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Bala na Cesta

Vitor Benite, o 'herói silencioso' do título Mundial do Flamengo

Fábio Balassiano

29/09/2014 11h09

benite1No primeiro jogo da decisão do Mundial contra o Maccabi Tel-Aviv, Jeremy Pargo, o norte-americano do time israelense que esteve sumido na primeira etapa, terminou com 21 pontos, sendo os dois últimos em uma bola espírita no estouro do cronômetro. Na saída da partida, conversei com Vitor Benite, que me disse o seguinte: "Precisamos pará-lo de alguma forma. Não podemos dar a liberdade que ele teve na sexta-feira no domingo para sairmos campeões daqui. Fazê-lo pensar mais, dar menos espaço. Sabemos o que precisa ser feito".

O segundo duelo veio, e Pargo, o camisa 4 do Maccabi que foi "carinhosamente" perseguido pela torcida do Flamengo, estava imarcável no terceiro período. Parecia realmente possuído por um instinto alucinante. O armador anotou 16 dos 25 pontos do Maccabi no período, recolocou os israelenses na partida e quem estava na HSBC Arena parecia ver o filme de sexta-feira pela segunda vez. Até que Vitor Benite entrou em cena.

benite2O camisa 8 substituiu a Marcelinho Machado no começo do quarto período, quando Pargo estava literalmente pegando fogo. Olhou para o banco de reservas, e pediu para marcar o norte-americano (isso é algo bem comum no basquete, diga-se). José Neto, o técnico do Flamengo, liberou. E lá foi o ala de 24 anos tentar parar o craque do Maccabi.

Deu certo. Na primeira bola, Pargo tentou cortar, Benite fechou os espaços, a bola rodou e não caiu. Na segunda, Benite roubou e entregou para uma bandeja fácil do rubro-negro. Na terceira, Pargo foi arremessar, Benite colocou o corpo bem perto do dele e o chute não caiu. E assim foi até o final do jogo. Pargo, que tinha começado o último período com 24 pontos, anotou apenas 4 nos dez minutos finais. E Vitor Benite, um dos mais assediados pela torcida do Flamengo ao final da partida, tem TUDO a ver com isso.

Fui perguntar ao MVP Nicolas Laprovittola sobre como tinha sido a marcação de Benite em cima de Pargo. E o argentino não teve dúvida: "O Benite? Ele fechou a partida pra nós, foi o melhor em quadra. No momento mais crítico, no momento mais complicado, ele fechou tudo para o Pargo, não deu a menor chance para ele. Fico sinceramente feliz por ele, que passou por tanta coisa de um ano para cá. Ele foi o nosso herói silencioso neste jogo. Jogou demais".

benite3Conversei com Benite, que passou por uma grande cirurgia de ligamento cruzado anterior na temporada passada, sobre como havia sido a mudança de marcação em cima do Pargo: "Eu sabia que eu teria que parar ele (o Pargo). Outras vezes em minha carreira eu já tive esse tipo de confronto individual, quase pessoal, de você ver um jogador que está desequilibrando e tentar fazer o cara parar. Tive um pouco de sorte, um pouco de qualidade de fazer com que ele pensasse em outras coisas que não simplesmente fazer o seu jogo mais confortável. Vendo do banco às vezes você sente que o jogador está tendo muita liberdade para trabalhar. E o Pargo, por ser um jogador muito técnico, ele estava psicologicamente muito confiante. Eu sabia que precisaria pará-lo neste sentido. Tinha que tirá-lo da zona de conforto, nem que precisasse trazer para um duelo pessoal comigo. Deu tudo certo".

Um dos problemas do basquete brasileiro de 20, 30 anos pra cá é não saber valorizar aqueles caras que fazem a diferença na defesa, com o trabalho silencioso tão necessário para qualquer time vencer. Já foi assim com outros times, que tiveram grandes jogadores executando funções muito específicas em decisões.

Foi assim neste domingo com Vitor Benite, que anulou (a palavra é essa mesmo, 'anulou') o melhor jogador do Maccabi Tel-Aviv (Jeremy Pargo) para dar o título mais importante da história do basquete do Flamengo. O 'herói silencioso', como definiu Nicolas Laprovittola, eleito o MVP da competição pela FIBA, precisa ser muito valorizado.

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