Topo

Bala na Cesta

Pelas mãos de Scott Skiles, a transformação do Orlando Magic

Fábio Balassiano

21/12/2015 01h07

vucevicQuando o Orlando Magic veio ao Brasil para o amistoso contra o Flamengo na pré-temporada muita gente tinha expectativa sobre o que o time da Flórida faria no campeonato de 2015/2016 da NBA. Justificava-se, aliás. Era um elenco talentoso, com um punhado de moleques jovens e saltitantes, e um calouro animador recrutado no Draft (o ala Mario Hezonja). O problema é que a franquia vinha de três temporadas frustrantes seguidas (68 vitórias SOMADAS) e o novo técnico (Scott Skiles), todos sabem, nunca foi dos mais queridos nos vestiários de onde passou (Suns, Bucks e Bulls).

skiles1O certame começou, nem a defesa, marca registrada dos times de Skiles (um dos ídolos da franquia Magic e dono do recorde, com a equipe, de 30 assistências em um único jogo – feito atingido em 1990), engrenava e o sinal amarelo começou a tocar antes mesmo do Natal.

A campanha estava em 6-8 em 23/11, data em que o time perdeu do Cleveland Cavs sem mostrar a menor resistência, quando o treinador, que nunca foi dos mais pacientes, decidiu mexer na escalação para evitar outro campeonato frustrante. E o Orlando mudou pra melhor.

payton1A modificação de apenas uma peça, aparentemente simples, foi cirúrgica por parte de Skiles. Inconformado com a dupla armação de Victor Oladipo (camisa 5) e Elfrid Payton (o 4), que corria loucamente e segurava demais o jogo em suas mãos, o técnico optou por dar "a chave" do carro para Payton. Sem força no garrafão para auxiliar o excelente Nikola Vucevic, a ideia foi deslocar o não menos ótimo Tobias Harris para a posição três, com Channing Frye fazendo a ala-pivô. Ele está longe de ser um bom defensor, mas é um bom passador, alto para combater os alas-pivôs adversários, tem bom chute para abrir a defesa e, por atuar mais aberto, permite os drives de Vucevic perto da cesta no jogo que o pivô se dá muito bem (o do um-contra-um). Na sexta-feira, contra o Portland, isso pôde ser visto à perfeição, com Vuc dominando o garrafão com 25 pontos e Frye segurando a onda nos rebotes. Frye, aliás, tem experiência para frear a correria que de vez em quando o Orlando tentava implantar (sem sucesso). O time era, até dezembro, um dos piores da NBA em desperdícios de bola, índice que se mantém até hoje, mas em menor patamar (15,2, praticamente o mesmo que Cleveland e Oklahoma).

vuc1Com o novo time titular, outras peças começaram a render melhor (mesmo atuando de maneira diferente). Tobias Harris (14,6 pontos) passou a ter mais facilidade para cortar seus rivais (agora do mesmo potencial físico que o seu) e menos dificuldade para marcá-los. O francês Evan Fournier, por outro lado, teve que tirar um pouco o seu lado pontuador de quadra (apesar de sua média estar em 14,1 pontos) para ajudar na marcação do perímetro, onde se desgasta mais, na condução de bola com Payton e nos passes diretos para Vucevic (foto), a arma ofensiva número um da equipe. O quinteto, não tão rápido, não tão passador assim, consegue se virar bem no ataque, com Elfrid Payton tendo 50% a mais de pontos em dezembro (15,1) do que em novembro (10,7) apesar de ainda ser um arremessador não tão confiável de longe (31,3%).

oladipo1A maior surpresa, porém, vem com a segunda unidade. Se o Golden State Warriors tem a sua "formação da morte" defensiva (Curry, Thompson, Barnes, Iguodala e Green), o Orlando também possui a sua. Oladipo, vindo do banco de reservas, tem total liberdade ofensiva ao lado dos reservas Mario Hezonja (o ala, ex-Barcelona, ainda sofre um pouco para acompanhar o ritmo dos demais, mas seu talento é muito grande), Aaron Gordon (ala no segundo ano e ainda muito instável), Andrew Nicholson (um ala-pivô cujo potencial físico beira o absurdo) e Jason Smith (pivô voluntarioso). O Magic, que tinha problema para pontuar nos segundos períodos (quando os suplentes atuam), passou a segurar a onda na defesa e a manter a pontuação em alta via Oladipo.

magic1Quase um mês depois o que vemos é um time totalmente ativo em quadra, com duas unidades bem balanceadas e com boas opções (ofensivas e defensivas) em cada uma delas. Os 6-8 se transformaram em 15-12 apesar do revés deste domingo, em casa, diante do Atlanta Hawks por 101-98. Foram 9 vitórias nos últimos 13 jogos portanto, a oitava colocação do Leste e um basquete fluído, mais pesado na defesa e misturando o que há de melhor nas duas unidades (os titulares pontuam com facilidade; os reservas, marcam bem).

magic2Isso tudo, vale lembrar, com um elenco de 25,3 anos de média (a terceira menor da liga), e cujos três principais cestinhas não foram escolhidos pela franquia no Draft, o que mostra olhar bem profundo para as trocas recentes feitas pela equipe. Vucevic, que saiu na posição 16 no Draft de 2011, veio do Sixers e tem 15,9 pontos e 8,7 rebotes (tem tudo para ser All-Star). Tobias Harris, escolhido três posições depois pelo Bucks no mesmo ano, registra 14,6. Evan Fournier, selecionado pelo Denver na posição 20 em 2012, tem 14,1, a melhor de sua carreira.

magic3O Magic esperava que Payton (em sua segunda temporada) ou Oladipo fossem conduzir a equipe ao playoff. Scott Skiles teve outra ideia e está se dando bem. Usando e abusando de uma forte e incessante rotação (10 jogadores com 10+ minutos), o treinador detectou rápido que a força do seu elenco está mesmo no jogo coletivo e na heterogeneidade de suas duas unidades.

Ainda é cedo para projetar o que será daqui pra frente (estamos chegando ao primeiro terço da temporada), mas até o momento o Orlando é uma das mais belas surpresas da NBA em 2015/2016.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.