Com filosofias distintas na modalidade, Brasil e França jogam no Mundial
Depois de bater o Japão por 79-56, a seleção brasileira feminina enfrenta a França nas oitavas-de-final do Mundial Feminino da Turquia em Ancara às 13h desta quarta-feira.
É um duelo decisivo, eliminatório, muito importante para a modalidade e para as meninas, mas que coloca em perspectiva as duas filosofias que os dois países usam no basquete feminino desde o começo do século.
Esta não é uma história nova, e eu já contei aqui algumas vezes, mas vale repetir. No dia 26 de julho de 2003, as francesas bateram as brasileiras por 65-47 na primeira fase do Mundial Feminino Sub-21. Mas o Brasil iria bem na competição, chegando ao vice-campeonato do torneio, perdendo para os Estados Unidos por 71-55 na decisão. A prata, portanto, ficou com a seleção do técnico Paulo Bassul e que contava com a pivô Érika como sua principal estrela. Com o bronze ficou a França.
O tempo passou, e 11 anos depois a França foi vice-campeã olímpica em Londres-2012. Para se ter uma ideia, no time da Olimpíada havia CINCO que estiveram no Mundial Sub-21 de 2003 cinco (Godin, Gomis, Dumerc, Ndongue e Lepron). Ou seja, houve sequência de trabalho. E o Brasil, o medalhista de prata? Sabe quantas meninas estavam nos Jogos de 2012? Apenas Érika e Silvia Gustavo de um elenco com muitas atletas que, com menos de 30 anos, já PARARAM de jogar. Explica muita coisa, não?.
A Confederação francesa melhorou a liga local (foram 14 clubes para a temporada 2013/2014), manteve a espinha dorsal da geração-1983 ( Godin, Gomis, Dumerc, Ndongue e Lepron até hoje jogam no time nacional) e investiu nas comissões técnicas, que passam meses fazendo clínicas nos Estados Unidos. Deu certo, e elas estão aí até hoje brilhando.
E o Brasil, o que acontece com o basquete feminino do país que foi campeão mundial em 1994, medalha de prata em 1996, medalha de bronze em 2000 e semifinalista nos Jogos de 2004 e dos Mundiais de 1998 e 2006? Os clubes acabam dia após dia, a Liga de Basquete Feminina tem nível técnico paupérrimo, as meninas altas que "nascem" e querem seguir no esporte acabam indo para o vôlei e as que ainda teimam em jogar são verdadeiras heroínas da resistência.
Atualmente, e com o perdão da expressão, as atletas do país são muito mais vítimas do que culpadas pelo que acontece nas quadras. Se para a modalidade como um todo não há nenhum plano de desenvolvimento, não há nenhum plano de massificação, para as meninas então a situação é ainda mais catastrófica, ainda mais vexatória.
O que se vê em uma partida da LBF nada mais é do que um reflexo da gestão (ou da falta dela) de clubes, federações e CBB em relação ao basquete feminino. Basquete Feminino que teve três gênios atuando até pouco tempo atrás, um título mundial para servir de catalisador para investimentos, estrutura e planejamento de futuro. Basquete Feminino que, em âmbito mundial, é MUITO menos disputado que o masculino, motivo pelo qual qualquer trabalho razoavelmente bem feito dá resultado MUITO rápido (vide França, Espanha, República Tcheca e Turquia mesmo). Infelizmente nada disso tem sido pensado e/ou colocado em prática por aqui há anos (e Magic Paula escreveu o mesmo por aqui). É uma pena.
A França é um país de 65 milhões de habitantes (um terço do Brasil, praticamente), e dá algumas grandes lições ao se colocar entre os grandes do basquete. Atualmente não é exagero dizer que, depois dos Estados Unidos, temos Espanha e França devido aos últimos resultados internacionais – a seleção masculina foi bronze no Mundial recente. Foi competente e séria ao plantar, persistente pra esperar a colheita e inteligente ao desenvolver gerações que pareciam fadadas ao fracasso.
O Brasil, por sua vez, não fez absolutamente nada para aproveitar os fenômenos que brotaram por aqui (Paula, Hortência e Janeth). E isso é triste pra caramba, devo confessar a vocês.
Mais do que um duelo válido pelas oitavas-de-final, brasileiras e francesas colocam frente a frente as duas filosofias, dois caminhos de basquete que têm sido implantados nos dois países neste século. De um lado a CBB, que tem literalmente levado a modalidade à bancarrota. Do outro a FFBB, que conseguiu reconstruir e dar uma cada ao basquete das (e dos) azuis.
Vale a vitória a partir das 13h. Vale uma grande reflexão além do horário do jogo sobre o que temos feito de certo e de errado por aqui há anos.
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