Topo

Bala na Cesta

NBB x Superliga - qual a diferença de público e como analisar a situação?

Fábio Balassiano

15/02/2016 11h15

nbb1Recentemente publiquei aqui um estudo que mostra a quantas anda a média de público do NBB desde a sua criação em oito anos atrás. Neste mesmo espaço Gerente-Executivo Sergio Domenici inclusive falou sobre o que está sendo planejado e executado por parte da Liga Nacional acerca do tema (aqui o link).

Está claro que o número não é bom (1.063 pessoas/jogo desde 2009/2010, quando os dados estão disponíveis) e queda desde a temporada 2012/2013 (saiu de 1.286 naquele ano para 1.033 em 2015/2016). Mas o que isso quer dizer, por exemplo, em relação à Superliga masculina de vôlei? Solicitei os dados do campeonato à assessoria de imprensa da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), e temos o resultado abaixo:

a) As médias de público entre NBB (em azul) e Superliga Masculina (vermelho)

nbb_superliga2

b) A diferença anual entre as médias de Superliga Masculina e NBB

nbb_superliga1

O que eu penso disso tudo:

volei1) Está óbvio que a discrepância entre os dois campeonatos não é imensa. E talvez por não acompanhar muito (vejo mais as finais), achei que o vôlei estivesse bem mais à frente do NBB em relação a público. Não está, como se vê. E estamos falando de um esporte que conquista medalhas em Mundiais e Olimpíadas com constância desde 1992 contra outro que não consegue isso (com os rapazes) dentro de 1978. O abismo (entre as duas médias de público) poderia (ou até deveria) ser BEM maior. O diagnóstico é claro: com um pouco mais de força nas ações de comunicação / marketing dos times da Liga Nacional é bem possível que isso se inverta rapidamente.

pesquisa11.1) Aqui, aliás, cabe um questionamento importante: que tipo de pesquisa, científica mesmo (com Institutos, Grupos em salas fechadas, essas coisas), está sendo feita com o público que consome basquete por aqui? Existe alguma coisa sendo tocada pela Liga Nacional de Basquete neste sentido? Eu desconheço. Nem tudo se resolve com pesquisa, claro, mas quanto menos decisões tomadas com base no empirismo (dias de jogos, por exemplo, algo que foi bastante contestado recentemente – tiraram partidas em sábado e domingo, lembram?), melhor será para o futuro da Liga – e dos clubes.

nbb22) Independente disso tudo, sabem o que é mais triste? É que nos dois esportes coletivos olímpicos com os campeonatos de clubes mais estruturados do país a média seja assim tão baixa. Cabe, sem dúvida alguma, uma discussão mais ampla sobre como o público brasileiro enxerga qualquer coisa que não futebol por aqui, não? E nos últimos tempos, até mesmo as médias de futebol têm caído (de público, de audiência etc.). Há motivos para isso, não? Entendê-los, e atacá-los rapidamente é o mais recomendável. Se há um problema, por trás dele (problema) certamente há uma solução.

acb23) Apenas como comparação final. A Liga ACB espanhola registrou média de 5.476 pessoas/jogo em 2014/2015 de acordo com dados oficiais da entidade. Nesta temporada, o número já cresceu mais de 10%, chegando a ótimos 6.143 torcedores por partida (no primeiro turno, que terminou na semana passada). Comparar com a NBA eu acho irreal, e até injusto pra ser bem sincero, mas se quiserem, aqui vai o dado: nesta temporada de 2015/2016 a média é de 17.619 pessoas por partida, com 92% de taxa ocupação nos ginásios (índice que não tenho, ainda, em mãos por aqui).

nbb1Conclusão: O que isso tudo quer dizer? Que os dirigentes daqui, com raras exceções, enxergam o esporte apenas como um jogo, e não como produto, como entretenimento, como espetáculo (como deve ser). No sábado, em jogo com a Rede TV exibindo, a Liga Sorocabana fez até um intervalo bacana, com dança, música, mas é pouco, bem pouco (diria eu que apenas o básico).

Os números (baixos, pálidos) estão aí para quem quiser ver e comprovam que o torcedor (a não ser o tarado por basquete  – o tal heavy-user) não tem se sentido estimulado a sair de casa para ir às partidas. E o mundo mudou, não? Se não "regar" a planta (produto) TODOS OS DIAS, é impossível que ela (planta / produto) cresça por aqui.

jovem1Cabe lembrar que hoje a molecada recebe "choques emocionais" de todos os lados (Televisão, NBA aos borbotões, Netflix, Redes Sociais, celulares pra lá de modernos, Vídeogame etc.), e tirar um jovem de casa para levá-lo a um ginásio de basquete no Brasil não é assim tão tranquilo. Se o produto não for MUITO bom, eles (garotos ou garotas descolados) não irão consumir (pelo contrário, irão ignorar solenemente).

ginasio1É triste, mas é a realidade: o basquete, em sua principal competição, o NBB, apresenta índices pouco animadores de público, algo preocupante sobretudo pros patrocinadores, que colocam dinheiro em uma camisa que é vista por menos de mil pessoas em 2015/2016 até o momento.

Tapar o sol com a peneira e achar que está tudo bem, que o NBB é um sucesso, é um erro que os dirigentes da Liga Nacional não podem cometer (e acho que não cometem). Já estamos na oitava edição da competição, e é imperativo, em minha opinião, que o número de torcedores (consumidores) aumente rapidamente nos ginásios para a melhor sustentabilidade do produto no longo prazo.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.