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Bala na Cesta

Na 'Sessão da Tarde', a chance que o basquete perde no Rio-2016

Fábio Balassiano

23/05/2016 07h00

rio2016Na semana passada o Comitê Rio-2016 divulgou oficialmente os dias, horários e locais dos jogos de basquete da Olimpíada do Rio de Janeiro que está aí batendo na porta (abertura em 5 de agosto).

E aí foi uma frustração só. As seleções brasileiras masculina e feminina não jogarão nenhuma vez sequer na primeira fase (depois não se sabe) de noite. Rapazes às 14h15 e damas às 15h30 (uma vez às 17h30 apenas). Pra piorar: em três dias (9, 11 e 13/8) meninos e meninas brasileiros estarão em quadra no mesmo horário. Vamos lá a alguns comentários:

globo1) Os horários foram decididos pela TV Globo em conjunto com o Comitê Olímpico Internacional. Quanto a emissora, entendo perfeitamente o lado dela. Ela não deve se preocupar apenas com o basquete, mas sim com toda a sua grade de programação, que inclui novela, telejornal e, claro, a Olimpíada. A escolha da Globo, conforme matéria do UOL em primeira mão, mostra que foram privilegiados vôlei e judô para o horário nobre (a partir das 22h) devido ao seu alto potencial de audiência (natural!), relegando o basquete para a Sessão da Tarde mesmo. Consigo entender isso perfeitamente. O esporte (olímpico) número 1 do país se chama voleibol. O judô é um dos que mais traz medalha ao país. Além disso, noves fora os últimos resultados obtidos na quadra e na areia, Rede Globo e Confederação Brasileira de Vôlei têm uma relação fortíssima e bem antiga. Se isso não fosse o bastante, o presidente da Federação Internacional é brasileiro (Ary Graça) e um empurrão dele deve ajudar bastante a conseguir os horários nobres no canal com maior audiência do país no período olímpico. Sobre a Globo, sinceramente nada a criticar. É a conta de anos de incompetência do basquete que chega.

magnano2) Quem deve levar um pito grande, daqueles mesmo, é a Confederação Brasileira de Basketball. Mais uma vez, né? Desde sempre Rubén Magnano e Antonio Carlos Barbosa (técnicos das seleções masculina e feminina, respectivamente), afirmaram que queriam ter horários fixos para seus times. Ou seja: nada de jogar às 17h em um dia, 19h no outro, 22h no seguinte. No que eles têm absoluta razão. O que ninguém esperava é que o presidente Carlos Nunes não conseguisse sequer segurar os horários de 19h (o primeiro "horário nobre") da TV aberta brasileira para que suas duas equipes nacionais se apresentassem para uma audiência maior. Será que alguém ali na Avenida Rio Branco pensou levemente que quanto mais gente, mais fãs, mais consumidores, mais praticantes e mais investimento entrando?

nunes72.1) Como é possível que um dirigente do basquete brasileiro tenha concordado em deixar os jogos de suas equipes nacionais em um horário tão péssimo assim? Querem ver uma coisa incrível? Tirando o Brasil x Argentina (13/08, um sábado), em TODOS os outros jogos do Brasil (meninos e meninas) há ingressos disponíveis no site. Por que será? Beira o bizarro que o país-sede não tenha tido poder algum de escolher uma sessão melhor para seus torcedores e atletas. Fala muito sobre a falta de força política da CBB em âmbito internacional inclusive.

nunes13) Se isso já é uma vergonha, o que dizer dos dias 9, 11 e 13 de agosto? No dia 9 haverá Brasil x Espanha no masculino às 14h15 na Arena Carioca I. Às 15h30, seleção feminina em quadra na Arena da Juventude (em Deodoro, bem afastado do Parque Olímpico). Nos dois dias seguintes, a mesma coisa. Ou seja: o basquete masculino e o feminino do Brasil, o país-sede, estarão em quadra no mesmo horário – competindo por espaço, atenção e torcida por aqui. Por que diabos Carlos Nunes e a CBB não brigaram, ao menos, para que seleções masculina e feminina atuassem em dias diferentes? Ou seja: enquanto uma jogaria em um determinado dia, a outra estaria descansando. Assim todos poderiam acompanhar o basquete brasileiro. Se as atletas já teriam pouca atenção (é só ver que até agora há ingressos para quase todos os jogos femininos no site oficial – inclusive a final), que dirá quando há coincidência de horário com os rapazes (todos mais conhecidos e com mais chances de medalha). É o fim do mundo, não?

nunes14) Se isso já não fosse o cúmulo do bizarro, do absurdo, do vexame, da falta de senso do ridículo, há um fator importante também: atletas brasileiros ODEIAM jogar depois do almoço. Conversei com quatro jogadores/jogadoras (estarão nos Jogos) e eles foram unânimes: prejudica toda a preparação. Não se sabe se dará tempo de fazer o treino no dia do jogo, algo comum na modalidade, o almoço terá que ser bem cedo (ali pelo meio-dia) e aquela soneca da tarde foi pro espaço. Nem nisso o presidente Carlos Nunes conseguiu pensar. Que beleza, hein…

nunes3A conclusão é óbvia: para quem esperava (como eu) que o basquete fosse "usar" a Olimpíada para tentar voltar a massificar a modalidade é melhor tirar todos os cavalos da chuva. É óbvio que os ginásios estarão com bom público (notem que não usei a palavra 'lotado'), mas a audiência da TV será absurdamente menor às 14h15/15h30 do que a partir das 19h, quando as pessoas efetivamente estarão em casa (não caiam na esparrela que o país inteiro irá parar, porque isso está longe de ser verdadeiro). E com isso perdem todos – o esporte da bola laranja, CBB, atletas, imprensa mesmo, Liga Nacional de Basquete com o NBB, Liga de Basquete Feminino e clubes.

nunes5Se a gestão financeira / administrativa de Carlos Nunes à frente da Confederação é um verdadeiro desastre, ver o basquete relegado a um espaço mínimo espremido durante as tardes é o retrato final de um dirigente que não conseguiu nem brigar por um horário mais digno e representativo para uma modalidade que já trouxe cinco medalhas para o país (bronze em 1948, 1960 e 1964 com os rapazes e com as meninas prata em 1996 e bronze em 2000).

Não surpreende, porque sabemos que quem comanda o basquete na Confederação é uma turma que não tem nenhum tesão em ver este esporte crescer (parece estar lá pra fazer por fazer apenas…), mas é chocante e revoltante pra caramba. Que pena.

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