Depois do vexame na Copa América, a hora da reflexão pro basquete brasileiro - tem solução?
Passaram algumas horas, e obviamente o gosto amargo de ver uma seleção brasileira perdendo da Jamaica não passa assim tão rápido. Mas "só" lamentar ou apontar culpados neste (específico) fracasso de dimensões planetárias adianta muito pouco. O que o basquete brasileiro deve fazer, em todas as suas esferas, é olhar pra dentro de si pra tentar entender o que está acontecendo – e não é de agora, mas sim de 20, 30 anos pra cá.
E olhar pra dentro de si não é discutir se jogador da NBA deveria vir ou não, mas sim algo muito, muito, muito maior. Reduzir o estado em que se encontra o basquete atualmente a "este cara é patriota" ou "o cidadão ali é merecenário" é simplista, míope e não ajuda em nada a entender exatamente os motivos que levaram a modalidade a se atolar tanto em uma lama suja, profunda e difícil de limpar.
Quem acompanha este espaço sabe que gasto boas doses de teclado com críticas fortes ao tenebroso comando da Confederação Brasileira de Basketball, certamente o principal (mas não o único) responsável pelo estado de putrefação, pelo cheiro de lixo podre em que se encontra a modalidade atualmente (e faço isso praticamente sozinho, algo que me dói muito também, pois é uma guerra que travo na imprensa diária e solitariamente, infelizmente). Os defensores desta gestão pífia estão por aqui hoje pra defender, como fazem há 4 anos, o indefensável nunes e sua trupe? Caso sim, sugiro aparecer.
É sempre bom lembrar: a entidade máxima do esporte que a gente tanto ama é um castelo de cartas (ou notas, muitas notas) erguido com dinheiro público (muito, pessoal, é muita grana – mais de R$ 50 milhões nos últimos dois anos), que conta com a chancela do Ministério do Esporte (só pra 2013 foram mais de R$ 14 milhões investidos na modalidade) e que mesmo assim há três anos apresenta dívidas seríssimas e condução financeira medíocre (em 31/12/2012 o prejuízo nos caixas era de mais de R$ 8,8 milhões). A dita administração de carlos nunes, aprovada com louvor por quase todos os presidentes de Federação na eleição passada e cujo custo operacional chega a espantosos R$ 12 milhões anuais (sim, a CBB tem custo operacional de R$ 1milhão/mês), é uma farsa, uma mentira, uma história que nem boi consegue dormir mais com ela (e me admira que boa parte da imprensa ainda caia nas palavras que profere o gaúcho, que nem esteve na Venezuela pra acompanhar a seleção).
Com o lado financeiro sangrando, esperava-se que alguma coisa estivesse sendo feita pelo esporte em termos de investimento a longo prazo. No entanto, os famosos resultados esportivos, algo que tanto se gaba o presidente carlos nunes, também são uma farsa, uma mentira que alguns ainda aceitam (que alguns inacreditavelmente ainda aceitam). A verdade é uma só: o Brasil é um zero a esquerda no basquete masculino mundial há mais de 20 anos, e o feminino se sustentou até 2004 sabe-se lá como (na verdade por Paula, Hortência e Janeth, além de milagre e pelo trabalho hercúleo dos que ainda tentavam acreditar que a Confederação investiria nas meninas – aham, sei…).
A parte técnica, que sucateia o trabalho de base dia após dia (vejam os trabalhos de formação pelo Brasil e terão noção de quão atrasado o país está), é tão ridiculamente administrada que nem mesmo um campeão olímpico consegue ser bem aproveitado no decrépito basquete brasileiro. Não adianta contratar Rubén Magnano, se quem deveria comandá-lo não tem a menor habilidade ou capacidade de dialogar, discordar, trocar ideia com o argentino. Só bater palma ou dizer "pô, o Rubén sabe tudo, meu" antes de soltar a gargalhada da hiena não adianta de nada, todo mundo menos o pessoal da CBB sabe.
Deixo aqui um questionamento importante a Federações, que elegeram carlos nunes agora e grego há alguns anos, atletas, clubes, dirigentes e técnicos: estão satisfeitos com os rumos da modalidade, estão felizes em ver o Brasil apanhando de Jamaica, Uruguai, Canadá e Porto Rico? Caso não, o que irão fazer pra mudar? Provavelmente nada.
