A caminho do Lakers, o que esperar de Huertas na NBA?
O dia de ontem começou agitado. No meu celular pipocava a notícia que Marcelinho Huertas iria, enfim, assinar com a NBA. Fui apurando, apurando, tinha a informação ali pelo meio-dia (como mostrei no Instagram), mas para "reter a fonte" não poderia divulgar o fato que acabou levando a "comunidade brasileira do basquete" à loucura. O Woj, do Yahoo, soltou a certeira bomba cinco horas depois: "Huertas no Lakers", como está no Yahoo.
Woj divulgou que Huertas assina com o Los Angeles Lakers por apenas um ano. A informação que tenho é que o contrato é garantido no primeiro ano, com o segundo opcional por parte da franquia. Os valores ainda não foram revelados, o que deve acontecer até sexta-feira. Até lá o armador brasileiro fará exames médicos e assinará os papéis para falar oficialmente como jogador de uma das mais tradicionais equipes do basquete mundial.
Dá pra analisar a informação de três maneiras. A primeira é o impacto que mais um brasileiro na liga norte-americana traz. Agora são 9 jogadores que podem começar a temporada 2015/2016 e isso é relevante pacas. Além de Huertas, provavelmente estarão lá Leandrinho, Varejão, Splitter, Nenê, Caboclo, Bebê, Cristiano Felício e Raulzinho. Para um país que não tem um trabalho de base tão bom assim (como demonstram os fiascos em sequência da Confederação Brasileira), dá pra imaginar quão forte o Brasil seria se as coisas andassem realmente na linha. De todo modo, é quase uma dezena de atletas no melhor basquete do planeta e este número certamente impulsionará a modalidade localmente.
O segundo atende pelo lado, digamos, emocional de Marcelinho Huertas. Entrevistei o armador brasileiro de 32 anos em fevereiro deste ano e, como sempre faço quando nos falamos, perguntei a ele sobre NBA. Sua resposta foi: "Sempre existe essa possibilidade e nunca descartarei. (…) Resta esperar e ver o que acontece no futuro". Por mais que ele não criasse expectativa (talvez para não se frustrar caso não acontecesse), é óbvio que TODOS os jogadores sonham em chegar ao melhor basquete do planeta. É natural, compreensível e explica muito bem o fato de ele ter segurado até o último segundo a sua decisão (ignorando, inclusive, os insistentes chamados da Turquia, que o queria com uma proposta que financeiramente pode, sim, ser até melhor que a do Lakers). Todos que acompanham a sua carreira torciam por isso (e é só ver a comemoração que ocorreu ontem nas redes sociais quando o fato foi divulgado, tamanho é o carinho dos brasileiros com ele).
Podem chamá-lo de "cabeça-dura" por ter esperado uma oportunidade da NBA que poderia não vir depois do Dallas ter desistido dele quando DeAndre Jordan mudou de ideia (conforme divulguei aqui) ao ficar no Clippers, mas o fato é que Huertas conseguiu sucesso em sua carreira na Europa e na seleção brasileira mesmo com todo mundo apontando seus defeitos como "irremediáveis" justamente porque confiava muito em sua capacidade de se adaptar às situações menos favoráveis (e este talvez seja seu maior mérito em sua trajetória profissional). "Ele não marca", "Ele é fraco em termos físicos" e "Seu chute não cai" foram algumas das críticas (por vezes injustas) que ele recebeu. Como Huertas respondeu? Evoluindo ano após ano e acreditando em si mesmo para se fortalecer. Chegar ao Lakers, ao incrível Los Angeles Lakers de tantos e tantos títulos como o segundo brasileiro (o primeiro foi Jefferson Sobral, que disputou duas partidas de pré-temporada em 2002), é, sim, uma vitória pessoal para uma carreira que começou lá atrás no Paulistano.
Em termos técnicos, é óbvio que há, sim, preocupação em relação a sua adaptação a um basquete totalmente diferente do europeu em que ele estava há mais de uma década. O jogo nos Estados Unidos é bem mais rápido, muito mais físico, os armadores que ele terá pela frente são brutalmente atléticos (Russell Westbrook é o maior expoente dos cavalos da posição 1) e o elenco do Lakers é bem fraco. Além disso, a franquia, uma das mais tradicionais da NBA, está pressionada pelos últimos anos de fiasco e conta com um líder (Kobe Bryant) pra lá de exigente. Isso tudo, sem dúvida alguma, é uma verdade, mas é apenas uma maneira de ver as coisas.
O principal ponto ao meu ver é: Huertas sabe jogar basquete. Além das funções que ele poderá desempenhar em, digamos, "causa própria", ele poderá ajudar muito aos jovens D'Angelo Russell e Jordan Clarskon com sua experiência, passando aos "recém-chegados" à idade adulta tudo aquilo que aprendeu jogando na Liga ACB e também na Euroliga (principalmente naquilo que ele faz melhor, ou seja, nos pick-and-rolls). Dá, portanto, para conseguir bons 15, 20 minutos por jogo e se tornar uma peça importante não só na rotação, mas principalmente no vestiário e no dia a dia da equipe. Experiente, o brasileiro também tem inglês fluente, o que ajuda na adaptação de um armador que precisa loucamente se comunicar com os companheiros e comissão técnica.
É claro, também, que os Lakers estão longe de ser um esquadrão e que o técnico Byron Scott terá que cortar um dobrado para conseguir conjugar velocidade, sobriedade, técnica e defesa na mesma quadra com Russell, Clarskon, Nick Young, Lou Williams e Huertas, jogadores que devem formar o perímetro angelino e que nem de longe têm na marcação a característica principal.
Estes são pontos que iremos avaliar aos poucos e ao longo da próxima temporada da NBA. Qualquer análise maior neste momento me parece prematura, principalmente porque os Lakers têm um elenco praticamente novo para o campeonato que está por vir.
No momento vale dar, novamente, os parabéns a Marcelinho Huertas, que atingiu o seu objetivo pessoal e profissional de jogar na melhor liga de basquete do planeta. Chegar à NBA é motivo de comemoração para qualquer atleta. Jogar nos Lakers, ainda mais. Participar daquele que provavelmente será o último ano da vida profissional de Kobe Bryant parece um sonho.
Sonho que Huertas realizará a partir de 28 de outubro, quando os Lakers receberão o Minnesota Timberwolves. Será o reencontro dele com Ricky Rubio, seu antigo companheiro na Espanha. Será o primeiro encontro do camisa 9 da seleção brasileira com a realidade, a NBA, que ele imaginava conhecer há tempos. Parabéns a ele!
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