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Bala na Cesta

Presidente do Miami, Pat Riley confia no time: 'Somos candidatos ao título'

Fábio Balassiano

14/10/2014 01h02

Miami Heat Introduce Ray AllenQuando a imprensa foi liberada para entrar no primeiro treinamento do Miami Heat na Gávea na última quinta-feira meu olhar não procurou Dwyane Wade, Chris Bosh ou Luol Deng, estrelas da franquia da Flórida. Eu vi um senhor de quase 70 anos (69 anos para ser mais exato) trajado impecavelmente e não consegui mais parar de pensar que Pat Riley, um dos mitos do basquete mundial, estava tão perto.

Calça de linho, sapato de couro e blusa social para fora, o presidente do Heat conversava calmamente com uma pessoa quando eu e mais três jornalistas decidimos abordá-lo. Educadamente, Riley disse: "Obrigado, mas eu não quero falar". Era justo. Estava um calor descomunal no ginásio do Flamengo, o foco eram mesmo os jogadores e o novo momento da equipe, agora sem LeBron James, toma as manchetes.

pat2Dei meia volta, falei três minutos com Shabazz Napier (armador novato) e tentei de novo. Com a mão espalmada, ele disse novamente que não falaria. Apelei: "Mr. Riley, o senhor é uma lenda viva e eu preciso entrevistá-lo. O senhor tem noção que quase todos os brasileiros que estão nesse ginásio começaram a ver a NBA por causa do seu Lakers da década de 80?". E aí eu ouvi um sorriso me dizer: "OK, eu falo um poquito. Senta aqui". Foram exatos seis minutos e treze segundos de um papo maravilhoso com uma das lendas do esporte, campeão da NBA como jogador, assistente, treinador (por Lakers e Miami) e dirigente.

pat3BALA NA CESTA: Mas, então, estava falando sobre o Los Angeles Lakers que na década de 80 praticamente mudou o jogo com aquele timaço liderado pelo Magic Johnson…
PAT RILEY: Olha, a verdade é que eu tive uma carreira abençoada e uma sorte imensa de ter dirigido aquele time. Nos tempos de hoje é fácil falar em globalização de uma franquia ou de uma estrela, mas pense nisso trinta anos atrás quando não havia internet, por exemplo. Aquele Lakers foi um ícone não só da cidade de Los Angeles, mas também de uma NBA que estava se reconstruindo, de uma NBA que começava a se transformar no produto que é hoje. Te digo que se não fosse aquele Lakers provavelmente nós dois não estaríamos, em 2014, conversando no Brasil com dois times da liga treinando para jogar um amistoso de pré-temporada por aqui. Antes do produto NBA ser global aquele time era global, era mundial, era tudo muito superlativo. Caminhar com Magic Johnson, Kareem Abdul-Jabbar era como andar com os Beattles, os Rolling Stones. Ao mesmo tempo em que era muito desgastante, posso te dizer que hoje, 30, 40 anos depois, eu agradeço por ter vivido aquilo. O mundo conhecia os Lakers e Magic Johnson mas talvez não sabia direito sobre a organização que eles pertenciam (a NBA). Já estive no Brasil anteriormente, e é legal voltar com o Miami.

pat4BNC: O senhor falou do Lakers, e é impossível não falar do Magic Johnson. Recentemente vi o documentário 'The Announcement' sobre o anúncio do HIV, e uma das partes que mais me chamaram a atenção foi quando o senhor, já técnico do Knicks, o chamou para treinar em Nova Iorque. Ver um dos maiores jogadores de todos os tempos, o cara que te ajudou em quatro de seus títulos como treinador, naquela situação foi o momento mais difícil da sua carreira?
RILEY: Foi uma das situações mais difíceis não da minha vida como técnico, mas da minha vida inteira. A minha relação com o Magic ultrapassou as fronteiras da quadra. Não sei se você o conhece pessoalmente, mas a sua figura é como um ímã, e você quer estar sempre por perto. Quando aconteceu o anúncio dele, em novembro de 1991, eu estava começando minha trajetória no Knicks. Não o chamei para treinar porque queria contratá-lo, acho que se eu fizesse isso jamais voltaria a pisar em Los Angeles, mas sim porque precisava apoiá-lo pela pessoa que sempre foi e para mostrar ao mundo que aquele preconceito que ele estava sofrendo era uma estupidez atroz. Era uma época diferente, com muito menos acesso a informação e qualquer atitude que quebrasse aquela onda de situações negativas que se formou era importante. Faria tudo de novo.

