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Bala na Cesta

Como parar Steph Curry? Neto, Demétrius e Gustavo de Conti analisam

Fábio Balassiano

18/11/2015 06h01

curry1O Golden State Warriors venceu ontem o Toronto Raptors por 115-110, chegou a 12ª vitória seguida na temporada, se manteve invicto na NBA e mais uma vez viu sua estrela maior brilhar. Steph Curry marcou 37 pontos, cravou 5 bolas de três e ainda distribuiu 9 assistências. Ele é, sem dúvida alguma, o maior nome do basquete mundial na atualidade. Não só o maior nome, mas o que gera o maior número de dúvidas. Abaixo os melhores momentos da peleja desta terça-feira em Oakland.

Como marcá-lo? É possível freá-lo? Dá pra detê-lo de alguma maneira? Consultei três dos melhores técnicos do país sobre isso. Estão aqui José Neto (Flamengo), Demétrius (Bauru) e Gustavo de Conti (Paulistano), treinadores da primeira linha do NBB e assistentes de Rubén Magnano na seleção brasileira masculina adulta. Vamos lá:

gustavo11) O que você faria de ajuste em seu time caso você enfrentar Steph curry? Existe alguma fórmula para detê-lo?
GUSTAVO DE CONTI: Contra um jogador como esse, é preciso fazer uma defesa de equipe. Pelo que acredito de basquete e de defesa, não existe nenhum jogador capaz de pará-lo sozinho – nem o melhor defensor do mundo. Um cara como o Curry é impossível de ser anulado, principalmente porque ele pontua muito em contra-ataque, onde é muito difícil um ajuste fino de defesa. Mas dá para tentar minimizar seus pontos no jogo de cinco contra cinco com dobras ou armadilhas ou tentando diminuir o seu volume de jogo, aumentando, por consequência, o dos seus companheiros.

neto1JOSÉ NETO: Sem dúvida é um jogador que tem uma qualidade inquestionável e que está jogando neste momento com muita moral, o que potencializa ainda mais esta característica. Isso dificulta demais as ações do adversário para conseguir defendê-lo. Acredito também que as estratégias têm de ser variadas, já que ele tem uma excelente leitura da defesa e consegue tirar benefícios de um "handicap" que a tática defensiva pode oferecer.

dema1DEMÉTRIUS: Eu tentaria alguma coisa, sim. Uma dobra é uma alternativa, mas não uma dobra na marcação na meia quadra, no jogo de cinco contra cinco. O que eu talvez tentaria seria na hora que ele pega a bola no fundo bola. Tentaria dobrar, fazendo com que ele passasse a bola. Aí ele viria para o ataque sem o controle do jogo. Aí, quando ele fosse buscar a bola na mão do pivô ou de outro atleta, continuaria dobrando seguidamente. Tentaria tirar o volume dele, deixando para os outros companheiros dele a missão de decidir. Não é fácil, mas é uma ideia que faria. Ou então há outra forma que é marcá-lo de uma maneira que os outros não tivessem volume de jogo. Ou seja: o Curry atingiria seus 30, 40 pontos, mas os outros atletas estariam bem vigiados. Era igual ao que fazíamos com o Oscar Schmidt. Ele faria 40, mas os outros não poderiam fazer acima da média deles.

dema12) Na NBA atual, ele é o jogador que causa mais pânico na defesa adversária pelo que é capaz de fazer de forma inesperada ?
DEMÉTRIUS: Ele é o jogador da atualidade que causa mais situações improváveis pela maneira dele de jogar. Isso ele traz não só pra parte técnica, mas também pro carisma dele. Porque ele é leve pra jogar, parece que não faz força, está sempre sorrindo e é imprevisível. Essa imprevisibilidade dele traz uma expectativa maior para o que ele vai fazer, como ele vai fazer e os "absurdos" que ele produz. Isso é a NBA e muito bom para quem assiste. Atrai, gera público. Todo mundo quer vê-lo jogar. E todo mundo que o vê atuar se diverte, sai com uma sensação boa do ginásio. A NBA estava precisando de alguém assim.

GustavoGUSTAVO DE CONTI: Na minha opinião sim. Ele pode te machucar muito em transição, que, como disse acima, é muito difícil de ajustar rápido. Além disso, a regra da NBA de limitar as ajudas defensivas fazem aflorar as características de um contra um do Curry, que tem um repertório espetacular. Ele finaliza muito rápido e impressiona mesmo.

JOSÉ NETO: Estar confiante defensivamente é um dos ingredientes que a equipe tem que ter pra poder ter uma chance de êxito contra um ataque com o poder do Golden State. Mais do que nunca, defesa precisa ser coletiva. Também é importante saber com clareza a estratégia que será usada e bem treinada para poder executar na partida.

neto13) Na sua carreira de técnico, para qual jogador adversário você perdeu mais cabelos para fazer ajustes defensivos?
JOSÉ NETO: Acredito que cada equipe pode ter o seu "Curry", e que temos que nos preocupar, já que é uma referência ofensiva. Lógico que algumas mais evidentes. Por isso, quando enfrentamos um time que consegue distribuir bem suas ações ofensivas dificulta muito para a defesa e exige demais uma regularidade de todos para conseguir ter êxito.

GUSTAVO DE CONTI: Com a Seleção Brasileira, sem falar dos americanos, o sérvio Milos Teodosic é muito difícil. Ele sabe passar e sabe atacar de diversas formas. Nunca participei de jogos contra o grego Vassilis Spanoulis, mas acredito que seja complicado também. No NBB, tem dois jogadores que trazem essas sensação de dor de cabeça para ajustar a defesa. São eles Shamell e Marquinhos. Os dois jogam no um contra um, arremessam rápido e com conversão alta, infiltram muito bem, passam muito bem a bola para os companheiros, jogam de costas no poste baixo. São completos ofensivamente, além de ainda terem muito sangue frio e gostarem de decidir os jogos.

dema1DEMÉTRIUS: Como técnico tive que fazer muito ajuste na final do Paulista de 2010 contra o Pinheiros em que vencemos. Eles tinham o Marquinhos e o Shamell, que caíam no poste baixo a todo mundo porque nosso time era mais baixo. Aí quando começamos a marcar uma pressão quadra inteira, não deixando o armador Figueroa levar a bola, deixando os dois fazer isso, a gente pressionava. Com isso o sistema deles saía um pouco de controle de querer ficar jogando de costas pra cesta. Deu muito certo naquele ano. Como jogador, o que eu mais me preparava para jogar era o Ratto. Ele era muito rápido. E eu, alto. O Ratto me deixava levar a bola com tranquilidade, mas quando passava do meio da quadra começava a correr loucamente querendo me roubar a bola. Tinha sempre que ficar atento e exigia muito de mim. Internacionalmente para mim era muito difícil jogar contra o Carlos Arroyo (Porto Rico), o Marcelo Milanesio (Argentina), armador muito craque e que passava muito bem a bola, e, claro, o Steve Nash (Canadá), a quem foi bem difícil marcá-lo.

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