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Bala na Cesta

A despedida da genial Lauren Jackson, mito da seleção australiana

Fábio Balassiano

04/04/2016 13h00

lauren3Não está fácil o ano para os grandes gênios do esporte. Primeiro foi Kobe Bryant que anunciou a aposentadoria. Depois, Peyton Manning, do futebol americano. Na semana passada, a craque Lauren Jackson, quatro vezes medalhista olímpica e campeã mundial (2006) pela Austrália, e duas vezes vencedora da WNBA, contou ao planeta que está se despedindo das quadras.

Aos 34 anos, Lauren, pivô de 1,96m, tentava se recuperar para a sua quinta e última Olimpíada no Rio de Janeiro, mas o joelho recém-operado não permitiu. Seus médicos afirmaram que seria impossível o retorno às quadras em tempo dos Jogos, e a saída foi mesmo dar um basta às dores e às (falsas) expectativas.

lauren4Perdem todos. A Austrália, que teve em Lauren a melhor jogadora de sua história e que terá que se virar sem ela daqui pra frente (algo semelhante aconteceu com o Brasil sem Paula, Hortência e Janeth e estamos vendo quão difícil é…). O Seattle Storm, único time que ela defendeu em sua brilhante carreira na WNBA (7 vezes All-Star e 3 MVP's). E sobretudo o basquete feminino, que tinha na camisa 15 uma das mais conhecidas jogadoras deste século.

Aqui, aliás, cabe uma observação. Se a fase da modalidade das meninas não possui grandíssimos e carismáticos nomes, sem Jackson a situação fica ainda menos animadora. A FIBA deveria olhar para isso com mais atenção, pois se o basquete masculino está cada vez mais consolidado como um excepcional produto no mundo todo, o espaço das mulheres é cada vez mais relegado e um terceiro ou quarto plano.

lauren5jpgLauren Jackson foi uma das melhores jogadoras que vi jogar. Uma das melhores e certamente a grande responsável por uma evolução das pivôs no basquete feminino. O que temos com frequência hoje, inclusive entre os rapazes, com pivôs e alas-pivôs "saindo" para arremessar de fora do garrafão ou de três pontos, ela fez desde o início de sua carreira com brilhantismo, graça e um percentual de conversão enorme. Acreditem, não era algo tão comum assim no basquete feminino. Lembro apenas da brasileira Marta fazer os chutes de fora com precisão até a virada do século.

lauren2Minha mais próxima (e cruel) memória dela veio mesmo do Mundial de 2006 de São Paulo. Se ela não foi a MVP do Mundial vencido pela Austrália (a primeira competição feminina de seleções que acompanhei e cobri com mais atenção), foi certamente a maior responsável pela virada de sua seleção contra o Brasil na semifinal em pleno ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Até então com quatro pontos, Lauren foi incrível ao começar o último período da Austrália com três bombas de três pontos seguidas nos primeiros segundos do quatro derradeira. Foi a fagulha que seu time precisava para ligar na tomada, liderar o placar pela primeira vez e derrotar uma seleção brasileira que desde aquele jogo não conseguiu mais duelar de igual para igual contra os grandes países do mundo no feminino. Lauren Jackson anotaria 15 de seus 19 pontos no último período, e a Austrália bateria o Brasil por 88-76, com surreais 31-12 nos 10 minutos finais.

lauren1É triste quando a gente vê alguém como Lauren Jackson se despedindo tão cedo assim do esporte. Mas atleta de alto nível, ainda mais no basquete feminino, que praticamente não para (ela jogou em Europa, WNBA e seleção praticamente por uma década direto), acaba mesmo passando por isso – e não só por causa dos jogos, mas principalmente por conta das horas de trabalho em academias e centros de treinamentos. A eterna camisa 15 da Austrália e do Seattle Storm deixará saudades. Seu legado, no entanto, já é eterno. Pouquíssimos atletas, homens ou mulheres, conseguiram jogar por tanto tempo em altíssimo nível como ela. Quem viu a linda loura em quadra só pode agradecer.

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