pat5BNC: Mudando um pouco de assunto, como foi o processo de remontagem deste seu Miami Heat desde que o LeBron James anunciou que não ficaria mais com o time?
RILEY: As coisas ficaram muito focadas no LeBron, o que é natural, mas quando terminou a temporada passada sabíamos que precisaríamos reforçar o elenco com ou sem o LeBron por aqui. A saída dele faz parte do negócio NBA, e sabemos como funciona, mas posso te dizer que estamos muito satisfeito com as aquisições que fizemos. Gosto muito do nosso grupo. Luol Deng, Josh McRoberts, Shannon Brown, Danny Granger e também Shabazz Napier e James Ennis, que vieram pelo Draft, tornam o nosso grupo muito forte, muito mais forte que o tínhamos. Isso é muito claro para nós.

NBA: Miami Heat-Media DayBNC: Mais forte que a temporada passada?
RILEY: Em termos de elenco, de número de opções? Perdemos o LeBron, ele faz falta, mas em relação ao grupo como um todo não tenho a menor dúvida. Somos, sim, muito mais fortes. Somos muito mais competitivos assim.

BNC: O senhor consegue lembrar exatamente como foi o momento em que a notícia de LeBron James chegou? E o que o senhor fez exatamente depois disso?
RILEY: (Risos) Foi um dia inesquecível, digamos assim. Ao mesmo tempo em que sentíamos muito não ter LeBron de volta estávamos felizes por poder fazer uma mudança necessária em nosso grupo. Convoquei uma reunião imediatamente com nosso corpo técnico e começamos a desenhar o que seria do nosso elenco a partir de então. Ficamos algumas horas trancados dentro de uma sala até termos uma estratégia para os próximos anos. Posso te garantir que todos os jogadores que queríamos contratar estão aqui neste ginásio treinando. Luol Deng, você o conhece, nos incomoda na NBA há tempos. Josh McRoberts fez uma temporada passada excelente. Danny Granger tem muito talento. Shannon Brown traz uma força física necessária para a gente na defesa. Continuaremos fortes.

trioBNC: O senhor fala nessas mudanças do elenco. Elas aconteceriam caso vocês tivessem ganho do San Antonio Spurs na final? O quanto aquela derrota, e do jeito que foi, mexeu com o pensamento de renovar o grupo?
RILEY: (Risos) Caramba, quantas perguntas você tem? Mas, sim, eram mudanças que sabíamos que eram necessárias. É óbvio que quando você tem uma derrota, um momento de baixa é mais fácil para repensar. As vitórias por vezes escondem os problemas. Do jeito que nosso time estava armado, muito focado no nosso Big 3 (LeBron, Wade e Bosh), ficamos muito marcados na NBA. Precisávamos de algo diferente, de jogadores que trouxessem não só um novo ar, mas situações táticas diferentes. McRoberts, Granger, Deng, Brown e os novatos atacam a cesta e protegem o nosso aro bem diferente da forma como éramos na temporada passada.

Pat Riley, David Fizdale, Erik SpoelstraBNC: E em que patamar o senhor coloca este Miami Heat para a próxima temporada?
RILEY: Nós somos candidatos ao título da NBA. Disso não tenho a menor dúvida. Sentimos que com Chris Bosh, Dwyane Wade, os jogadores que estavam aqui e que retornaram e os novos reforços fazem deste Miami um dos candidatos ao troféu desta temporada. Nós vamos brigar.

BNC: Você chegou a conversar com Dwyane Wade sobre seu novo papel no time? Vi que ele tem falado muito sobre liderança…
RILEY: Conversei bastante com ele e com Chris Bosh também. Dwyane Wade foi o MVP das finais de 2006 quando não tinha 25 anos. É um jogador excepcional, e está na franquia há muito tempo. Chris Bosh é All-Star da NBA há quase uma década e ficamos muito felizes em renovar com ele também. Eles são capazes de nos levarem a um novo período de conquista, disso não tenho a menor dúvida. Falei bastante com eles já. Não é necessário ficar martelando mais do que o que já fiz. Eles sabem o que deve ser feito.

pat6BNC: Sobre o Erik Spoelstra, o senhor acha…
RILEY: (Interrompendo a entrevista ao avistar uma série de jornalistas chegando) Preciso ir, preciso ir.

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