Sobre Rubén Magnano - CBB deve mantê-lo, cobrá-lo e direcioná-lo
(Preâmbulo obrigatório: Rubén Pablo Magnano é um grande treinador. Ninguém é campeão olímpico e vice-campeão mundial por sorte. Dos técnicos que vi na seleção brasileira, é o melhor com sobras. Em três anos de trabalho deu padrão defensivo invejável ao time e um pouco mais de organização ao ataque. Entende muito de basquete e é um obcecado por desenvolvimento de equipes e atletas. Mas não é infalível. Quando o criticar, estimado leitor, por favor não confunda com um "quero esse argentino fora dali agora".)
Um dos grandes responsáveis pela eliminação do Brasil na Copa América da Venezuela atende pelo nome de Rubén Magnano. Como comandante, ele foi muito mal em todos os sentidos, e me chocou um pouco ler declarações dele depois da derrota pra Jamaica citando jogadores que deveriam estar lá (não é assim que se faz, cara!). Dá pra analisar sua performance por três vertentes – a técnica, a de liderança e a metodológica. Vamos lá.
Em termos técnicos, Rubén Magnano foi mal convocando, treinando e dirigindo a seleção. Não levou os melhores para uma competição que (ele sabia desde muito tempo) teria desfalques seríssimos, trouxe um grupo absurdamente desbalanceado (sem um ala físico pra marcar fora do garrafão, sem pivôs rápidos pra seguir o ritmo dos armadores e sem um chutador confiável de fora), optou por uma formação baixinha que tinha problemas graves pra defender e mexeu mal demais durante as partidas (algo que já havia acontecido nos Jogos Olímpicos de Londres – tempos seguidos contra a Rússia e Anderson Varejão no banco naquele segundo tempo contra a Argentina, lembram?). Por isso tudo é inadmissível que Murilo, Gui Deodato, Leo Meindl, Lucas Mariano, Gruber, Cipolini, Fúlvio, Rafael Mineiro, entre outros, tenham visto a Copa América de casa em detrimento de alguns que lá estiveram. Ao contrário da seleção feminina, cujo foco é a renovação completa e absoluta, a masculina não tinha este viés. O objetivo sempre foi a vaga – e não a remontagem de um elenco que todos já sabemos estar praticamente desenhado até o Rio-2016. Mandou mal, planejou mal, se preparou mal. Não tem segredo no esporte. Plantou mal, colheu mal.
Em termos de liderança, Magnano foi ainda pior (o que foi chocante pra mim, que não tinha esta imagem dele, sinceramente). Citou em todas as entrevistas os jogadores que não foram, se lamentando e até culpando os caras (vejam que absurdo, ontem Anderson Varejão, que teve uma embolia pulmonar recentemente, foi obrigado a usar sua conta no Twitter pra se explicar – é o fim dos tempos, não?), desmerecendo e diminuindo quem estava em Caracas para lutar pela vaga. O resultado foi um grupo cabisbaixo em Caracas, sem saber o que fazer e sem confiança alguma em quadra. Pra completar o quadro de falta de tato absoluto a pá de cal do argentino veio depois da eliminação, quando ele disse que era o responsável maior, mas os que se ausentaram também eram culpados. Quando o bicho pegou, o cara simplesmente jogou a batata-quente do mico histórico pros outros (aula prática do que um comandante NÃO deve fazer, parte 1). Caro Rubén, TODOS os times estavam desfalcados (Horford, Manu, Nocioni, Osimani, Jayson Granger etc.). E nesta Copa América de nível técnico diminuto era OBRIGAÇÃO do Brasil se classificar caso tivesse sido bem convocado, bem treinado e principalmente bem liderado dentro de quadra – algo que não foi.
