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Bala na Cesta

Demétrius fala de filosofia de trabalho e do rendimento do Minas no NBB

Fábio Balassiano

11/03/2015 15h00

dema3Campeão de tudo como atleta defendendo Vasco e Franca, Demétrius começou sua carreira de técnico ganhando o título paulista de 2010 com Limeira. À época tinha apenas 36 anos e despontava como um dos técnicos mais promissores do país.

O tempo passou, e a promessa de fato deu lugar a um treinador muito talentos. Dema, como é conhecido, ganhou espaço e reconhecimento, passou pela seleção brasileira Sub-19 no Mundial de 2013 (décimo lugar), tornou-se assistente de Rubén Magnano na equipe principal, saiu de Limeira e agora faz um espetacular trabalho Minas mesclando a experiência de Shilton e Alex aos jovens Coelho, Danilo, Léo e Bruno.

Conversei com Demétrius em Franca sobre sua filosofia de trabalho, conceitos de jogo, evolução do NBB, seleção brasileira e muito mais. Confira o interessante papo com o treinador de 41 anos.

dema1BALA NA CESTA: Te surpreende a campanha do Minas no NBB até o momento (o time tem 16-9 e está em terceiro)? Muita gente no começo do campeonato temia até por um possível rebaixamento da equipe…
DEMÉTRIUS: Surpreende na medida em que, no começo da temporada, você olhar no papel os elencos e achar que a nossa equipe não estaria do jeito que está. Mas ao mesmo tempo o dia a dia do trabalho, o dia a dia do empenho e da dedicação que os jogadores estão tendo fazem com que este retrospecto não seja surpresa. A gente vê jogadores na nossa equipe treinando após o horário, se dedicando loucamente para melhorar muito mais do que o normal. E isso no basquete atual faz uma grande diferença. Fora isso, tem uma questão importante, que é a deles acreditarem no sonho de ganhar um espaço dentro do cenário nacional do basquete. Os jovens, que são meninos com potencial. E os experientes, no sentido de reconquistar a confiança deles no basquete. Teoricamente algumas equipes menosprezaram eles, abriram mão do valor deles e nós conseguimos resgatar isso neles dentro de suas funções. Essa mescla tem sido muito boa, tem dado resultado e o importante é eles visualizarem a maneira correta para eles terem este sucesso. Não é uma coisa do acaso, mas sim o resultado da dedicação e do comprometimento que eles estão tendo.

Shilton_MINBNC: Seu time é na maioria formado por jovens, mas você citou os experientes e queria falar deles. Quão importantes têm sido o ala Alex (13 pontos por jogo) e o ala-pivô Shilton (7,9 pontos e 9 rebotes por partida – foto à direita) para dar o suporte necessário a molecada?
DEMÉTRIUS: O Shilton é um líder nato. Se você conversar com qualquer jogador ou técnico que trabalhou com ele este aspecto da liderança positiva será ressaltado. Este aspecto dentro de um time jovem é ainda mais fundamental. Com o Alex, o que a gente tem tentado trabalhar com ele é mostrar exatamente o potencial que ele tem – fisicamente e tecnicamente falando. Talvez ele não tenha tido tanta chance e tempo de quadra nas outras equipes que passou. Hoje, apesar de estar com 30 anos, ele está vendo a chance de desenvolver todo o basquete que ele sabe. Ambos têm sido essenciais para nós. Junto com isso, eles têm tentado direcionar os meninos para o caminho certo de como devem ser feitas as coisas. Esta mescla tem sido muito boa. E todos têm entendido isso. Não adianta você treinar de uma maneira e querer jogar de outra. Os meninos compreendem isso e é muito bacana.

dema2BNC: E da garotada, o que você pode dizer para quem não pode falar tanto dos jogadores? O Henrique Coelho, um de seus cestinhas e presente no Jogo das Estrelas, é o que mais chama a atenção…
DEMÉTRIUS: O mais importante para estes garotos é eles entenderem a filosofia de jogo e o que o basquete pede. Por eu ter sido armador acho que fica mais fácil eu direcionar nesta posição, inclusive. A gente sempre passa vídeos mostrando as situações de jogo para que todos entendam não as ações, mas a decisão que foi ou que deveria ter sido tomada. Hoje não é só achar que você mete bola. As decisões são importantes. Se eu posso cortar em um momento com a defesa vazia. Se eu estou cortando em um momento com a marcação do lado cheio. Onde está a ajuda, essas coisas. Isso tudo tentamos passar como entendimento do basquete para que eles tomem as melhores decisões. Alguns jogadores evoluíram muito nisso e passaram a ter um controle maior durante as partidas porque sabem que na filosofia que acreditamos as situações foram todas treinadas. Você dá todos os recursos a eles e aí depende muito de cada um. Um absorve mais, outro absorve mais devagar. Isso facilita para executarmos melhor.

