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Bala na Cesta

Campeão, Tiago Splitter lembra conquista e minimiza toco em Wade

Fábio Balassiano

17/06/2014 00h25

tsplitterPrimeiro brasileiro campeão da NBA, Tiago Splitter parou rapidamente no dia seguinte à conquista do San Antonio Spurs para conversar com o blog. Aos 29 anos, ele estava feliz e relembrou os momentos mais importantes da conquista. Veja o papo completo!

BALA NA CESTA: Quando você percebeu que era campeão da NBA? Em quem você pensou na hora?
TIAGO SPLITTER: Perceber, você vai percebendo aos poucos. Durante o jogo você vai vendo que aquilo (o título) está acontecendo, mas você não quer pensar que já tá ganho, né. No basquete pode acontecer de tudo. Mas quando o Erik Spoelstra (técnico do Miami) começou a tirar os titulares do Heat faltando dois minutos a ficha caiu. Deu um alívio muito grande, uma sensação muito bacana. Perdemos ano passado daquela maneira lá, e perder de novo seria um sofrimento danado. Olhando agora, passa leve a derrota do ano passado, viu. No momento você pensa muito nas pessoas que te ajudaram, que estão com você desde sempre. Mas obviamente pensei muito nos meus pais. Como tinha muita imprensa no vestiário, falei com eles só 40, 45 minutos depois da partida. Eles vieram aqui nos playoffs, mas nas finais estavam em Blumenau (Santa Catarina), torcendo por mim.

tiago1BNC: O San Antonio sempre faz a comemoração do título no Rio Riverwalk. Já sabe quando vai ser?
SPLITTER: Rapaz, eu estou ansioso é com isso aí, viu. Será na quarta-feira (amanhã). Nunca participei da tal parada, só vi fotos e vídeos. Está todo mundo aqui esperando, e foi uma das primeiras coisas que todo mundo que chegou ao vestiário perguntou. Vai ser um momento bacana, de encontrar com torcedores, agradecer pelo apoio e ver a felicidade estampada no rosto deles.

BNC: Você é um cara muito contido, mas já parou para pensar que depois deste feito você se coloca provavelmente como o maior jogador de basquete do país desde a geração de Oscar e Marcel?
SPLITTER: Ah, nunca parei pra pensar nisso, não. Quando parar de jogar pode ser que pense nisso. Por enquanto não. Olho o presente, olho o que tem pela frente e vejo que ainda dá pra conquistar muita coisa. Ainda não quero botar as medalhas na minha frente e ficar olhando pra elas. Ultimamente a gente vem fazendo coisas boas, conquistando algumas coisas e tive a felicidade de estar no time campeão da NBA. Tive meu peso no time, mas não sou a estrela. Ninguém é. O Pop (Gregg Popovich, o técnico) que fala isso. No nosso time não tem estrela. Todos valem a mesma coisa, isso que é bacana. Estou muito feliz de fazer parte do time e da conquista.

NBA: Finals-San Antonio Spurs at Miami HeatBNC: Houve dois momentos em que você esteve presente em alteração do quinteto titular do Spurs nestes playoff. Contra o OKC, Bonner no seu lugar. Contra o Miami, Diaw. Como você recebeu essa mudança? O Pop conversa com o atleta quando ele mexe o time?
SPLITTER: Foi tranquilo, cara. Ele falou comigo antes dos jogos e explicou que foi apenas uma opção tática dele. Ele queria que eu tivesse mais tempo para jogar com o Manu (Ginóbili), com quem me dou muito bem nos corta-luzes. A única coisa que ele pediu foi para que eu fosse agressivo desde o banco. Foi o que ele me passou. Pra mim foi ótimo, gosto de jogar com o Manu. Às vezes as pessoas não entendem isso, mas pra gente não existe nada disso. O Diaw jogou muitas vezes saindo do banco, depois virou titular e sempre manteve o mesmo nível.

splitter1BNC: Você concorda que essa vitória do Spurs pode trazer muitas coisas boas ao basquete, já que o San Antonio joga um basquete totalmente coletivo, sem ser baseado em grandes estrelas?
SPLITTER: Olha, acho que sim. Passamos tantas coisas ruins, como foi no jogo 6 do ano passado, e agora é um momento lindo. Mostramos uma maneira diferente de jogar ao mundo que é jogar coletivamente, jogar sem egoísmo. Sempre vai ter espaço para as estrelas aparecerem. Isso é óbvio. Como foi o LeBron. Ele é fantástico, e é normal que ele vá ter o volume dele. Sabíamos que para ganhar deles o fundamental era não deixar o jogo chegar no final com o placar muito apertado. E conseguimos. Nem a gente esperava tanta diferença, mas isso se deve ao comprometimento de querer ganhar. A gente estudava os jogos, passávamos a bola sempre para o cara aberto e sabíamos que assim ficaríamos perto das vitórias. Algumas horas eu queria ter ido para a cesta, Manu também, Parker a mesma coisa. Mas nos lembrávamos do que o Pop fala, que é essa questão do passe a mais, do passe extra. Sempre tinha alguém sozinho e esta foi a filosofia que conseguimos encaixar nesta temporada mais do que.

kawhi1BNC: Vocês saíram de San Antonio com 1-1 depois de terem perdido a segunda partida, poderiam ter voltado pra casa com 1-3, mas regressaram da Flórida com 3-1 para ganhar o título no jogo seguinte. Foi o momento mais tenso da final?
SPLITTER: Ali foi chave, cara. Lembro que teve um vídeo do Popovich com o time depois do jogo 2, e ele disse: "A gente vai lá (pra Flórida) e não vai pra ganhar um jogo só, não. Vamos para ganhar os dois, ok". Neste dia ele se exaltou um pouco com o Kawhi Leonard, que estava meio apagado na série até então. Ele pediu pro Leonard ser mais agressivo. Foi o único que ele deu carta branca para atacar a cesta, ser agressivo desde o primeiro minuto. Foi assim que o Kawhi fez quase 30 pontos no jogo 3, nos guiou a vitória e ficou mais confiante para o restante da série. Tínhamos muito respeito pelos caras, mas não medo. Ficava uma lembrança do ano passado, mas tínhamos que superar. Quando o Kawhi começou matando naquele jogo sentimos que poderíamos vencer na casa deles. Começamos muito bem o terceiro jogo e ali o time pegou confiança pra seguir adiante.

tiago3BNC: Sei que você não deve mais aguentar falar disso, mas se eu não perguntar meus leitores vão me encher…
SPLITTER: Do toco, né (Risos). Olha, cara, por incrível que pareça eu não estava engasgado com essa história, não. É muita coisa da mídia, de querer vender e tal. Toco acontece muito. Quando é em uma final, a importância é maior. Na final, as pessoas falam mais. Meus amigos ficaram muitos felizes, falando que eu paguei com juros e tal. Mas, de verdade? Pra mim não tem diferença. Foi bacana, deu confiança, todo mundo depois do jogo estava me lembrando do fato com o LeBron no ano passado, mas eu te digo que o mais importante de tudo foi o título. O toco não muda muita coisa.

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