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Bala na Cesta

Especial Kobe Bryant: Infância na Itália e o começo da carreira nos EUA

Fábio Balassiano

09/04/2016 12h17

kobe1"Mas como assim, garoto? Jogar na NBA? Olha, ouça o que tenho a lhe dizer. Acho melhor você pensar em outra coisa para a sua vida". Foi essa resposta que Kobe Bryant ouviu de um professor do segundo grau na Pensilvânia quando ele, então um menino de 14 anos, respondeu que sonhava em jogar na melhor liga de basquete do mundo.

Recém-chegado da Europa, onde viveu com seu pai, Joe Bryant, entre 1984 e 1992 em Itália (na Bota Joe atuou em Rieti, Reggio Calabria, Pistoia e Reggiana) e França (jogou na região e na Alsácia), Kobe, nascido em 1978 e cujo nome foi dado em "homenagem" ao famoso bife japonês, estava longe de ser vigiado pelas principais faculdades dos EUA.

kobe2Suas ferramentas, no entanto, já haviam sido quase todas moldadas na Europa, onde tornou-se muito amigo de Tamika Catchings, estrela da WNBA que também se aposenta este ano e cujo pai também atuava por lá nesta época. E moldadas a partir de um brasileiro. Oscar Schmidt, que estará amanhã aqui no Especial do Bala na Cesta, brilhava na Itália na mesma época que Joe, pai de Kobe. Tentando emular então o seu ídolo de infância, Kobe praticava arremessos de longe (tal qual Oscar) no quintal de casa (na foto ao lado é possível perceber que a mecânica desde sempre foi perfeita) e, nos finais das partidas, pedia dicas aos jogadores do time de seu pai.

kobe3Não era raro ver Kobe disputando, aos 11, 12 anos, partidas de um-contra-um contra atletas de mais de 30. Se era pra aprender, o negócio era aprender desde muito cedo. Houve, inclusive, um caso neste sentido contado por Joe: "Uma vez um companheiro de time no Reggiana chegou ao vestiário desolado. Já tinha acabado o treino, eu estava tomando banho para ir almoçar com minha família, não tinha visto mais nada na quadra e pensei que tinha se machucado. Passei por ele e perguntei se estava tudo bem. A resposta dele foi: 'Acabei de perder do seu filho de 12 anos no um-contra-um. Acho que vou me aposentar amanhã'. Pedi a Kobe que até o final da temporada apenas treinasse, mas que não desafiasse mais meus companheiros daquela maneira".

kobe5Na volta pra casa Kobe sabia que precisava treinar mais que os outros. Se a sua habilidade já era razoável para um menino de 14 anos, sua capacidade atlética estava abaixo dos garotos do segundo grau. Aí entrou em cena Gregg Downer, técnico do time de basquete da escola.

Kobe pediu, humildemente, a Gregg para treinar com o time – não para fazer parte dele. Chegando à quadra uma hora antes dos colegas, o garoto começou a chamar a atenção do técnico por sua dedicação. Downer, por sua vez, passou a também chegar mais cedo aos treinos, passando exercícios específicos para Bryant e a dar espaço sempre que possível nas partidas do campeonato estadual.

kobe6No primeiro ano, Kobe mal entrava em quadra. Entre o primeiro e segundo ano, o garoto cresceu oito centímetros, ganhou massa muscular e ouviu do técnico Gregg Downer que atuaria nas cinco posições do time. A resposta veio na quadra: média de 31,1 pontos, 10,4 rebotes e 5,2 assistências, sendo assim eleito o melhor jogador do estado da Pensilvânia em 1995.

O estrondo causado por ele chamou a atenção de Duke, Villanova e North Carolina, universidades de renome que passaram a seguir o rapaz e a monitorar seus próximos passos. A ida de Kevin Garnett para a NBA via Draft e sem passar pela faculdade, faria Kobe Bryant rejeitar todos os convites. Não apenas por causa de KG, mas principalmente devido a um treinamento.

kobe9Como foi eleito o melhor jogador estadual do ano em 1995, Kobe foi convidado por John Lucas, técnico do Philadelphia 76ers e amigo de seu pai, para treinar com a equipe do Sixers que contava, entre outros, com Jerry Stackhouse e Dana Barros (este All-Star na época). Tom Thibodeau, ex-técnico do Bulls e na época assistente de Lucas no Phila, contou como foi a mim quando esteve no Rio de Janeiro com o Chicago em 2013: "Esta é realmente uma história incrível. Kobe era muito falado em todo estado, por causa de seu talento, e John, que jogou com o pai do Kobe, decidiu chamá-lo para treinar conosco por uns dois, três dias. Acabou sendo uma situação até engraçada, porque o Kobe é tão alucinado por treinamento que ele não saiu do ginásio em que treinávamos nem por decreto. Ficava lá horas e horas arremessando, treinando fundamentos. Ficou conosco mais de um mês e queria mais. Óbvio que por ter morado na Europa a sua bagagem cultural e sua formação de fundamentos já era um pouco mais consolidada que a de meninos de sua idade, mas sua habilidade era muito incrível. Competia, com seus 16 anos, de igual para igual com alguns dos veteranos da NBA. Houve situações engraçadíssimas, de disputas entre eles, e Kobe, mesmo muito novo, não diminuía o ritmo, não fazia nada diferente do que fazia nos seus jogos de colégio daquela época. Sua vontade, sua determinação e sua vontade de querer evoluir a cada dia nunca mudaram. Olhando lá para aquela época, não é surpresa ver, hoje, que ele conquistou cinco títulos e tem uma carreira memorável, uma das melhores da história do basquete".

kobe8Kobe ainda teve outra temporada memorável em Lower Marion em 1995/1996 (30,8 pontos, 12 rebotes, 6,5 assistências, 4 roubadas e 3,8 tocos de média), levando o colégio ao primeiro título estadual em 53 anos com a campanha de 31 vitórias em 34 jogos. O camisa 33 terminou a sua carreira colegial com 2.883 pontos, marca maior na região da Pensilvânia que a conseguida por Wilt Chamberlain, por exemplo.

Como tinha notas boas na sala de aula recebeu convites das principais faculdades da NCAA para ter bolsa de estudos e, obviamente, fazer parte do time de basquete.

Sua cabeça, no entanto, já estava na NBA, onde poderia, aí sim, jogar contra os melhores jogadores do basquete mundial.

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