dema1BNC: Estava há pouco com o Hélio Rubens, certamente uma das suas maiores inspirações e um cara que sempre falou muito de defesa. Este campeonato tem mudado um pouco o perfil dos líderes, pois são equipes que "baseiam" seus jogos em marcações muito fortes, pesadas. Limeira, vocês, o próprio estelar time de Bauru marca muito. Acredita que esta é uma tendência?
DEMÉTRIUS: A tradição do basquete francano que eu comecei a jogar é assim. Franca sempre ganhou títulos devido às suas defesas fortíssimas. E aí quando eu comecei a ver mais do jogo internacional passei a compreender que, em âmbito mundial, realmente faz sentido. Aí passei a tomar ainda mais gosto pelo lado defensivo. Eu vivi em uma era em que Oscar e Marcel faziam 30, 35 pontos por jogo e tinham um conceito diferente de jogo. Hoje tento passar aos atletas um conceito diferente de jogo. E defesa ganha campeonato. A imprensa ajuda muito, e os prêmios individuais também. Hoje há prêmio de melhor jogador de defesa, de time ideal de defesa. Isso valoriza e potencializa as qualidades de quem marca bem. É uma filosofia que, principalmente quem jogou aqui em Franca, vai cultivar. E é uma filosofia que dá certo.

dema1BNC: Você é um técnico jovem, e como jogador pegou um período turbulento do basquete brasileiro. Como você a situação da modalidade hoje? Acredita que a organização da Liga Nacional fora das quadras tem interferido na maior qualidade técnica que temos visto dentro dos jogos?
DEMÉTRIUS: Interfere bastante. A Liga é um ótimo exemplo de como estar organizado fora da quadra mexe com o dentro da quadra. A LNB reorganizou o basquete brasileiro, e quando você é planejado a evolução vem rápida e mostra o profissionalismo da modalidade. Digo isso com pesar, uso até a palavra infelizmente, porque aconteceu com a minha geração. O basquete, como qualquer outro esporte olímpico, não depende apenas da Liga Nacional. Ele também depende dos resultados da seleção brasileira, que é quem cria os ídolos e populariza o basquete no final das contas. Por isso torço para que a seleção consiga bons resultados e que esta geração consiga fechar este ciclo com uma medalha olímpica no Rio-2016. Seria fantástico aproveitar o bom momento da seleção brasileira com o ótimo momento do NBB, que está organizado. É um momento-chave para a modalidade crescer ainda mais.

dema1BNC: Não posso deixar de te perguntar isso. Você foi técnico da seleção brasileira Sub-19 no Mundial de dois anos atrás e não chamou o Bruno Caboclo. Menos de um ano depois ele foi escolhido pelo Toronto Raptors no Draft da NBA…
DEMÉTRIUS: O caso do Caboclo é engraçado. Na verdade ele foi convocado, só que acabou não ficando no grupo. Ele tinha acabado de sair de Barueri, chegado ao Pinheiros e ainda era um menino muito tímido, fechado mesmo. Para um Mundial que a gente tinha pela frente em 3 meses ficaria difícil para ele. Nessa idade um atleta evolui muito rápido em seis meses, e foi isso que aconteceu com ele. Foi uma surpresa ele ter se desenvolvido tão rápido. É um menino que, digamos, a gente deu azar porque se ele caísse conosco seis, sete meses depois seria utilizado em uma posição importante, a ala.

dema4BNC: Você tem feito um trabalho brilhante no Minas e já está na comissão técnica do Rubén Magnano. Você se considera mais pronto em relação a quando era treinador da Sub-19?
DEMÉTRIUS: A gente tenta evoluir ao máximo, estudando muito todos os dias. Fazer parte da comissão como é a do Rubén me ajuda muito também. Lógico que ele tem a filosofia dele, tento tirar as coisas boas dele, e eu tenho a minha. Temos que aproveitar a situação e os momentos. Participar de uma Olimpíada, de um Mundial, você só tem a ganhar.

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