Voltando a Confederação Brasileira de Basketball. Enquanto for administrada por pessoas de capacidade minúscula, pessoas com capacidade gerencial minúscula, pessoas com ideias infantilóides (censura, esconder balanço financeiro, mídias sociais toscas, marketing inexistente, cultura de basquete ridícula e nenhum pensamento na formação de atletas), o basquete não sairá do fundo do poço. Citem os nomes diminutos que vocês quiserem aqui (carlos nunes, mariçair, paulinho, vanderlei, andre alves, luiz carlos, bruna, edio…), falem o que faltou ser falado por este escriba, mas vamos parar na mesma central questão. O problema do basquete é um só: gestão, gestão e gestão (mas se preferirem podem trocar por seriedade, seriedade e seriedade).
O basquete quer mesmo voltar a ser grande? O basquete quer mesmo voltar a ser encarado como um esporte popular? O basquete quer mesmo ser visto como um esporte sério? O basquete tem pessoas capazes de recolocá-lo nos trilhos? Caso sim, o debate entre todas as esferas (Confederação, Federações, Clubes, Técnicos e Jogadores) deve começar a partir de agora, a partir deste triste 4 de setembro de 2013, o dia post-mortem do basquete brasileiro diante da fraquíssima Jamaica em Caracas (e podem ter certeza que nesta quarta-feira todos que amam o basquete saem perdendo – de jogadores, passando por imprensa, culminando com treinadores e dirigentes, e isso não é bom, obviamente).
Meu único receio é que para cada uma das perguntas que fiz acima a resposta seja uma só: "Não, o basquete se acostumou com o estado de mediocridade em que se encontra e não quer sair dele". Ou alguém, em sã consciência, se atreve a dizer que a modalidade está, sim, disposta a sair do buraco (não com um "aham, está", mas sim com alguma atitude diferenciada nos últimos anos – talvez a exceção que confirme a regra seja a Liga Nacional de Basquete, enrolada em alguns momentos, mas bem intencionada quase sempre, é bom dizer)?
Como digo há alguns anos: o grande problema do basquete brasileiro é que o poço, com o passar dos acontecimentos, é sempre mais fundo do que a gente imagina (talvez nenhuma outra modalidade represente tanto atualmente o que é o país na mão destes políticos horríveis). Quando a gente acha que já viu tudo, a situação se deteriora, piora, se torna mais suja, ganha contornos de crueldade e de inversão de valores. Repetindo a pergunta de sempre: se faz tudo igual, com as mesmas ideias retrógradas, se age igual, com o mesmo podre planejamento, e se é dirigido basicamente pelas mesmas mentes há quase duas décadas, como o basquete espera ter resultados práticos (financeiros, técnicos, de popularização e administrativos) diferentes?
Quando se faz tudo igual, estimados leitores, não se pode esperar nada de diferente. E com esta galerinha na cbb (aqui o organograma), a certeza que tenho é: desta draga o basquete não sai tão cedo. No mínimo até 2017, quando acaba o segundo mandato de carlos nunes. Até lá, ele, eleito este ano quase que por unanimidade (21 dos 27 votos, é sempre bom lembrar), continuará dando as cartas no combalido, falido, triste e morto basquete brasileiro. Talvez daqui a quatro anos, com alguém que venha a renovar não só a política da casa, mas principalmente arejar as ideias, ajustar as contas, rever dogmas que parecem inquebráveis o basquete possa sair da tumba, possa renascer (quem será o Messias?).
Agora, dia 4 de setembro, isso me parece impossível de ser pensado – ou repensado. Com nunes e seus coleguinhas minúsculos (minúsculos em termos de ideias, de capacidade administrativa, de sabedoria pra reverter a situação mesmo) no comando da não menos diminuta cbb a certeza é: o basquete NÃO vai mudar (pior: por eles, o basquete não precisa mudar porque está tudo bem, está tudo ótimo). E esta é a maneira triste como um texto post-mortem deve acabar.
Com estes caras, o basquete brasileiro NÃO vai mudar.
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