Bauru vence, Fla vacila e final da Liga das Américas não será brasileira

Teve de tudo ontem à noite no Maracanazinho. Ginásio cheio, falha no placar eletrônico (mais aqui), vitória fácil de um time brasileiro, o Bauru, contra um argentino (Peñarol) na primeira semifinal e o mexicano Pioneros de Quintana Roo aprontando pra cima do Flamengo, eliminando o dono da casa da final deste domingo.

Com isso, Bauru e Pioneros decidem a Liga das Américas neste domingo às 20h15 no Maracanazinho. O vencedor garante o principal troféu do continente e a vaga no Mundial contra o campeão da Euroliga. Para os bauruenses é a chance de manter a chama acesa para continuar com a temporada perfeita (até então vieram os títulos Paulista e da Liga Sul-Americana) e ganhar o maior troféu de sua história. Para os mexicanos, o bicampeonato da competição está na mira (ganharam em 2012).

Na primeira partida de ontem Bauru foi logo dando as cartas. Abriu 22-8 no primeiro período, relaxou um pouco nos dez minutos seguintes (perdeu de 21-19), mas em nenhum momento deixou o controle do jogo escapar. Viu quatro de seus cinco titulares anotarem 14+ pontos (Gui Deodato, o único abaixo disso, teve papel fundamental na marcação e foi muito bem suas funções), usou e abusou do jogo de garrafão com Hettsheimeir e Murilo (34 pontos e 12 rebotes para a dupla), marcou muito bem a Leo Gutierrez (3/11 e dois desperdícios de bola) e ganhou do Peñarol sem sofrer tanto com os 80-61. Imaginei que seria tranquilo para os bauruenses, mas nem tanto.

No jogo de fundo o Flamengo começou bem (23-14), mas cometeu o pecado de parar de agredir o Pioneros na marcação e nos arremessos. Acabou fazendo um jogo mais brando, com menos intensidade e foi punido por um rival que tinha um plano de jogo muito bem definido por Manolo Cintron (ex-técnico de Porto Rico acostumado a fazer times brasileiros sofrerem).

Os mexicanos do Pioneros estavam dispostos a tirar totalmente o jogo de garrafão do Flamengo, a forçar a equipe rubro-negra a arremessar de fora e a marcar o jogo externo com muita energia (a união das duas coisas fez com que o melhor jogador do time, o pivô Keenan, com 25 pontos, praticamente descansasse na marcação, guardando fôlego para decidir no ataque).

E o time de José Neto acabou caindo na armadilha. Chutou de fora sem parar e com pontaria não muito boa (6/28), não alimentou Meyinsse perto da cesta mesmo com o pivô dominando no ataque (16 pontos e 7/8 nos arremessos) e viu o armador Nicolas Laprovittola ser totalmente pressionado pelos rivais (cinco desperdícios de bola). Com a artilharia pesada na defesa, o Pioneros "deu" ao Flamengo a chance de arremessar muitos lances-livres – e desperdiçar nove deles (19/28 ao todo).

Mas não foi por isso que os rubro-negros perderam (que isso fique bem claro) por 82-81 na prorrogação (no tempo normal o Pioneros ainda teve a bola para matar o jogo mas inacreditavelmente sequer arremessaram). Faltou um pouco mais de tranquilidade ao detectar que o rival forçava situações que lhe eram vantajosas (como a de tirar o jogo de garrafão do clube carioca) e um ajuste para tal estratagema. Cristiano Felício (apenas cinco minutos de quadra) ao lado de Meyinsse, nem que fosse por alguns minutos, poderia ser uma opção para sufocar os mexicanos no garrafão. Promover mais infiltrações com Benite e Marquinhos (brilhante com 27 pontos) era outra alternativa viável.

Não foi o que aconteceu, esta é uma derrota que dói demais no Flamengo, que fez muita força para trazer o Final Four da Liga das Américas para o Rio de Janeiro, mas acontece e não tira os méritos das conquistas anteriores. Se José Neto e o time erraram ontem (e houve um erro coletivo, obviamente), é bom lembrar que este grupo todo aí tem crédito por terem conquistado tudo na temporada passada e o Mundial no começo desta. Não era o Dream Team em 2014 e não é um timeco em 2015. Menos emoção e mais razão é recomendável para analisar a fase da equipe.

Hoje, então, temos a final entre Bauru e Pioneros. Os bauruenses podem dar o terceiro título seguido ao basquete brasileiro (e com três equipes diferentes – Pinheiros e Flamengo em 2013 e 2014) e cravar o nome na história da competição com uma conquista inédita. Para isso é fundamental que não repita os erros do Flamengo na noite de ontem.

Insistir nos chutes de três pontos como foi no sábado (8/36) será um erro principalmente para quem tem Murilo (foto à esquerda) e Rafael Hettsheimeir como homens fortes perto da cesta (que dupla, hein!). Guerrinha entende muito mais de basquete do que eu, mas se eu fosse o treinador mandaria a sua equipe começar a partida literalmente alucinando o pivô Keenan no garrafão. Atacá-lo, cansá-lo e forçar suas faltas desde o começo é fundamental para os bauruenses saírem com a vitória. Outro bom jogador é este Daniel Clemente (14 pontos ontem), que deve ser vigiado por Alex e Gui Deodato.

Bauru tem mais time e tudo para conquistar a taça da Liga das Américas logo mais no Maracanazinho. O Pioneros, porém, provou que está longe de ser um rival fraco (como alguns diziam). O que será que acontece a partir das 20h15 na decisão? Comente aí!