O martírio que é o período de seleções no basquete brasileiro
A eliminação da Copa América ainda está sendo absorvida, e eu espero que por parte de comissão técnica e de dirigentes da CBB também, mas conversando com amigos ontem fiquei pensando em uma coisa que também (além das derrotas em quadra) me angustia há tempos no basquete nacional: o motivo de qualquer período de seleções brasileiras ser um martírio, um verdadeiro pandemônio. Desde que acompanho fortemente a equipe nacional (2008) é assim e aparentemente não há sinal de melhora. Parece muito inclusive com o que vemos no futebol, onde a CBF consegue confundir mais do que explicar.
Perder faz parte do esporte, mas o que acontece quando termina a temporada de clubes é o mesmo há um bom tempo: polêmica na hora da convocação, notas oficiais dos atletas para explicar dispensas (e logo serem fuzilados em praça-online pública), nenhuma linha para explicar ausências (o que aconteceu com Marcus Toledo exatamente que ele não entrou em quadra na Copa América nos últimos jogos?), uma seleção que vive enclausurada, um técnico que não conversa com seus pares em terreno nacional (a não ser com quem faz parte de sua comissão), preparações ruins, amistosos abaixo da crítica e muito mais. Nem cito atrasos nos pagamentos porque aparentemente este tópico saiu de circuito, mas em um passado não muito distante isso acontece – e muito.
Isso assusta muito principalmente pelo fato de convivermos tanto com Liga Nacional (organizada) quanto com a NBA (agora com escritório no Brasil e o "auge" no que tange a organização respeito aos torcedores e ao trabalho da imprensa). Começam as temporadas de clubes (ou franquias no caso da liga norte-americana) e vemos, sim, erros, acertos e problemas durante oito, nove meses, mas nada comparado ao cenário de terra arrasada (e alucinada) em menos de 90 dias de seleções brasileiras.
A certeza que eu tenho, e escrevi isso recentemente, é que independente do que aconteça na quadra teremos algum tema para comentar de algo que rolou fora dela. Em resumo: é absolutamente impossível, para quem faz jornalismo sério e se interessa em ver as coisas melhorarem, focar apenas nos aspectos do jogos (técnico, mental e tático) porque a gestão tenebrosa da CBB influencia decisivamente em coisas que teremos que comentar nos jogos tanto de seleção masculina (menos afetada) quanto de seleção feminina (onde o reflexo dos problemas da Confederação ficam mais latentes porque, em resumo, ninguém liga pras meninas na entidade máxima).
Por mais que não torça pra absolutamente nada (tentando manter sempre a isenção), fico me perguntando: por que diabos essa turma que "organiza" o período de seleções não consegue deixar o ambiente tranquilo por (reitero) menos de 3 meses do ano? Qual é, realmente, a dificuldade? Será que não há um hábil consultor de relacionamento/comunicação para explicar que crises, quando públicas, evidenciam que não está lá tão boa a gestão da empresa (no caso da Confederação)? Poderia, mas não falo nem do lado pessoal (meu) da coisa, não. O técnico não fala comigo, a endividada CBB me nega credenciais, a assessoria de imprensa ignora minhas perguntas (além de pouco profissional é de uma falta de educação ímpar), mas isso não mudaria em nada a análise se a entidade máxima fizesse a sua parte para o basquete brasileiro melhorar. O que fica estranho, para mim, é o motivo pelo qual as coisas não podem ser leves, organizadas, planejadas e respeitáveis em todos os lados. Assusta, ainda mais, o fato de ninguém colocar a mão para tentar reverter uma situação que já passou do nível da bizarrice pública.
Período de seleção deveria ser justamente o contrário. Deveria, em minha cabeça talvez ingênua, ser a fase do ano em que a Confederação Brasileira consolidasse tudo aquilo que fez nos 8, 9 meses anteriores. Deveria ser a época do ano em que a molecada conhece seus ídolos. O momento em que ações de marketing com os patrocinadores são feitas. O momento em que os jogadores visitam escolas, clubes, hospitais e as ruas para serem conhecidos. O momento em que técnicos estrangeiros de bom nível vêm ao país para dar clínicas. O momento em que torcedores conhecem os novos atletas. O momento em que o basquete ganha ainda mais as manchetes pois sabemos que a imprensa, via de regra, abre mesmo espaço para esportes olímpicos quando há seleção envolvida.
O que vemos, no entanto? Nada do que coloquei acima. Para completar o busílis, ainda temos um punhado de derrotas vexatórias nos últimos anos (Uruguai duas vezes, Panamá e Jamaica) para anabolizar a crise de um esporte que não consegue deixar de passar uma imagem ruim para o público que até gostaria, mas que não consegue "amar" o basquete justamente porque ainda há muita lama envolvida no esporte.
Por fim, só me resta esperar que a CBB, que não trabalha em absolutamente nada (nada!) para popularizar o esporte no país, pense desde já nas preparações tanto da seleção masculina quanto da feminina visando as Olimpíadas de 2016. Já que não faz ação nenhuma para colocar mais crianças treinando o basquete, que ao menos o Presidente Carlos Nunes sente todos os dias em sua mesa na Avenida Rio Branco para checar como está indo o planejamento visando os Jogos que serão daqui a menos de um ano. Talvez seja pedir muito, mas não custa tentar, né?
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