Musa, Elena Delle Donne se diz pronta para mudar patamar da WNBA nos EUA
* O blogueiro viajou a convite do Canal Space
Nascida em Dellaware, a simpática e educadíssima Elena Delle Donne tem um rosto tão bonito quanto seu basquete. Olhos cor de diamante (ou verde, ou qualquer cor clara), técnica invejável, voz suave, envergadura perfeita para uma atleta, cabelos loiros lisos, 1,96m de pura beleza, Delle Donne surgiu para o basquete feminino norte-americano em um momento delicado. A WNBA ainda não decolou, as atletas precisam se dividir em dois "turnos"(metade da temporada nos Estados Unidos, metade fora em Europa/China/Brasil) e a remuneração não chega perto da que é oferecida para os rapazes da NBA. Um rosto jovem (24 anos), um olhar bonito (ou lindo), uma personalidade carismática, um talento absurdo (18,1 pontos e quase MVP em sua temporada de estreia na WNBA, a liga profissional) é o que Eleninha, musa do blog, tem a oferecer para tentar mudar os rumos do basquete feminino nos Estados Unidos. Conversei com a ala do Chicago Sky em Nova Orleans, onde ela participou do Desafio das Estrelas, sobre este, digamos, pacote completo.
BNC: Como é pra você, jogadora da WNBA, participar de uma festa da NBA?
DELLE DONNE: Ah, é bem bacana, né. Ver uma festa tão grandiosa, de uma liga tão grandiosa como é a NBA, é muito legal. É uma honra e um prazer participar de uma festa que eu sempre acompanhei de casa, sempre acompanhei com minha família. Estar ao lado de tantos jogadores talentosos, de tantas pessoas legais me deixa muito feliz.
BNC: É um contraponto interessante ao que acontece na WNBA, que vive um momento delicado, não?
DELLE DONNE: Olha, não considero problemático o momento da WNBA, mas sim uma situação de transição de um momento em teve Lisa Leslie, Tina Thompson, entre outras feras, para uma geração mais nova que tenta buscar seu espaço. É difícil, mas é natural também. O que faz a diferença, também, é que a oferta financeira hoje na Europa e na China é tão grande, mas tão grande que o próprio mercado impõe que os calendários meio que sejam divididos. A NBA já se estabeleceu, já se consolidou como a maior e melhor liga de basquete do mundo no masculino. No feminino a WNBA tem concorrência mais pesada e isso faz com que até o próprio marketing do campeonato tenha mais dificuldade de se vender, de vender o produto em si. É quase uma lei de mercado. As meninas saem dos Estados Unidos para receber uma grana que lhes é merecida, que ajuda bastante na renda. E, o principal, que nos EUA não é possível receber por 9, 10 meses do ano. Se é fácil? Não, não. Mas é o cenário atual. Eu adoraria não ter que sair do meu país e jogar um campeonato longo, com mais partidas, mas isso ainda não é possível. De todo modo, tenho esperança que aos poucos a WNBA cresça e atinja o número de fãs necessários para chegar ao ponto que a NBA já chegou.
BNC: A entrada de Magic Johnson e seu grupo de investidores, que compraram o Los Angeles Sparks, traz uma esperança de que os dias serão melhores?
DELLE DONNE: Sim, sem dúvida que sim. Quando soube, juro que gritei de felicidade, porque é algo tão bom, mas tão bom para a nossa liga que você não tem ideia. Ele é uma personalidade mundial e certamente vai trazer investimentos, patrocinadores e mídia para a nossa liga. Nós, atletas, só podemos estar honradas de atuar na mesma liga em que Magic Johnson, ídolo de todas nós, possui um time. O Sparks é de uma cidade importante, tem tradição e estava passando por dificuldades. Não seria bom que ele tivesse desaparecido. Tê-lo na WNBA é ótimo. Com Magic Johnson, ainda melhor.
BNC: E você sabe que, ao lado da Skylar Diggins (da ponta direita) e Brittney Griner (com a camisa 1), a WNBA conta muito com você para dar uma rejuvenescida no produto para poder vendê-lo internacionalmente, né…
DELLE DONNE: Sim, sabemos disso tudo e estamos sendo preparadas para assumir as funções não só de atletas, mas de embaixadoras da liga também. Quando entramos na WNBA ano passado sabíamos que teríamos um papel muito importante na divulgação, na aproximação com o público, na parte fora de quadra também. Não me assusta, pelo contrário. Me dá mais força para evoluir, para seguir desenvolvendo meu jogo.
BNC: É por essa questão de ser uma das embaixadoras da WNBA que você decidiu não jogar fora dos Estados Unidos nesta temporada? A grana, como você disse acima, deve ter sido bem forte… Você recebeu proposta de onde? Rússia? China?
