O muro das lamentações chamado basquete feminino brasileiro
Terminou ontem a Copa América de Edmonton. E terminou justamente da maneira que (infelizmente) imaginava. Com o Canadá campeão (e classificado para os Jogos Olímicos de 2016), com Argentina, Cuba e Venezuela indo para o Pré-Olímpico Mundial e com o Brasil na péssima quarta colocação do campeonato ao ganhar dos insossos times de Equador, Venezuela e Ilhas Virgens e perder para Cuba e Argentina (duas vezes em uma semana para uma equipe que não era derrotada há 60 anos), duas equipes minimamente organizadas (algo que a seleção feminina não é).
Na quadra o que vimos foi literalmente mais do mesmo. E é mais do mesmo simplesmente porque seleção, em qualquer esporte, é reflexo do que a modalidade faz no dia a dia (ou vice-versa). Na Copa América a seleção feminina mostrou pobreza absurda de fundamentos, um técnico totalmente perdido (Zanon foi expulso na semifinal contra o Canadá justamente quando o Brasil estava "no jogo" ali no terceiro período), meninas sem saber o que fazer em quadra tanto no ataque quanto na defesa (apenas Iziane – na foto à esquerda – tentava algo diferente), adversários explorando muito bem as deficiências da seleção (o Canadá, sabendo que as bolas longas da equipe brasileira não estava caindo na competição, literalmente "pagou" pro chute – e o Brasil acertou 2/20 na semifinal, algo bem bizarro) e nenhuma variação tática que justifique os dois meses de treino que este grupo teve entre Pan-Americano e Copa América. Em resumo: foi um desastre de proporções jamais vistas e que tende a piorar quando o nível da competição subir na Olimpíada de 2016.
Nada que surpreenda a quem acompanha este espaço ou que siga o basquete feminino de forma razoável (e não a cada dois, quatro anos). É verdade que para a Olimpíada de 2016 (o Brasil está classificado tanto com meninas quanto com meninos após a CBB pagar o que devia à FIBA) haverá as presenças de Clarissa, Érika e Damiris (que estão na WNBA – na foto ao lado), o que qualifica o garrafão, mas alguém em sã consciência consegue dormir mais tranquilo com a chegada do (bom) trio da liga norte-americana? Será que efetivamente isso será refletido em resultado dentro de quadra? Duvido muito. Com elas em quadra o Brasil foi nono nos Jogos Olímpicos de Londres. Com elas em quadra o Brasil foi décimo-primeiro no Mundial de 2014. Foram apenas duas vitórias em nove partidas oficiais nestes últimos dois últimos Torneios Classe A (algo tenebroso). Elas de fato são ótimas, mas o problema é MUITO maior do que trazer três, quatro novas peças para o tabuleiro. E insisto nisso há tempos.
O basquete feminino brasileiro, jogado a própria sorte, é um muro da lamentação imenso, constante e sem possibilidade de melhora. Tudo joga contra. As atletas são absurdamente passivas e quase sempre pouco preocupadas com grandes conquistas internacionais (como elas conseguem sorrir tanto, alguém me explica?), Liga de Basquete Feminino sem poder financeiro e de ideias para grandes mudanças, Confederação Brasileira que simplesmente ignora o que pode fazer pelas meninas e clubes fechando as portas a cada dia (principalmente na base, onde o custo é imenso e o retorno de imagem, nem tão grande assim).
A verdade é que os gênios (Paula, Hortência, Janeth, entre outras) sumiram, a fonte milagrosa do talento secou e aí o trabalho passou a ser testado. Testado e reprovado. Há como melhorar? Há, há sim. Como sempre digo, qualquer mínimo movimento certeiro no basquete feminino reflete-se em resultado no âmbito internacional em quatro, cinco anos (rápido, bem rápido). É só ver o que fazem Canadá, cujo elenco é bom mas sem nenhuma craque (joga de forma organizada, com apreço aos fundamentos básicos do jogo e tem 10 atletas em condição de fazer a rotação), e França, citada inúmeras vezes (mais aqui).
O problema está em sair da inércia, em querer fazer algo diferente do que (não) vem sendo feito há 20 anos. Fazendo tudo igual, como alguém espera resultados práticos diferentes? Desculpe avisar (se é que precisa), mas não haverá evolução nunca se a "pedra fundamental" do basquete feminino não for redesenhada rapidamente.
Se a filosofia (de ensino, de ver as coisas, de não querer fazer diferente) continuar igual, a tendência não é nem ficar da mesma maneira, mas sim de piorar. Piorar porque há equipes do mundo evoluindo e os bons trabalhos do país vão fechando a porta dia após dia. É triste, mas esta é a verdade que alguém precisa dizer de vez em quando. Ficar passando a mão na cabeça (de atletas, técnicos e dirigentes) não resolve o problema. Sentar todos em volta de uma mesa (jogadoras, imprensa, treinadores, clubes e LBF) talvez faça com que o momento do basquete feminino brasileiro se modifique. Quem se habilita a dar o primeiro passo?
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