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Bala na Cesta

Foi tático, e não emocional, o motivo da derrota do Brasil ontem

Fábio Balassiano

11/09/2014 01h02

hettsNão sei exatamente quando isso começou, mas aqui no Brasil convencionou-se atribuir toda e qualquer derrota esportiva ao aspecto psicológico dos atletas. Como em tudo na vida, há casos e casos. Generalizar, portanto, é um erro absurdo. A derrota do Meligeni para o Medvedev em Roland Garros, nas semifinais de 1999, foi por causa de uma pane mental do Fininho (ele mesmo já admitiu isso). A surra alemã na Copa do Mundo passada de futebol, não. Ela ocorreu devido a um problema técnico/tático do time do Felipão.

Jogar, sempre, para o lado mental da coisa não é o melhor remédio (primeiro porque não é verdadeiro e segundo porque normalmente jogadores e técnicos fazem isso para esconder os problemas reais, normalmente mais graves) e tampouco faz com que sejam encontradas soluções para problemas táticos e técnicos que (tirando os lunáticos) todos sabem que houve. Vimos um pouco dessa inversão de foco ontem depois da derrota do Brasil para a Sérvia nas quartas-de-final da Copa do Mundo.

AS RAZÕES TÁTICAS PARA A DERROTA DO BRASIL NO MUNDIAL

bra11Houve, claramente, um problema psicológico no terceiro período (com as faltas técnicas em sequência que fizeram com que o placar ficasse dilatado), mas (e isso quero deixar bem claro) o motivo da derrota brasileira é de ordem tática – e não mental.

O Brasil fizera um primeiro tempo ruim (anulado completamente pela Sérvia, que estudou o Brasil de forma BRILHANTE). No segundo, nenhum ajuste que Rubén Magnano (e sua comissão técnica) tentou fazer deu certo. O técnico, ressalte-se desde já, foi muito bem em toda a preparação e na Copa do Mundo, mas ontem falhou (como os jogadores também). Voltarei ao tema logo mais, prometo.

duplaSem conseguir jogar como gostaria, impondo o ritmo e despejando todo o potencial que poderia, o elenco brasileiro explodiu. Frustração elevada a vigésima potência. Analisado assim, friamente, fica mais fácil falar, claro, mas quem viu o jogo sabe o que estou dizendo. Naquela altura os sérvios já tinham sete, nove pontos de vantagem e o Brasil via o jogo (e a vaga na semifinal) escorrer pelo ralo. Por isso considero (a tal explosão de raiva dos atletas) um problema muito mais tático, que desencadeou um problema emocional, do que qualquer outra coisa. E é fundamental que Magnano, a turma da CBB e quem mais for sentar para analisar a competição tenham isso em mente.

A melhor definição para o que aconteceu ontem em Madri, na minha opinião, veio do leitor do Facebook do Bala na Cesta Vinicius Morrone. Ele disse o seguinte: "A derrota foi por questões táticas. A derrota como foi, por 28 pontos, foi por questões psicológicas". Perfeito, é bem isso mesmo, e no próximo texto eu falarei sobre as falhas táticas que o Brasil cometeu na tarde desta quarta-feira na capital espanhola.

rubenNo final do jogo de ontem o repórter do Sportv Guido Nunes (muito bom, por sinal) perguntou ao técnico Rubén Magnano sobre os próximos passos à frente da seleção brasileira. Muita gente no Twitter e no Facebook do Bala na Cesta, também. Do meu canto, e talvez por eu gostar mais de análise do que da execução em si, acho que é preciso dar um passo atrás, respirar bastante e esperar um pouco. Antes de pensar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 é preciso pensar no que deu certo e no que deu errado no Mundial da Espanha.

bra8Aí, com isso, é hora de colocar em prática o plano visando as Olimpíadas (o último torneio dessa geração). O Brasil fez um ÓTIMO Mundial, mas novamente falhou para subir o degrau que o colocaria na elite do basquete do planeta. Ficou em sexto. Não é ruim, longe disso. Para ser excelente e conseguir uma medalha talvez falte uma reflexão mais profunda sobre o que tem se passado antes e durante as competições antes de pensar no "depois" com tanta pressa assim.

O time pecou, portanto, quando não podia pecar. E há motivos para isso, há razões que precisam ser conversadas (internamente, claro). Para a evolução (no esporte, na vida), convém não mudar o foco das coisas que realmente devem ser discutidas.

bra5Apelar para um "ah, foi o apagão" ou o "o revés veio devido a falha no psicológico da equipe" é jogar cortina de fumaça onde não se deve. Perder tempo invertendo as questões que devem ser perguntadas é caminhar pra trás, é não querer fazer com que evolução que foi vista na Espanha tenha continuidade. Ainda há uma chance de fazer dessa talentosa geração com valores individuais incríveis uma equipe vitoriosa. É bom não desperdiçar tempo com o que não se deve.

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