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Bala na Cesta

Brasil perde da Argentina e expõe, de novo, suas deficiências

Fábio Balassiano

27/07/2014 00h10

trioNeste sábado, na Venezuela, o Brasil jogou contra a Argentina naquele que (de fato) foi o primeiro jogo realmente válido no Sul-Americano. E a seleção de José Neto não foi bem. Perdeu dos hermanos por 64-59, se classificou em segundo lugar e enfrentará neste domingo a Venezuela (21h30, com Sportv) pela semifinal. Pior do que o resultado foi a forma como mais um revés diante dos platenses veio.

O Brasil fez um primeiro tempo horroroso (apenas 27 pontos), e só não foi para o intervalo perdendo de mais porque a Argentina tampouco jogou um bom basquete. Fez 29, venceu por apenas dois e a sensação que tínhamos é que a peleja ia caminhar para uma partida tenebrosa. Mas o segundo tempo veio, a seleção de Neto jogou MUITO bem (19-8) e teve até que bom controle do jogo. A instabilidade, no entanto, bateu à porta, os hermanos viraram logo no começo do último período e um chute final de Selem Safar definiu o confronto a favor dos platenses.

Antes da análise em si, alguns números importantes: rebotes ofensivos (14 x 3 para o Brasil); pontos através de rebotes ofensivos (10 x 6 pró-Brasil); pontos dentro do garrafão (24 x 22 para… a Argentina); erros (17 x 14 pró-Brasil); e bolas três (6/29 pro Brasil x 5/23 pra Argentina).

argentinaEstá claro o que aconteceu, não? Apesar de ter um elenco com potencial físico MUITO maior que o dos argentinos, o Brasil não conseguiu traduzir tamanha superioridade física (Hettsheimer, Felício, Mineiro, Augusto Lima e Jefferson William) em pontos perto da cesta (com aproveitamento alto). Preferiu-se, mais uma vez, o tiro de risco, o tiro longo, o tiro de três (mesma quantidade de bolas internas e do perímetro – 29). E mais uma vez jogando contra defesa por zona uma seleção brasileira só soube fazer uma coisa – atirar de três. Como se esta fosse a única maneira de se jogar contra marcações assim.

Não é, nunca foi e qualquer time que tenha um mínimo de treinamento adequado para este time de estratagema defensivo sabe sair de uma forma menos arriscada que bolas longas (em nenhum momento se vê um passe do pivô de cima para o de baixo, um ala na linha do lance-livre para aproveitar o desequilíbrio defensivo que há entre as "linhas" da zona ou infiltrações que, aí sim, gerem arremessos de três sem pressão do rival).

E o que se viu do outro lado? Um time fraco em termos técnicos, absurdamente fraco em termos físicos mas fenomenalmente bem treinado e sabedor de suas potencialidades e deficiências. A Argentina (esta Argentina) está longe de ser um primor, mas soube jogar em cima de suas qualidades e no erro (tático e mental) do Brasil. Levou o jogo para aquela "cinzenta" zona mental do jogo, aquela dos três minutos finais, e aniquilou o Brasil com uma defesa pressionada e com uma jogada final que gerou um arremesso LIVRE de Safar.

rafael1O que isso significa esta derrota de sábado? Para o Sul-Americano, pouca coisa. O Brasil joga contra a Venezuela neste domingo, tem boa chance de vencer para se classificar à final e quem sabe se reencontrar com os hermanos. O problema é que as deficiências da maneira-brasileira-de-pensar-e-jogar-basquete foi escancarada mais uma vez. Mais uma vez os hermanos esfregaram na cara de seu vizinho que basquete se ganha principalmente com a cabeça.

Como sempre, o Brasil perde na capacidade de leitura de jogo e na "inteligência emocional" para se manter frio em momentos decisivos (ou na falta destes dois aspectos). O problema é muito mais grave que apenas uma bola certa na cesta ou outra. É concepção de jogo, treinamento de base, formação de atletas e treinadores. Time brasileiro é MUITO mais atlético que qualquer um deste Sul-Americano, e não consegue traduzir a superioridade física em pontos perto da cesta simplesmente porque insiste em fazer um jogo que não existe mais já há 30 anos pela maior parte do tempo da peleja (arremessando bolas de três tresloucadamente). Pega um time organizado e aí o que acontece? Se enrola, não consegue fazer 60 pontos e perde para alguém que consegue se manter com cabeça fria mesmo com um time pior em termos técnicos.

Elementar, não? Até quando vai ser assim?

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