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Bala na Cesta

Com 2-2 na série, Gregg Popovich poderia copiar Phil Jackson e Frank Vogel para o jogo 5

Fábio Balassiano

15/06/2013 08h49

Em seu livro "Last Season", em que conta detalhes sobre a turbulenta temporada 2003-2004 do Los Angeles Lakers, Phil Jackson (foto à esquerda) fala sobre como era enfrentar Don Nelson, técnico que fez escola em Dallas e Golden State com um plano de jogo que valorizava os contra-ataques e as formações sem dois pivôs fixos o tempo todo: "Em todos os anos que enfrentei Don Nelson ele sempre tentou colocar um duelo (mismatch) com os jogadores baixos dele para enfrentar meus times quase sempre altos. Sempre se tem a ideia de que, quando um treinador faz isso, ou seja, retira seus pivôs para jogar com rapazes mais baixinhos, o certo é que você, técnico adversário, também faça o mesmo – e eu vejo muitos caindo na estratégia de Don. Não é raro você ver times atuando contra ele só com alas e armadores – e nenhum pivô.

Quase sempre resisti a isso, e tem dado resultado. Tenho mostrado a ele que vou manter meu estilo de jogo e que meus gigantes vão maltratar o estilo dele. O resultado é que os times de Nelson quase sempre fracassam contra os meus. O grande erro é você mudar completamente seu estilo para se igualar a algo que o cara do outro lado faz. Isso eu nunca fiz. Houve uma vez, em 1994, quando era técnico do Chicago e ele estava em sua primeira passagem pelo Warriors, que um armador dele (Keith Jennings) de 1,80m esteva marcando Scottie Pippen (2,06m) por quase 20 minutos. No final, ganhamos com uma exibição incrível de Scottie, que maltratou Jennings no low-post (perto da cesta) com jogadas de costas que acentuavam ainda mais essa diferença de altura. No final, me perguntaram o que tinha achado do matchup, e eu disse: 'Adorei. Podem fazer sempre isso que Pip será MVP da temporada' (observação minha: o jogo que Phil Jackson se refere aconteceu em 4 de fevereiro de 1994, em Oakland, Jennings jogou 18 minutos e de fato Pippen acabou com o cara, tendo feito 30 pontos e dado a vitória ao Chicago por 101-99)", conta o treinador, que teve 15-5 quando Nelson esteve com os Mavs e uma série de 12 vitórias seguidas quando o técnico esteve com os Warriors.

Além de Phil Jackson, quem também "puniu" muito bem o Small-Ball foi Frank Vogel (foto à direita), técnico do Indiana Pacers. Na série final do Leste contra o Heat, Vogel fez questão de deixar a sua dupla de pivôs (David West e Roy Hibbert) junta em quadra a maior parte do tempo para castigar as formações mais baixas do Miami. Deu muito, muito certo e por pouco os Pacers não avançam às finais da NBA.

Hibbert maltratou Bosh, Haslem e Andersen, West brilhou como se ainda jogasse com os picks de Chris Paul e o Indiana mostrou que nem sempre é necessário jogar "baixinho" para enfrentar um time sem pivôs. O time dominou o garrafão, fez muitos pontos por lá e foi soberano também nos rebotes. Se a diferença técnica era grande, a estatura talvez tenha levado um confronto que tinha tudo para não ser tão caótico para os atuais campeões a sete jogos de tirar o fôlego.

Toda essa introdução é pra falar um pouco sobre o jogo 5 da final da NBA que acontece amanhã no Texas. Tal qual ensinou Phil Jackson nos duelos contra Don Nelson e Frank Vogel na final do Leste, nem sempre é necessário aderir ao plano de jogo do adversário. Na quinta-feira, Gregg Popovich (foto à esquerda com cara raivosa – pra variar) mordeu a isca lançada por Erik Spoelstra, que colocou Mike Miller no quinteto titular, e sacou o pivô Tiago Splitter para colocar o armador Gary Neal com menos de um minuto de jogo.

O resultado foi que não só na defesa o San Antonio foi um fiasco pelas razões que expliquei aqui ontem (LeBron James e Dwyane Wade tiveram espaço pra infiltrar, liberdade para chutar de longe e nenhuma cobertura do único pivô do Spurs por perto), mas também que o ataque não conseguia castigar a opção do Miami por jogar só com baixinhos. Foi um ajuste de Spo que deu certo, muito certo, e algo deverá ser feito por Popovich para amanhã.

Não sei se necessariamente passa por jogar com Tiago Splitter a maior parte do tempo (o brasileiro não está bem nas finais, decididamente). Talvez colocar alguém mais móvel como Boris Diaw por mais tempo (o francês, por sua vez, cansa mais rápido devido a seu físico não muito animador) seja uma solução. Arriscar mais tempo com jogadas de isolação ou high-low de Tim Duncan para Splitter ou vice-versa, também. Ficar do jeito que esteve na quinta-feira, ou seja, aceitando uma estratégia (brilhante, diga-se de passagem) de Spoelstra é que acho que não vale a pena para o San Antonio Spurs. A sua defesa contra o Heat, a que vinha dando certo pra caramba, era aquela que pedir para o Miami chutar sem parar e fechava o garrafão para as infiltrações – e não fazia sentido algum mudar, abrir espaço para os caras da Flórida brilharem da maneira que mais gostam e sabem (perto da cesta e sem chance de ajuda defensiva).

Que Popovich lembre de Phil Jackson, que sempre mantinha Shaquille O'Neal e outro ala de força para enfrentar a correria de Don Nelson, e de Frank Vogel, que fez o mundo acreditar que Hibbert era um cracaço quando o jovem pivô maltratava a baixa defesa do Miami com seus ganchos e enterradas ferozes. Não sei se é A solução para vencer o jogo 5, mas creio que está óbvio que aceitar o small-ball do Miami não é lá muito recomendável.

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