O fim da carreira do genial Steve Nash
A primeira lembrança que tenho de Steve Nash não vem da NBA. Foi nos Jogos Olímpicos de Sydney, 2000, quando ele tinha 26 anos e guiava o Canadá a uma impressionante campanha na competição. Eu tinha 15 anos, virava as madrugadas sem dormir devido ao fuso horário e não entendia muito bem como o time de Jay Triano ganhava um jogo atrás do outro naquela fase de classificação mesmo sem um elenco tão forte.
Com atuações sólidas, o Canadá perderia da Rússia, mas venceria Austrália, Angola, Espanha e a favorita Iugoslávia. Contra os iugoslavos, no jogo que valia a primeira posição do grupo, vitória maiúscula por 83-75 com 26 pontos, 8 assistências e 8 rebotes de Steve Nash em cima de bambas como Dejan Bodiroga e Predrag Danilovic. De azarão, o país passara a candidato a medalha.
Veio a partida de quartas-de-final, do outro lado estava a França que avançara ao mata-mata com campanha negativa (2-3) e um duro baque: derrota por 68-63 em um confronto que contou com 9 desperdícios de bola do camisa 7. A saída de quadra (foto à direita) mostra bem como o seu mundo desmoronou. Vencendo aquela partida o Canadá disputaria a medalha, um dos sonhos de sua vida – e teria boas chances de alcançar o feito (os franceses venceriam a Austrália na semifinal para depois perder dos Estados Unidos na decisão do ouro).
Naquela altura dos acontecimentos Steve Nash era um armador mediano na NBA. Havia terminado a temporada 1999-2000 com o Dallas já como peça importante para o time e seria alçado a condição de titular no campeonato seguinte. Era a chance que ele tanto queria (ser titular em um time que tinha Dirk Nowitzki começando e Michael Finley em ótima forma). A dúvida que ficava na época era como ele iria se recuperar da derrota com a sua seleção.
Mas logo vieram os jogos e Nash mostrou bem quão craque era. Foram 15,6 pontos, 7,3 assistências e a primeira vitória da franquia em uma pós-temporada desde 1988 (3-2 contra o Utah Jazz de Karl Malone e John Stockton). Dali por diante acho que nem é preciso falar muito da carreira deste gênio do basquete que anunciou ontem através de uma belíssima carta (aqui) que está se aposentando (algo que todos imaginavam que iria de fato acontece após três anos recheados de lesões no Los Angeles Lakers).
Foram dois troféus de MVP (2005 e 2006), o terceiro lugar na lista dos maiores passadores da NBA (10.335 assistências, atrás apenas de Stockton e Jason Kidd) , inúmeras atuações históricas e uma forma de atuar que mudou completamente o jogo. Ganhar título conta (contam muito, é sempre bom frisar isso), mas nem sempre é tudo. Aquele menino que jogou na Universidade de Santa Clara (colocando-a no mapa do March Madness, inclusive) mudou o jogo de basquete com uma maneira distinta, diferente de jogar. Isso vale tanto ou mais que um anel de campeão.
O começo da revolução foi mesmo no Dallas de Don Nelson. A explosão, porém, veio em Phoenix mesmo. Amparado por um sistema muito bem desenhado por Mike D'Antoni (sim, era tudo tático ali), Nash liderou a NBA em assistências por três temporadas seguidas entre 2005 e 2007, liderou o ótimo Phoenix Suns a quatro temporadas consecutivas com mais de 50 vitórias (em 2004-2005 foram 62, número difícil de se ver até hoje) e revolucionou a forma como um armador atuava.
Hoje é fácil ver Russell Westbrook, Chris Paul, Stephen Curry ou Kyrie Irving atacando a cesta com força e correndo bastante com a bola. Na época de Nash o armador era praticamente proibido de chegar perto do aro com constânica ou ter mais de 15, 18 pontos por jogo. Eram tempos de John Stockton e Gary Payton, famosos por passar muito bem a bola e ditar um ritmo cadenciado em suas equipes. Pontuar era complicado. Atuar no famoso run-and-gun (contra-ataque feroz), como o Los Angeles Lakers da década de 80, então, nem pensar. E foi isso tudo que o camisa 13 do Suns trouxe a mesa.
Nash era fantástico conduzindo um sistema ofensivo que atacava muitas vezes com menos de dez segundos de posse de bola (virou até um livraço, veja só aqui), surreal encontrando ângulos impossíveis de passe (nunca vi igual) e brilhante quando ele mesmo finalizava com suas infiltrações geniais (sempre soltando a bola antes da última passada, o que diminuía a chance de toco do adversário) ou com arremessos de fora que caíam com facilidade (entre 2000 e 2010 ele teve mais de 40% nos tiros de fora, vejam só que absurdo).
Não ter ganho um anel de campeão não muda o legado que ele deixa para o basquete e para o esporte em geral. Nash é um cara de 41 anos que transformou o basquete, que mudou a forma como os armadores jogam no nível mais alto, competitivo e difícil da modalidade. Sua influência está no jogo até hoje e permanecerá por muito tempo (tampouco é coincidência a explosão de atletas canadenses na NBA desde o começo de seu reinado, aliás).
Steve Nash está na história, fácil, como um dos melhores de todos os tempos (como alguns de vocês colocaram no Facebook aliás), será um Hall da Fama muito em breve e merece ser reverenciado sempre como um dos mais inventivos atletas a ter jogado na NBA. Quem viu só pode agradecer.
Abaixo vídeos do craque!
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