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Bala na Cesta

A chance que o basquete brasileiro perdeu com 2 grandes eventos no país

Fábio Balassiano

15/10/2013 11h24

Para quem gosta de basquete, foram duas semanas sensacionais, sensacionais mesmo.

Em São Paulo (Barueri, na verdade), o excelente Olympiacos bateu o forte time do Pinheiros para conquistar a Copa Intercontinental. Quem foi viu dois bons jogos, os gregos atuando em um sistema tático diferente do que estamos acostumados em solo nacional e ótima organização por parte do clube (Pinheiros), Liga Nacional e FIBA Américas. Dentro das expectativas, o evento terminou com saldo positivo tanto em quadra (muita gente esperava uma surra grega, o que decididamente acabou não acontecendo) quanto em operação (só como exemplo: o piso, aquele doado pelo Ministério do Esporte, tão bom, foi parar na partida da NBA na semana seguinte).

A semana que terminou há 48 horas teve uma aula da NBA. Como vocês leram aqui mais cedo, as lições sobre envolvimento da "comunidade local" são imensas e merecem ser levadas em consideração pelo basquete brasileiro. Para ser justo, o Pinheiros visitou inúmeras escolas de Baureri antes dos duelos contra o Olympiacos, mas o que se viu no Rio de Janeiro foi uma overdose (positiva) de exposição de atletas, treinadores, ex-jogadores e dirigentes. Até quem não gosta de basquete sabia que eles estavam aqui ("Quem eram aqueles gigantes no Cristo Redentor?").

Era para estarmos comemorando e contando os dias para o começo do NBB (que, diga-se, novamente inicia suas atividades tarde demais – Espanha e Argentina já assistem partidas das ligas locais) e da NBA, refletindo sobre as lições que tivemos sobre basquete, logística, organização e entretenimento. Este deveria ser o mundo normal, o natural, o básico de uma modalidade que parou no tempo há anos e que precisa achar o rumo se realmente quiser voltar a ser grande. Poderia (deveria?) ser o ponto de partida para uma grande retomada, uma grande virada no basquete (caramba, houve um Mundial e NBA aqui em menos de 15 dias!).

Mas como nada é fácil no basquete brasileiro, a olho nu qual o saldo que fica: a discussão sobre dispensas na seleção brasileira masculina (não riam, é sério). Vejam vocês que absurdo: hoje, 15 de outubro de 2013, o basquete brasileiro discute os motivos da saída de Oscar em 1983 (sim, senhores, de uma competição de 30 anos atrás!!!!) e os campeonatos que Nenê tem/teria que participar. É surreal, retrógrado, mas é o que está realmente acontecendo.

Talvez quem tenha razão mesmo é quem pouco nos conhece. Em sua coletiva, quando perguntado sobre a queda de rendimento do Brasil em competições internacionais, o genial Scottie Pippen, bicampeão olímpico com os Estados Unidos (1992 e 1996), disse que não sabia muito sobre o nosso basquete, mas não hesitou em responder: "Olha, eu sinceramente não sei o que aconteceu com vocês, mas o mundo todo evoluiu. Em organização, em atletas, em ligas, em tudo. A pergunta que agora eu me faço é: o que aconteceu então com vocês?".

Lembrar do passado é uma obrigação (vocês sabem o quanto bato nesta tecla por aqui, principalmente quando o assunto é reverenciar os ídolos), é importante para aprender com o que já aconteceu para evitar erros repetidos, mas o basquete brasileiro precisa olhar pra frente, olhar no horizonte e verificar que, sim, há vida por aqui mesmo com duas décadas de desmandos e administrações tenebrosas na Confederação Brasileira (não sei se outro esporte conseguiria se manter de pé com 20 anos de limbo, de verdade). Em Barueri foram 7 mil pessoas em dois jogos. No Rio de Janeiro, 14 mil. E muita gente que não via jogos há anos voltando a assistir e a falar de basquete.

Que tal o basquete arregaçar as mangas e começar a trabalhar de forma organizada, planejada e séria, de modo a criar a sua própria agenda positiva, com foco no que realmente ajudaria o esporte a crescer? Garanto que o resultado seria bem melhor do que este de agora, quando depois de 2 semanas de grandes eventos no país todos só falam sobre dispensas, (argh) patriotismo e "os NBA's".

Que tal, então, a Confederação, nave mãe do basquete nacional, dar o exemplo e, ela, começar a pelo menos tentar a mudar o panorama sombrio em que se encontra a modalidade? Para modificar o rumo das coisas só há um remédio: trabalhar, trabalhar e trabalhar – em todas as esferas (técnica, tática, popularização, comunicação, relacionamento com atletas, marketing etc.). Não é fácil, sabemos disso, cansa, é pesado, mas dá resultado – dentro e fora de quadra.

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