporte entra em um lugar desses e se mantém impassível, tranquilão, como se fosse um lugar comum. Não, não é. Ali estará a nata do esporte em menos de três meses. Ali serão disputados os jogos de basquete.

Ali (naquele mesmo espaço – não no mesmo ginásio) foi disputada a segunda partida da final do NBB entre Bauru e Flamengo (na Arena Carioca 2 – a que terão as lutas do Judô). Vitória bauruense por 85-80 em uma partida de nível técnico ruim, mas bem intensa e emocionante. Com o resultado, o Dragão empatou a decisão, forçou no mínimo a quarta partida e tornou-se apenas o segundo time a vencer o rubro-negro no Rio de Janeiro em partidas finais do NBB (o último a conseguir isso fora Brasília, em 13 de junho de 2009 – e desde então, 5-0). O jogo 3 será no sábado, no mesmo local, às 14h (Rede TV e Sportv exibem). Vamos a alguns detalhes da peleja:

basquete11) É óbvio que a Arena Carioca 2 é um ambiente diferente daquele que os jogadores (dos 2 times) estão acostumados. Muita gente falou depois da peleja que é difícil se acostumar a um local totalmente novo e que isso teria influenciado na partida. Alguns torcedores do Flamengo, inclusive, disseram que por ser um ginásio amplo o clima entre time e torcida fica mais frio. Desculpem, acho isso superficial. As finais do NBB desde sempre, aqui no RJ, são na HSBC Arena. O Flamengo joga lá basicamente as decisões – ou seja, uma vez por ano. Não é, portanto, seu porto-seguro, sua casa (que é o Tijuca). Sobre ser um ambiente menos "quente" que o Tijuca, a HSBC Arena também deixa a galera mais longe da quadra e o time da Gávea sempre venceu campeonatos lá com uma torcida enfurecida. Não creio, sinceramente falando, que isso mexa com o ponteiro. O ginásio é só um ginásio. E não uma peça que liga torcedores a atletas.

bauru12) O que fez a diferença mesmo a favor de Bauru foi corrigir algo que não foi muito bem no jogo inicial da final do NBB – as rotações. Não que o técnico Demétrius tenha ido mal no jogo 1 (pelo contrário), mas ciente que o banco de reservas do Flamengo fizera um estrago no último período de sábado passado o treinador sabia que deveria acelerar suas trocas desde o primeiro período, mesclando quintetos (com titulares e reservas) para evitar que o rival rubro-negro levasse vantagem e tendo boas formações a todo instante na quadra. E assim foi feito. Demétrius quebrou o ritmo do jogo diminuindo a aceleração da partida (como ele mesmo disse após a peleja), contando com ótimas atuações dos reservas Leo Meindl (13 pontos) e Murilo (11 pontos) e vendo o Flamengo ter baixíssimo aproveitamento nos chutes de 2 pontos (37%) e nos de 3 também (23%). Sua administração durante os 40 minutos foi perfeita, não há outra palavra para usar aqui.

bauru53) Quem merece um elogio especial (e por isso um tópico só pra ele) é o armador Paulinho. Desde sempre pressionado por ser o substituto de Ricardo Fischer, o camisa 3 foi mal no jogo 1, não estava tendo uma atuação muito boa (errou um passe feio em contra-ataque e foi cobrado de forma áspera por Jefferson William em quadra inclusive), mas conseguiu reverter e ser o cestinha de seu time com 17 pontos. Paulinho ainda deu 7 assistências e provou que, atacando a cesta, é um dos jogadores de perímetro que conseguem causar o pânico nas defesas adversárias. A maneira como ele costura as marcações é muito boa, e quando ele consegue (como conseguiu nesta quinta-feira) dosar o momento exato do arremesso com o do melhor passe sua atuação é sempre muito boa. Seu problema continua sendo na defesa, mas o Flamengo não fez questão de atacá-lo como seria recomendável (e como Bauru fez em cima de Marcelinho Machado no último período inclusive).

