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Bala na Cesta

Com Vasco, Liga Ouro do NBB terá apenas 4 clubes - o que isso quer dizer?

Fábio Balassiano

13/01/2016 13h00

helio1A Liga Nacional oficializou a terceira edição da Liga Ouro (divisão de acesso ao NBB). Como aconteceu nas duas primeiras edições (Rio Claro campeão em 2014, e Caxias do Sul em 2015), a competição terá apenas quatro clubes. Tal qual este blog já havia antecipado em 18 de dezembro, uma destas agremiações será o Vasco da Gama. Ginásio (MG), Sport (PE) e Campo Mourão (PR) também tentarão o acesso à elite do basquete masculino brasileiro (temporada 2016/2017).

alirio1Desde já vale dizer o seguinte: no próximo dia 20 de janeiro será realizado o Congresso Técnico, e a fórmula de disputada e o regulamento final serão conhecidos. A competição deve começar em fevereiro e o término está previsto para junho, após a decisão do NBB.

Sobre a competição com quatro clubes, vale fazer uma análise mais ampla (como fiz em 2014 e como também escrevi sobre a de 2015 aliás). Vamos lá porque creio que seja importante lançar luz em alguns temas:

sport11) Ninguém é maluco de dizer que uma Liga Ouro com quatro clubes (que seja) era melhor não ter torneio algum. Não, não é por aí. E por inúmeros motivos. O principal deles é evitar a famosa canetada. Com a segunda divisão vigente, quem quer jogar o NBB sabe que terá obrigatoriamente que passar por uma divisão de acesso. Para mim, só isso já justifica a presença do torneio.

2) Há de se ressaltar, também, a presença de Sport (foto ao lado) e também do Campo Mourão, que jogaram as edições anteriores e mantêm vivo o sonho de chegar ao NBB. Isso é continuidade, é vontade de fazer basquete. A Liga Nacional deveria estimular estas duas equipes de alguma maneira a dar o próximo passo (jogar o NBB) com benchmarks técnicos e de gestão. Perdê-los seria péssimo para o basquete.

lnb13) Por outro lado, ninguém é maluco de dizer que o número de participantes é satisfatório. São apenas quatro equipes, algo baixíssimo (na Espanha são 16 equipes na segunda divisão; na Argentina, 26, mais que do NBB e Liga Ouro somados). Isso é reflexo da crise econômica brasileira, mas sobretudo da falta de penetração do basquete em um país imenso e que deveria criar mais portos-seguros da modalidade. Vale lembrar que hermanos e espanhóis tampouco estão nadando de braçada quando falamos em economia. Toda vez que falo com gestores da LNB ouço a mesma coisa: "Ah, temos mais de 10 inscrições para a Liga Ouro". Já estamos indo para o terceiro ano de competição, e o número de agremiações ainda não passou de quatro. Com todo respeito: é um péssimo sinal que o número de times profissionais em atividades nacionais em um país deste tamanho seja de 20. Falta popularização do esporte por aqui, não resta a menor dúvida.

minas14) Havia comentado com dirigentes da Liga Nacional de Basquete que uma das maneiras de aumentar o número de times da Liga Ouro seria incluir Times B de equipes que atuam no NBB. O objetivo é óbvio: dar ritmo de jogo para atletas que atuaram na Liga de Desenvolvimento mas que ainda não têm espaço no time adulto. Por quê Minas, Flamengo (cujos jovens pouco entram em quadra há anos), Pinheiros e Paulistano não têm time na Liga Ouro? Só com os que citei já teríamos oito participantes na Segunda Divisão, dobrando o número de equipes e também crescendo o número de jogos (e por conseqüência a duração do torneio). Sigo sem entender o motivo de isso ainda não ter acontecido.

ldb35) A propósito: o que estão fazendo agora os jovens da Liga de Desenvolvimento? A última LDB teve 24 clubes (com 12 jovens – no mínimo). Será que o "degrau" seguinte para essa molecada não seria jogar uma Liga Ouro e, logo depois, chegar ao NBB mais preparada? O objetivo de toda competição de moleques não é simplesmente colocá-los em quadra e ver no que dá. Todos sabem disso. A razão de a LDB existir é fazer com que mais e mais garotos surjam, criando assim um mercado interno maior e uma cadeia de valor profissional para quem começa lá atrás no basquete enxergar que, sim, é possível ser atleta e bem remunerado no esporte. Creio, portanto, que o basquete brasileiro esteja perdendo uma incrível oportunidade de dar sequência a estes jovens. Alguns dos rapazes que jogaram as LDB's desde 2011 hoje sequer estão atuando profissionalmente – e isso é péssimo.

liga1Termino com o que disse há quase dois anos: "A segunda divisão era um sonho antigo de quase todo mundo. Jogar uma pá de cal simplesmente porque à primeira vista o produto não é o ideal não me parece o mais inteligente. Na modalidade, sabemos disso, nem tudo acontece com a rapidez que gostaríamos, com a rapidez que desejamos. Faz parte de um esporte que ainda tenta se reencontrar, que ainda tateia em busca dos melhores modelos de gestão, das melhores formas de se chegar a um ponto recomendável para patrocinadores, dirigentes, atletas, mídia e torcedores. Quanto tempo durará até chegarmos a um porto-seguro para o basquetinho? Ninguém pode dizer (inclusive se o dia chegará). Mas eu prefiro encarar a Série B do NBB como um começo, como uma forma de se chegar a, sei lá, duas divisões fortes com 14, 16 clubes no basquete brasileiro, e não como algo ruim, tenebroso, trágico como muita gente está tentando pintar".

Sigo pensando exatamente assim, mas torço para que a evolução da competição seja mais rápida, tornando a modalidade mais atraente para patrocinadores, atletas, imprensa e, claro, consumidores (torcedores), evitando que casos bizarros como o de ontem em Brasília, que viu um jogo de NBB cheio de toalhas na quadra, aconteçam na principal liga do país (mais aqui). Concorda comigo? Comente aí!

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