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Bala na Cesta

Steph Curry, a lenda e a forma de atuar que muda o basquete

Fábio Balassiano

04/11/2015 01h34

O primeiro jogo foi assim (40 pontos e 7 assistências em 36' contra o Pelicans):

O segundo, assim (25 pontos e 6 assistências em 27' contra o Rockets):

O terceiro, assim (53 pontos e 9 assistências em 36' contra o Pelicans:

O quarto, assim (30 pontos e 3 assistências em 28' contra o Grizzlies):

curry1Está claro, né? Steph Curry, armador do Golden State Warriors, está jogando em outro nível de basquete neste começo de temporada da NBA. Ninguém desde Michael Jordan em 1991 (156 pontos) tem um início de campeonato tão surreal em pontos que o atual MVP (148 em quatro partidas, com 21/43 nas bolas de três, algo absurdo).

Mostrar algo tão diferente que me fez receber a seguinte mensagem de um técnico do basquete brasileiro: "Você não tem ideia do dano que o Steph curry tem me causado há um ano. Meus jogadores olham o cara fazendo aquelas loucuras, arremessando depois de drible, em contra-ataque, marcado por 2, e querem fazer igualzinho. E pra eu explicar que eles não podem, que aquilo ali só é recomendável para gênios?".

Stephen CurryHá um pouco de exagero, obviamente, mas acho que há bastante de fundamento, sim. Curry é um alien, um ser de outro mundo fazendo algo absolutamente improvável parecer fácil, básico, o certo, o trivial, aquilo que todos deveriam realizar em uma quadra. Chute de três pontos em contra-ataque? Chute pós-drible? Atirar mesmo vigiado por dois ou três caras? Lançar a bola três passos atrás da linha de três pontos? Qualquer ser deste planeta deve ser rapidamente travado por seu técnico em caso de PENSAR em qualquer uma destas possibilidades. Steph, por sua vez, é INCENTIVADO pelo comandante Steve Kerr e a comissão técnica do Warriors justamente porque ACERTA tudo o que coloquei acima e causa uma apreensão nunca antes vista na história do jogo na marcação adversária.

curry4Dá pra imaginar o que pensa um treinador rival quando vai enfrentar o magriça do Golden State? O que fazer? Aproximar e abrir espaço para as infiltrações? Puxar ao máximo a defesa (toda) para cima da linha de três pontos, deixando o garrafão aberto? Colocar jogadores mais altos/físicos em cima do Curry para tentar cansá-lo? Pode ser que algum estratagema dê certo, mas hoje em dia não é isso que vemos, não. Qualquer tipo de tática a ser tentada atualmente parece um devaneio simplesmente porque hoje ninguém deste mundo consegue segurar o pai da Riley. Pai da Riley que disse ter treinado horrores nas férias e que voltaria ainda melhor para esta temporada. Muita gente duvidou porque achou que jogar acima daquilo que vimos em 2014/2015 seria impossível, né? Pelo visto o limite de Steph ainda não chegou.

curry5O Vagner Vargas escreveu ano passado que Curry era o melhor arremessador de todos os tempos e confesso que torci o nariz porque achava muito cedo ler isso de alguém que, naquele momento, ainda não tinha ido tão longe nos playoffs.

Agora, com o título nos dedos e com o jogo cada vez mais rápido (e insano), a coisa mudou de figura e vejo que o Vagner anteviu com brilhantismo exatamente o que TODOS que assistem a uma partida de basquete sentem sobre o camisa 30 do Warriors.

curry2Steph Curry, o melhor "produto" do basquete atual (veloz, recheado de bolas de três pontos e mais audacioso), já é uma lenda do esporte. Uma lenda que parece ser um personagem de vídeogame jogando basquete de verdade tamanha é a sua facilidade para converter lances improváveis em cestas brilhantes, em ações que já nascem históricas.

Ele provavelmente vai bater todos os recordes de bolas de três pontos deste planeta, mas o principal do atual MVP não é isso. O principal mesmo é que talvez, desde MJ, ninguém consiga mostrar ao mundo uma maneira tão distinta de jogar este jogo que existe há mais de 100 anos.

curry7Apesar de Steph ter 27 anos e muita lenha pra queimar, já dá pra falar em legado, sim.

Um legado de arte, magia, quebra de paradimas, graça (ele joga RINDO, gente!), precisão e heterodoxia aos padrões até então inquebráveis do basquete. São poucos os atletas que entram em um esporte e conseguem modificar a sua dinâmica justamente por fazer algo totalmente inimaginável, diferente, do que é vigente. De cabeça, no da bola laranja eu lembro de Wilt Chamberlain, Bill Russell, Magic Johnson e Michael Jordan. Como se vê, não são muitos, não. Steph Curry é, ao meu ver, um destes (que entram em cena para mexer no curso da história).

Joga (assim) pra sempre, Curry! Joga assim logo mais contra o Los Angeles Clippers, Steph (01h30 de quinta-feira)!

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