bauru64) Outro que foi muitíssimo bem foi Alex Garcia (como quase sempre aliás). Se não tanto pela pontuação (13 pontos, mas com apenas 3/9 nos chutes), mas por sua intensidade absurda, fora do comum, durante os 31 minutos em que esteve em quadra. Alex é um dos melhores marcadores da história do basquete brasileiro e a forma como ele lidera seus companheiros em quadra (e do banco de reservas) é muito fenomenal. Quem vê um jogo de um time dele (Ribeirão Preto, Brasília ou Bauru) de perto da quadra nota como ele é um cara diferenciado, obcecado por vitórias e sabedor que pequenos detalhes fazem a diferença nas grandes partidas.

bauru35) Sem tirar o mérito de Bauru, mas foi uma das piores partidas que vi do Flamengo nos últimos anos (e com detalhes bizarros, como Marcelinho Machado, dono de aproveitamento de quase 90% nos lances-livres na carreira, errando dois seguidos no final da peleja). Não sei exatamente o que deu errado (talvez Marquinhos, Ramon e Olivinha ficaram tempo demais no banco – embora essa seja uma decisão de José Neto, que deve ter as suas razões para isso), mas pra mim é muito claro que o rubro-negro esteve muito abaixo de suas capacidades, errando arremessos livres e de atletas que possuem altíssimo aproveitamento (Marquinhos teve 2/7 de três pontos; Machado, 2/6; e Ramon, 1/4). Um ponto chama a atenção: foram 18 rebotes ofensivos a seu favor (10 a mais que Bauru), e mesmo assim as oportunidades extras não foram aproveitadas em cestas.

mark16) Um dos grandes erros do Flamengo ao meu ver foi ter sido pouco rápido no começo das ações de ataque, fazendo com que Bauru posicionasse a sua marcação antes da armação ofensiva do Flamengo e causando problemas aos rubro-negros. Outro ponto importante: Marquinhos precisa ser mais envolvido no sistema ofensivo. Nesta final ele tem sido acionado basicamente no um-contra-um. Ele consegue se virar, criar seus arremessos porque é um cara absurdamente bom, mas vê-lo comandando um pouco mais as jogadas pode ser bom pra todo mundo – inclusive para Rafael Luz, que pode ser muito mais útil sem a bola do que com ela nas mãos quase que o tempo todo (como seu arremesso não tem caído a marcação sempre dá um passo atrás, fecha o garrafão e trava o rubro-negro com extrema facilidade). Marquinhos poderia chamar os pivôs para os bloqueios na cabeça do garrafão e aí sim o Fla iniciar as suas jogadas – com Rafa responsável por movimentações sem a bola.

bauru117) Sobre a arbitragem, quero dizer duas coisinhas: a) o lance mais importante do jogo eu não consegui ver porque de onde estava era impossível. Marquinhos teria sido agredido por Murilo, mas eu só vi o ala do Flamengo deitado no chão e a confusão iniciada. Logo, eu não tenho muito o que dizer deste caso; b) Minutos depois desta confusão houve outra, envolvendo Marcelinho Machado e Murilo. Machado deu um empurrão em Murilo, e ambos levaram faltas técnicas (surreal isso). Apesar disso tudo, não vi a arbitragem comprometer como muita gente está dizendo.

bauru100Bauru jogou muito bem principalmente no último período (fez 38 dos seus 85 pontos nos 10 minutos finais) e venceu. O Flamengo esteve abaixo do seu potencial e perdeu. Jogar a responsabilidade da vitória de um ou da derrota do outro na arbitragem é um equívoco. O jogo 3 está batendo na porta e os dois clubes têm muito para corrigir até sábado. Deste canto, creio sinceramente que tudo leva a crer que iremos a cinco jogos nesta decisão do NBB. E você, viu o jogo de ontem? Achou o quê? Comente aí!

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