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Bala na Cesta

Na derrota do Brasil pra Argentina, motivos de preocupação pra Copa América

Fábio Balassiano

25/08/2013 01h44

Confesso não gostar muito de fazer análises em cima de amistosos. Mas diante do que vi no de ontem, válido pelo Tuto Marchand, me parece impossível. O Brasil perdeu da Argentina na maior derrota da Era Magnano por inapeláveis 90-70 (a diferença chegou a 26 no meio do terceiro período) caindo em velhos, velhos, muito velhos truques dos hermanos. E é justamente isso que assusta – cair em truques tão velhos como simples. Vamos lá:

1) Foram 23 pontos e 11 rebotes de Luis Scola. Com o perdão da piada, ontem foi sábado, mas o Brasil levou outra aula do Scola. Quanto a isso, amigos, eu sinceramente não sei mais o que pensar. Parece absurdamente impossível que, contra uma camisa brasileira, o ala-pivô platense jogue mal.

2) Não vi os treinos, mas a opção de Magnano (foto à direita) em jogar com dois armadores parece que trará problemas seríssimos para a seleção na Copa América. Sem alas altos pra rotação (apenas Arthur), a marcação no perímetro tem sido falha, quase sempre atrasada. Ontem os hermanos acertaram 8/17 de fora e puniram os brasileiros. A convocação foi feita, mas nomes como Gui Deodato, Leo Meindl e até mesmo Gruber são pensados quando vemos alas baixinhos marcando e correndo como loucos atrás do Marcos Mata.

3) Acho Marcelinho Huertas (foto à esquerda) um craque de bola, já cansei de escrever isso aqui no blog, mas alguém precisa avisar a ele que os hermanos conseguiram entrar em sua cabeça de uma maneira inacreditável. Diante da Argentina Huertas não joga como ele ou Magnano querem, mas exatamente do jeito que os rivais pedem. Será que ele não percebeu que, já sabendo do pavio curto, os braços e pernas dos adversários acabam sempre sobrando, de modo a deixá-lo ainda mais nervoso? Quase sempre irritadiço, o armador do Barcelona passa a não jogar com a cabeça, se individualiza e deixa de envolver seus companheiros. Foi assim no Mundial de 2010, foi assim na Olimpíada de 2012, foi assim no Super 4 de Anápolis, foi assim neste sábado em Porto Rico. A seleção brasileira está desfalcada, precisa que ele também pontue, mas na hora que o camisa 9 perceber que ele está atuando sempre do jeito que Julio Lamas quer as coisas podem melhorar pro Brasil. Ontem, em um determinado momento do jogo, quando ele partia sem pensar em nada em direção a cesta, eu só me lembrava de Pablo Prigioni, que disse após o Mundial da Turquia: "É isso mesmo o que queremos dele (Huertas). Ele pode fazer 30, 40, mas não pode alimentar os outros brasileiros pois não temos como marcá-los".

4) O que está havendo com o sistema ofensivo da seleção? Muito parado, acaba baseando suas ações apenas nas jogadas de pick com Marcelinho Huertas e se torna previsível demais. Como a bola fica muito tempo na mão do armador, os rivais sabem exatamente o que devem fazer pra tirar proveito do errático sistema ofensivo brasileiro. E como não há craques pra pontuar quando nada parece dar certo, o buraco parece bem mais difícil de ser resolvido aqui.

Acho, e insisto nisso, que a vaga virá na Copa América (os quatro primeiros se classificam ao Mundial de 2014), e é sempre bom lembrar que o time de Magnano está desfalcado praticamente do quinteto titular (Leandrinho, Marquinhos, Varejão e Splitter  – além de Nenê, Lucas Bebê e Faverani). Mas como bem disse o amigo Fábio Aleixo ontem, com ou sem estrelas a Argentina tem um estilo de jogo, uma forma de atuar, uma forma de pensar e jogar basquete (quando Manu, Scola, Prigioni e Nocioni jogam juntos há mais talento, obviamente, e os resultados tendem a ser melhores).

Muita gente, aqui no Brasil, acreditava que com a saída de cena da geração dourada (que ainda não saiu, é bom lembrar) a seleção brasileira passaria a dominar o continente com facilidade. Ontem o que se viu é que os hermanos seguirão muito fortes por muito tempo (os caras são bons demais, temos que admitir isso). Se não pra ganhar uma medalha olímpica sem Ginóbili e companhia, ao menos a aplicação tática está lá pra vencer um time que ainda não conseguiu achar a sua maneira de atuar como equipe – o Brasil.

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