Por fim, vocês sabem que sou um crítico feroz dos métodos de Magnano. É um general, quer mandar em tudo, convoca jogador que todo mundo sabe estar lesionado (havia necessidade de chamar Leandrinho e Varejão, ambos sabidamente sem condição física, apenas para vê-los pedindo dispensa?) e com ele não se pode fazer nada. Chega a ser ridículo que um técnico de seleção adulta trate jogadores profissionais de forma tão infantilóide, tão rasa, tão bebê assim (a psicologia explica bem isso, um amigo me disse…). Repito o que digo há três longos anos: não se ganha ou perde assim. Ganha-se ou perde-se jogando basquete, só isso e nada mais. E a seleção brasileira, recheada de não me toques, perdeu a Copa América simplesmente porque não jogou basquete – e não porque faltaram regras (pelo contrário, havia quase 498 regras de Rubén pelos cantos da concentração brasileira). Ninguém aqui é maluco de pedir pra virar uma zona completa, mas fechar treino, proibir torcida, impedir microfone nos tempos técnicos, barrar ex-jogador de treino, brecar mesa-redonda pra uma emissora de TV e outras manias alucinadas é inofensivo e não transforma a concentração em uma farra. Rubén, meu caro, o basquete precisa aparecer, o Brasil precisa conhecer os jogadores, o povo precisa saber que Oscar e Marcel não jogam mais.
Mas (e este é o ponto principal) para que isso tudo mude alguém precisa explicar a Magnano que ele errou muito nesta temporada – e que seus erros, principalmente os metodológicos, têm se acumulado há três anos. A grande questão é: quem da Confederação Brasileira tem moral, força e o respeito de Rubén para puxá-lo em um canto e mostrar que nem tudo que ele faz é certo, embora o cordobês ache, obviamente e por conta de seu passado vitorioso, que sim, que ele está certo? O Brasil estava há 457 anos sem ir aos Jogos Olímpicos, trouxe o cara, voltou às Olimpíadas, mas alguém lá da Avenida Rio Branco precisa apontar o dedo em algumas feridas. Nem Michael Jordan acertava todas – e por isso ele precisava de alguém para comandá-lo também. Há, portanto, uma hierarquia que deve ser respeitada. Acima de Magnano há um diretor técnico. Acima deste, o presidente (que é omisso, mas é o presidente). E acima deles todos, o basquete brasileiro (que não é pouca coisa).
E o que isso tudo quer dizer? Que a Confederação deve demitir o argentino? Não, não é isso (bem longe disso). Rubén Magnano tem contrato até os Jogos Olímpicos de 2016 e deve terminar seu ciclo de trabalho na seleção masculina adulta (eu sinceramente acho uma sandice trocá-lo agora). Seu trabalho é bom, a evolução do Brasil como time nos últimos três anos é nítida e não há ninguém com seu quilate disponível para que se possa pensar em uma troca sem sair perdendo. O momento, porém, clama por uma arejada nas ideias, uma abertura, um diálogo maior entre ele, Rubén, um ser fechado (pode ler "chato" que tá valendo também), e Confederação, jogadores, dirigentes, torcedores, ex-jogadores e até imprensa.
Repito pra não deixar qualquer dúvida: Rubén Magnano deve ser mantido como técnico da seleção masculina adulta. Mas a CBB precisa chamá-lo para uma conversa e cobrá-lo, guiá-lo, direcioná-lo. Há regras no jogo (ou deveria haver), e Magnano não é o dono da seleção brasileira pra ser o chefe do tabuleiro. Rubén é apenas (e isso já é coisa pra caramba) o técnico mais importante do país – e deve se portar como tal. Como alguém responsável pelos aspectos de quadra, de convocação e de comando durante os jogos. Os demais aspectos não são com ele.
O problema é alguém da CBB fazer "os demais aspectos" direitinho, mas isso, obviamente, são outros quinhentos. Que Magnano foque cada vez mais seus esforços pros aspectos esportivos. Definições sobre entrevistas, entradas em treinos e até mesmo ações de marketing dos clubes (o Flamengo reclamou, lembram?) não são de sua alçada.
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