DELLE DONNE: Olha, sim e não. Eu tinha alguns problemas físicos, algumas lesões que não tinham ficado 100% ao final da temporada. Por isso, e para promover minha marca, o nome da WNBA, eu decidi ficar aqui neste primeiro ano meu como profissional. Além disso, aqui eu treino duas, três vezes por dia e posso melhorar minhas habilidades, meu arremesso e meu físico, três deficiências do meu jogo. Recebi proposta da Rússia, da China, mas decidi ficar dessa vez. Não descarto nada, mas achei para que para mim, pessoal e profissionalmente, o melhor a se fazer era ficar.
BNC: Uma das coisas que mais me impressionaram em sua temporada de estreia na WNBA foi a sua frieza em quadra. Você teve a incrível média de 18 pontos por jogo, decidiu algumas partidas no final e em nenhum momento pareceu sentir o peso das partidas em uma liga pesada, forte. É a força mental que faz mais a diferença do que a técnica no esporte de alto nível?
DELLE DONNE: Boa pergunta, boa questão essa. É algo que minha família sempre destacou em mim, sabe. Meu foco, minha cabeça fria para tomar decisões em momentos complicados – seja na vida pessoal, seja em uma quadra de basquete. Talvez por tudo o que passamos em família eu seja assim, forte. Sou jovem, mas sei que meu time já dependia de mim. E eu precisava corresponder. Tínhamos o objetivo de chegar aos playoffs, e eu só iria sossegar se conseguíssemos. Quando vi que estava à vontade com o sistema tático e que minhas companheiras já confiavam em mim consegui elevar o nível do meu jogo e atuar com ainda mais confiança. E conseguimos jogar a pós-temporada pela primeira vez na história do Chicago Sky. É uma questão de força mental e de se adaptar o mais rápido possível às novas situações que o basquete te oferece. Quanto menos traumática é a transição Universidade-WNBA melhor será a sua carreira no circuito profissional. Por isso eu fiz de tudo para me adaptar de forma breve, sem tantos problemas.
BNC: E você foi convocada para jogar a Copa do Mundo desde ano, iniciando, assim, a sua carreira na seleção adulta dos Estados Unidos. Imagino que você deva estar no Rio de Janeiro, certo? O que você conhece do nosso basquete?
DELLE DONNE: É meu objetivo, claro. Um dos maiores objetivos da minha carreira certamente. Terei 26, 27 anos quando acontecerem os Jogos Olímpicos e nada melhor do que estrear em uma competição assim como no Rio de Janeiro, um lugar lindo, que todos falam bem. Não sei se existiria maneira melhor de conhecer a cidade, né. Para ser sincera conheço pouco do basquete brasileiro. Sei que vocês têm uma história, ganharam títulos e medalhas importantes, mas atualmente não conheço muito. A Érika de Souza joga na WNBA e está entre as melhores pivôs do mundo, sem dúvida alguma. Ela é titular do Atlanta Dream, nos deu um trabalho danado na temporada passada e é uma força incrível dentro do garrafão, uma jogadora fenomenal. Admiro a sua (dela) história e sua perseverança em quadra. É uma jogadora sensacional.
BNC: Você tem uma história de vida familiar muito bonita. Sua irmã, Lizzie, sofre de paralisia cerebral, é cega e surda, e você sempre fala com ela com um carinho incrível. Sua família parece muito unida em torno dela, inclusive (na foto está seu irmão, Gene). Participar dos eventos sociais da NBA (NBA Care) imagino que devam fazer com que você lembre dela…
DELLE DONNE: (Ela sorri e me interrompe) Elizabeth é o meu sexto sentido, minha razão de viver, minha luz mesmo. É uma espécie de anjo da guarda, uma irmã que amo demais. Através de uma comunicação não-verbal temos uma relação muito forte, e complementando sua pergunta anterior posso dizer que uma das razões de eu não ter saído do país é a Lizzie. Quando ficamos dois, três dias sem se ver já é um martírio, muito ruim. Imagina morar tão longe. Os eventos sociais da NBA são realmente muito lindos, e no que eu puder estou aqui para ajudar. Sempre que participo de ações assim eu me lembro do sorriso dela.
BNC: Por fim, uma pergunta que não poderia deixar de fazer. Desculpe lhe dizer isso, mas você é uma mulher muito, muito bonita…
DELLE DONNE: Obrigada pelas palavras.
BNC: Sim. Incomoda que as pessoas falem tanto da sua beleza quanto do que do seu basquete, que também é lindíssimo?
DELLE DONNE: Olha, sinceramente não. Se estão falando bem de mim, tudo bem. E chama a atenção para o nosso esporte, então é uma coisa bacana para todas nós. Precisamos de todos os torcedores que podemos ter para fazer a WNBA crescer. E estão me elogiando. Como vou ficar triste? É óbvio que quero ser conhecida como jogadora de basquete, uma atleta, mas não posso ficar chateada quando falam bem de mim. Sou mulher, né. Faz bem ouvir elogios…
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