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Bala na Cesta

Após derrota do Miami, o clichê de sempre: LeBron James amarelou - amarelou mesmo?

Fábio Balassiano

12/06/2013 11h00

É o Miami Heat perder qualquer jogo de basquete para começar a pipocar nas redes sociais: 'LeBron James amarelou' (ou alguma variação menos educada e/ou mais criativa que isso). E isso aconteceu ontem, obviamente, quando o Miami levou 36 pontos em uma surra incrível aplicada pelo San Antonio Spurs (a terceira maior das finais da NBA, diga-se de passagem).

LeBron jogou mal demais, ninguém é maluco de dizer o contrário. Errou 14 de seus 21 arremessos, praticamente aceitou a marcação que Popovich o apresentou (Splitter, Green, Duncan e Leonard vigiaram o MVP nos 39 minutos em que esteve em quadra), baseou seu jogo apenas em arremessos longos (algo que decididamente o Spurs tem o forçado desde o começo da série – e seu aproveitamento em chutes de fora do garrafão tem sido de 23,8% na série, menos que os 35% dos três rounds anteriores e os 36,5% da temporada regular), foi pouco agressivo (pela primeira vez desde que chegou a South Beach não cobrou NENHUM lance-livre) e nem na defesa conseguiu deter seus rivais. Ele jogou mal, é um fato, insisto. No final da partida, LBJ mesmo admitiu que está em fase não muito boa nas finais, onde tem 16,3 pontos e 38,8% de aproveitamento nos chutes: "Posso jogar mais, tenho certeza disso. Ofensiva e defensivamente eu posso render mais. Não estou culpando ninguém. É tudo comigo mesmo. Isso é muito claro pra mim. Vou melhorar", afirmou com sinceridade.

Taticamente, o Spurs dá um banho muito grande na marcação ao rapaz – e é óbvio que o resultado final conta aqui também. A ideia de Gregg Popovich é fazer com que LeBron jogue o maior número das vezes em jogadas de isolação (um-contra-um), variando o defensor (às vezes mais baixo, às vezes mais alto, às vezes mais forte – Leonard, Green, Splitter, Duncan e até Manu foram tentar deter o cara na série) e dobrando quando tem que dobrar (o treinador do San Antonio prefere, com razão, dificultar as coisas para o MVP mesmo deixando os outros do Heat livres em alguns momentos). E nas ISO James, que teve aproveitamento de 38% nos arremessos e 1,02 pontos por posse neste tipo de jogada (foram 16,8% de suas ações nas três primeiras séries de playoff este ano), tem 28,6% (0-6 assim no jogo de ontem) e 0,57 pontos por jogada assim nas finais (22,2% de suas ações ofensivas têm vindo no mano-a-mano. Ou seja, os texanos meio que obrigam o ala do Miami a direcionar seu ataque assim, e ele não tem feito muita coisa pra mudar, não. Outro ponto interessante aos que pedem que ele infiltre mais no garrafão (algo que é bobagem total e absoluta, visto que a área pintada do Spurs está completamente fechada e cercada por até quatro homens em todos os momentos): nas finais do Leste, o camisa 6 foi em direção à cesta 10,3 vezes por jogo, com 53,8% de aproveitamento nos arremessos e 1,9 faltas sofridas no meio disso tudo. Nas finais da NBA, o número cai para 6,7 investidas, 30% nos chutes assim (0/4 ontem) e 0,7 faltas apitadas a seu favor neste tipo de jogada. Dá pra entender o tamanho do mérito do gênio Pop nisso tudo, não?

Que LeBron James está mal, é meio óbvio. Que ele precisa fazer ajustes em seu jogo para essa final, certamente o ponto mais difícil desta temporada em que o Miami atropelou quase todo mundo, é mais óbvio ainda. Uma boa saída pode ser chamar mais picks, mais bloqueios lá em cima do garrafão, a fim de tirar um pouco os grandões do San Antonio Spurs lá de dentro (LeBron não tem o costume de fazer isso porque geralmente, devido a sua descomunal força física, consegue bater seu adversário na corrida – com o famoso primeiro passo, first step, dele). Outra, deixar que Dwyane Wade comece as ações ofensivas e ele seja acionado apenas em um segundo momento, invertendo a ordem das jogadas ofensivas por alguns instantes para ver como será a reação da defesa do Spurs. Wade é habilidoso, e certamente poderia encontrar LeBron em uma posição menos marcada após um drible, após um corta-luz que mexesse com a defesa texana (os cuts – cortes em direção à cesta que dão muito certo com Wade em passe de LeBron poderiam dar igualmente certo invertendo os papéis dos atores). Algo precisa ser feito, e até o MVP já concordou com isso.

Daí a dizer que ele se esconde, que ele amarela ou coisas do gênero vai uma diferença e uma distância terrível – cruel até. LeBron ontem procurou o jogo o tempo todo – tanto procurou que foi o cara que mais arremessou bolas em seu time. O problema, pro Miami, claro, é que as bolas não caíram, oras. Tão simples quanto isso. Discuta a parte técnica, mas não a sua postura. Ninguém joga bem todas as noites (nem James, nem Jordan, nem Kobe, nem ninguém). Ele é um ser-humano, jogos assim aconteceram e vão acontecer muito em sua carreira e ninguém ganha jogo de basquete sozinho (ainda mais em final de NBA).

O que fico me perguntando é: LeBron joga sozinho no Miami Heat? Onde estavam principalmente Chris Bosh e Dwyane Wade, que formam o Big 3 com LeBron, para ajudá-lo em uma noite ruim da principal estrela da companhia? Mestres no caras-de-bocas e na animação da torcida na Flórida, Wade, o cara que foi sensacional no título da franquia em 2006 dominando a série final com menos de 25 anos na cara, e Bosh têm potencial para serem muito mais do que coadjuvantes de luxo em um time top da NBA – algo que parecem conformados em ser há três temporadas.

Ontem os dois preferiram manter suas médias (terminaram com 16 e 12 pontos, respectivamente) a tentar algo diferente para salvar um companheiro que estava mal. Na frieza final dos números, Wade + Bosh fecharam com 28 pontos e James, errático toda noite, com 15. Nem é tanta diferença assim. Quem sofreu com isso? O Miami, que levou uma surra daquelas.

Esqueçamos os clichês, por favor. LeBron James jogou mal e foi completamente anulado por Danny Green e Kawhi Leonard, algo que vem acontecendo na série inteira, aliás (por favor, só não peçam para LBJ jogar dentro do garrafão porque, se ainda não perceberam, ali está fechadinho…). Daí a dizer que ele se escondeu vai uma diferença imensa. Ele só não tem conseguido, contra uma defesa monstruosamente bem armada, fazer o que fez em toda a temporada – principalmente porque o nível é mais alto com os Spurs. Que Wade e Bosh o ajudem, que Erik Spoelstra lhe mostre os caminhos e principalmente que os zumbidos das redes sociais façam novos sons na quinta-feira.

LeBron não é santo (é marrento toda vida e tem comportamento que nem sempre agrada). LeBron é falível. LeBron não precisa de um post para defendê-lo. LeBron precisa, no final das contas, de novas críticas. Podem começar por trocar o adjetivo 'amarelão'.

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